quarta-feira, 25 de março de 2009

Ontem acordei chupando limão

por Cristiane Senn

Se lhe fosse ordenado que escolhesse uma característica que a identificasse, (obedeceria) era a de que prezava a ordem acima de todas as coisas.

Por isso deixava que tudo se bagunçasse durante meses, pra que pudesse ter o prazer (Freud, explicae!) de colocá-las no lugar. Guardava papéis, panfletos, embalagens, canetas vazias e tranqueiras mais para depois poder amassá-las, rasgá-las, decepá-las, esquartejá-las, fazer um snuff movie com elas e depois doar os órgãos pra usina de reciclagem clandestina mais próxima.

Assim, saboreava a liberdade e a satisfação de ver uma grande sacola de restos de memórias inúteis indo embora, ao mesmo tempo em que alimentava seus instintos sádicos e fingia que:

a) driblava a inércia
b) abria para si um pouco de espaço naquele mundo que aimeudeus como sufoca!

E assim ia-se indo e se adiando tarefas mais importantes que, sim, gostava de realizar, mas que tinha verdadeira ojeriza em INICIAR*.

* BUUUUUU...

domingo, 22 de março de 2009

Eu, outdoor.

Por Felipe Grilo

De frente para uma avenida, um homem em cima de uma escada e de cola em punho, ajeitou minhas folhas, me deu forma e aqui estou. Um outdoor de formato convencional, impressos em quatro cores e sem apliques, oito palavras em uma frase, uma foto de alguém, outra do produto e a marca de um anunciante. Antes de estar aqui não lembro como fui concebido, mas o mais comum é que publicitários desenhem e escrevam minhas mensagens dentro de um computador, para depois passarem tudo a uma impressora gigante, e então ao suporte metálico que pode estar em qualquer rua, avenida, estrada... tudo a depender das decisões que fizerem por mim.

Não sei até que ponto isso se parece com a gestação de uma pessoa, boa ou má, pela sua sociedade. Só sei que daqui de cima vejo um garoto pichando o muro com sua assinatura. Nós dois somos vândalos. Um com motivos para ser, outro sem. Custa saber qual é qual.

Não importa. Nasci (ou melhor, surgi) e tenho uma missão a cumprir até meu último dia de vida, que será daqui a 14 dias – uma bissemana, como dizem os publicitários: dizer estas oito palavras, mostrar estas imagens e o logotipo do anunciante ao maior número de pessoas possível. Em suma, vender uma idéia.

Daqui de cima vejo um daqueles pregadores de igreja que procuram salvar vidas com seus sermões. Vejo também índios tocadores de flautas e vendedores ambulantes. Todos eles possuem algo em comum comigo: passam a vida tentando vender as suas idéias a outras pessoas, que as ignoram como se fossem mendigos. A única diferença entre eles e eu é que não sabem quanto tempo têm de vida. Ah, se soubessem...

Para fazer meu trabalho com mais eficiência, é bom que eu seja assim: grande em proporções, berrante nas cores e simples nas idéias. Uma mensagem gritada, sem romance, sem diálogo e, não raramente, sem razão.

Quando chegar a noite você vai ver o mesmo que eu: uma prostituta encostada no poste. Ela se monta, se maqueia, se penteia e se exibe marginal e maravilhosamente... mas quando chega alguém o papo é curto: "você me dá 5, eu chupo seu pau."

Como é de dia, podemos ficar com vistas mais prosaicas (se é que um vocabulário assim cabe para um outdoor). Veja: malabaristas de farol, moças de concessionária, mendigos, punks de boutique, empresários e todas as outras pessoas procuram chamar atenção pelo que vestem, possuem, fazem, exibem... mas se chegar perto demais, mais intimamente, não possuem mais do que oito palavras para compartilhar.

Eu, outdoor, preciso disputar a atenção dos passantes em meio a diversos outros outdoors por aqui. Nós nos ignoramos: dizemos o que precisamos dizer, mas não conversamos sobre o que dizemos. Afinal, ninguém pode questionar que o MEU sabão lava mais branco que o dele, por mais irracional que seja a afirmação. Não é possível lavar cada vez mais branco.

Vejo muita gente de carne e osso, passando pela rua, que age da mesma forma falando ao celular.

Nunca achei nada disso muito triste, apesar de meus dias acabarem rápido. Tenho 14 dias para colocar a minha alma neste mundo. Uma promessa de felicidade que deve marcar eternamente a vida das pessoas... isto é, até eu serei trocado por uma propaganda de condomínio em construção. É verdade que alguns vão notar a mudança na paisagem, mas ninguém vai sentir a minha falta. Nem mesmo da promessa que eu fiz e parti sem cumprir. Estão acostumadas. Meu sucessor fará uma promessa ainda melhor.

É como aquele casalzinho lá embaixo. O garoto está prometendo à sua garota que nunca mais vai magoá-la, que é o amor de sua vida e que serão felizes para sempre. Mesmo depois do casamento. Daqui a uma bissemana eles terminam o namoro.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Entropia.

Por Sergio Faria.

Quem me conhece bem sabe que sou um pessoa diícil quando rola uma mágoa, uma decepção, uma sacanagem. Sabem que sou orgulhoso, ranzinza, intransigente e teimoso. Consigo perdoar mas não consigo esquecer. E guardo as lembranças dos vacilos com cuidado pra que em momentos de distração eu não esqueça do que me fizeram e assim não me deixar levar pelo coração e acabar voltando como um cachorrinho otário abanando o rabo. E hoje em dia tô bem pior pois tô mais velho e cada vez mais sem paciência. Já quem não me conhece direito acha que sou bem legal, bom sujeito, super do bem, um cara diferente, especial, o diabo a quatro. Ouço de tudo. Mas como sei bem o que sou (hoje bem mais), não dou a mínima quando me jogam confete. Deixo eles se iludirem, claro, desde que isso não interfira num relacionamento que possa vir a ser bacana, saudável. Os que me conhecem mesmo sabem que não sou santo e que nem pretendo ser tão cedo. E dependendo do meu momento, do meu estado de espírito, sigo cagando e andando pra todos e falo de meus podres abertamente, me expondo até pra pessoas estranhas. Transparência? Imaturidade? Autenticidade? Sinceramente não sei se isso é tão ridículo assim, se é bom ou se é ruim, mas acho que preciso definitivamente mudar meu jeito de ser, de tratar com as pessoas, de falar, de agir com elas. Por conta desse meu comportamento inconveniente, desse meu jeito falastrão, dessa minha ingenuidade fora de época, assumo sem o menor pudor que sou um péssimo professor de música. Sei muito bem que minha função é ajudar as pessoas a crescerem musicalmente, auxiliar no desenvolvimento em seus instrumentos, mas como não consigo ser um profissional sério o tempo todo porque sempre saio do foco entrando em “viagens” que quase sempre são pessoais, só me resta tentar conduzir minhas aulas de uma maneira mais descontraída pra eles, procurando lesar cada vez menos esse pessoal que na sua maioria são bem legais e tolerantes comigo. Sei também que brincar, falar merda e até mesmo dar uma de Patch Adams na minha rotina é a forma que encontrei de deixar meu cotidiano menos chato, de enxergar minha profissão menos inútil e de tornar meu dia menos doloroso, e isso é fundamental pra mim porque quando racionalizo e me vejo atuando, acho tudo um saco, uma ilusão, um porre, mas olhando com mais calma tenho que reconhecer que tudo tem um limite mesmo. Não que eu não goste do que faço. A música na verdade é o meu pretexto pra encontrar as pessoas, aprender com elas, fazer amizades. Mas tem outro problema: como não tô nem aí pra minha posição de professor, o meu jeito de olhar pra todos é igual. Desde o moleque de 9 anos que nem sabe direito onde mora até aquele idoso com duas pontes de safena que adora contar as aventuras da sua adolescência. Se em algum momento de minha vida todos eram pra mim culpados até prova em contrário, hoje tô mais aberto, receptivo e esperançoso de que vários deles deixem de ser somente alunos pra virem a fazer parte do meu círculo de amizades. Mas infelizmente nem todos conseguem enxergar isso ou mesmo ter o mínimo de sensibilidade pra sacar quando voce veste a camisa por eles. E é aí que mora outro grande problema. Como nunca tive a pretensão de me tornar um respeitado profissional nessa área, nem quero ser reconhecido pela minha didática, continuo largadão, sem ligar pro dinheiro nem pros minutos que ultrapassaram a hora da aula ,e assim acabo relaxando novamente , desleixando e me comportando como um professor de araque. Então esqueço das regras, dos limites, da ética, e lá vou eu querer fazer as pessoas rirem ou mesmo mudar o mundo. Como na semana passada que brinquei com uma aluna nova da turma de teoria citando o AA depois que ela deu seu “depoimento” falando que antes de se converter ouvia rock, samba e outros estilos profanos. E não é que na aula seguinte com meu irmão ela desabafou chorando que se sentiu muito mal e humilhada (!) com meu comentário e por causa disso até resolveu desitir do seu curso de teclado? Como assim? Será que vou ter que tratar todos os alunos como colegiais e medir minhas palavras pra não maltratar a ninguém? Não seria subestimar a inteligência de todos se eu agisse como a professorinha do 1ª série? É foda. Mas talvez pior que esse episódio tenha sido o daquela menina de 13 anos que ficou irritada comigo só porque sugeri um tom melhor pra uma música que ela tava estudando na aula de canto. Eu só queria que ela subisse o tom pra valorizar o timbre e dar brilho a sua voz que é bem bonita e afinada. Só que ela não entendeu nada e ficou putinha comigo. Levantou pra beber água enquanto eu procurava no violão um tom melhor pra ela. Depois quando fui pacientemente e de forma bem humorada explicar que o lance não era com ela e sim com a altura da música que tava meio fora do seu registro, ela foi grossa e me secou com um olhar que eu nunca tinha visto da parte dela. Isso tudo na frente do seu professor e ao lado da mãe omissa (retardada?) que não fez absolutamente nada Incrível! Eu já sabia que a pirralha era mimada mas nunca imaginei que ela pudesse ser tão mal educada assim e pior, fora da sua casa! Depois disso, parei e me perguntei: o que é que eu to fazendo aqui? Mesmo muito irritado, me controlei levantei e falei numa boa que ela poderia cantar a música que quisesse, no tom que quisesse, do jeito que quisesse. O clima ficou esquisito e eu fiquei com aquilo entalado na garganta. o resto do dia. Depois da aula o professor veio falar comigo. Disse que ela tinha errado mas eu também. Não deu pra gente aprofundar o assunto porque ele teve que ir embora mas provavelmente o meu erro ao qual ele se referiu era o de ter me metido na sua aula. Só pode. Certíssimo. Diante dessas pixotadas fiquei meio derrubado, muito injuriado e querendo radicalizar. Pedi conselhos a milha mulher pra eu melhorar meu jeito. As dicas que ela me deu não me ajudaram muito. Todas as coisas que ela me falou eu já tava careca de saber: que eu falo demais, que sou espalhafatoso, que gosto de complicar, blá blá blá... Fiquei numa sinuca de bico sem saber pra onde ir. Será que devo ser frio e concordar com um antigo professor de música que me falava que os alunos são somente números e devem ser tratados como gados? Não dá, não consigo. Mas se trato bem, levo trabalho pra casa, tiro música de madrugada e mando por email, dou conselhos e levanto o astral, faço música pro cara dar pra namorada, ajudo a fazer rescisão de contrato, dou cafezinho, formo casais, monto bandas, indico dentista, faço serviço de luhier de graça, baixo músicas na internet, tiro dúvidas fora da aula, distribuo currículo, dou carona e o escambau, mesmo assim muitos me abandonam, somem mesmo e não tem a menor consideração de pelo menos ligar pra avisar que não vem mais. Apesar de tudo isso, não consigo, não sei como mudar meu jeito. Então como canalizar minhas energias naquilo que felizmente ou infelizmente acabou virando minha vida, meu trabalho? Vou tentar, me esforçar ao máximo, tentar ser o tal profissional, o meio termo, o cara equilibrado, metódico até certo ponto mas com uma pitadinha de palhaçada porque senão a coisa fica maçante e pode ser que eu comece a ficar infeliz. E se isso acontecer com certeza aula não vai render. Vamos lá, tudo bem. Se eu conseguir começar minhas aulas na hora certa já vai ser um grande recomeço.

domingo, 15 de março de 2009

Watchmen

Semana passada,imbuído de uma dose alta de expectativa,fui assistir ao filme Watchmen.Para quem não conhece,o filme é baseado numa das Graphic novels mais polêmicas e cultuadas dos anos 80/90,escrita pelo brilhante Allan Moore.Nela,o artista desnuda de uma maneira nunca antes vista,o universo dos super-heróis.Confesso ter tido esse material nas minhas mãos quando criança,atraído pelo visual clássico dos personagens,porém abstrai pouca coisa da obra.Hoje,com uma visão mais critica,quis ver esses personagens criarem vida através do diretor Zack Snyder,apoiado por um elenco de quase-famosos que sustenta as quase três horas de película.Mas vamos ao filme em si.A história truncada,passada num cenário de guerra fria,trás à tona toda aquela tensão pré-apocalíptica de um possível conflito nuclear,que permeia todas as relações entre os personagens.A discussão de ética e moral se passa durante todo o tempo em que vemos os heróis atuando em cena.Cada um age de acordo com suas convicções morais do que seria um mundo melhor,mesmo que seja um mundo melhor para eles.Visualmente o filme é competente,e apesar de usar o velho clichê dos spandex coloridos,que são aqueles uniformes colantes tão clássicos,no filme eles acabam sendo úteis como parte da história.Cada detalhe é perfeitamente estudado,trazendo em sua personificação,muito do personagem.O filme homenageia a era de ouro dos quadrinhos,mas também possui um visual atual,ficando algo entre Matrix e X-men.Enfim,não vou ficar comentando mais,com receio de acabar entregando detalhes importantes da trama,porém o filme,na minha modesta opinião,é um dos mais interessantes lançados esse ano,mas que corre o risco de passar despercebido pelo grande público,ávido de clichês super-heróicos.Não que estes não aconteçam,mas ocorrem de uma maneira costurada à trama,ajudando a incrementar ainda mais a fabulosa história.Vale a pena assistir.

terça-feira, 10 de março de 2009

Será que eu ainda consigo escrever neste blog?

Por Vinícius Noronha.


Será que eu ainda consigo escrever neste blog? Será que virá alguma inspiração não planejada? Será que é suficiente que eu reserve parte do meu tempo pra escrever que as ideias sairão como vindas de lugar nenhum, e vão disfarçar eficientemente a falta de empenho em buscar algo pra escrever? Será que vou ser acometido por pausas súbitas que imploram por alguma sequência de palavras?

Será que isso é o bastante? Será que as coisas que só ganham sentido depois de realizadas já não estão natimortas? Será que eu tenho que desistir? Me aposentar? Comprar previamente uma cadeira de balanço e desinstalar o Word do meu computador para prevenir qualquer recaída?

Será que eu preciso de motivos? Será que a confissão de questionar as razões do post já não são aquilo que necessito pra continuar? Será que tudo isso vai me limitar? Será que eu faço tempestade em copo d´água, querendo que cada minúcia do meu texto tenha sua particular significação insubstituível? Será que tudo isso não passa de pretensão demais? Será que tudo isso é falta de pretensão?

Será que eu aprendo? Será que o leitor vai compreender? Será que essa cumplicidade ainda existe, mesmo que esporadicamente, mesmo que sem continuidade, mesmo que tudo que eu esteja escrevendo saia com a irresponsabilidade de quem pondera demais e acaba esvaziando o pensamento? Será que tudo isso não passa de um charlatanismo, de uma postura blasé mala, de um momento de tranqüila realização de algo impermanente e irrelevante?

Será essa a melhor saída: Escrever sem titubear, não reler, apagar qualquer esperança de que o texto saia coerente, impecável... E seja o que for? E que seja assim dessa vez e para sempre! Será mesmo?

O que me interessa é que, ao menos, consegui voltar a postar aqui.

sábado, 7 de março de 2009

A puberdade.

Faz falta ser criança, não é? A infância é uma época de nossas vidas que gostamos de revisitar na memória. Todo mundo tem boas coisas para contar e costuma sorrir, às vezes até se emocionar, daquela época em que somos bonitinhos, inocentes, criativos, inteligentes, falamos bobagem pra cacete e cometemos pequenas crueldades sem mágoas, rancores e recriminações, e nas horas vagas exercitamos "a aristocrática arte de não fazer absolutamente nada". Não é à toa que existem muitos autores, como Moacyr Scliar, por exemplo, que colocam na maioria das suas obras as cores e os sabores deliciosos de ser pai e de ser filho.

Mas sabe por que ninguém fala da puberdade com esse mesmo carinho? Porque é uma época escrota.

Veja só: a bonitisse e a fofura da infância gra-da-ti-va-men-te dão lugar a aspectos mutantes no corpo que fica, no mínimo, pouco estético. Mas não falo só do aspecto físico. Sabemos o quanto a divisão entre infância e adolescência leva a crises psicológicas, emocionais, sem ter idéia precisa de como agir. E sabemos o quanto essas crises dão margem a todo tipo de comportamento. Como cantar "eu sou rebelde", dizer no íntimo "meus pais são ri-dí-cu-los!" sempre que sofrer uma repressão qualquer, se achar dono da verdade por causa de um bigode, independente e com personalidade própria por causa de uns peitinhos, e mesmo assim não conseguir fazer nada sozinho ou responder por coisa alguma.

Na escola, de uma hora para outra, os professores se deparam com os pequenos marginais agora organizados em castas: pestes do fundão, esportistas folgados, jogadores de aviãozinho, meninas fúteis, garotos fedorentos, metaleiros anêmicos, skatistas vida loka, mini-rappers, desenhistas de carteiras, dorminhocos & entediados, isolados & emos, nerds (ou CDFs), entre outros. Eu me orgulhava de ser o nerd mais esquisito da escola: durante a aula me questionava o porquê das pessoas serem tão bizarras, no intervalo me juntava com um desenhista de carteira – amigo meu até hoje e que virou ilustrador - e atrasava a vida da professora com meus papos sobre OVNIs.

Mas a questão da sexualidade é, até hoje, a que rende mais observações. Para começar, meus colegas garotos, vendo malícia até em gente se espreguiçando, falavam sobre sexo com assertividade, mas não entendiam nada sobre aquilo. Exemplo é outro amigo meu que, dizendo-se desvirginado, conversando com a gente descobriu que não: aquela fenda no baixo púbis não era "exatamente" o órgão reprodutor feminino. Pelo menos eu lia o livro de biologia.

Já entre as meninas, a seção de cartas de algumas revistas dizem por si: "Eu queria saber algumas dicas sobre beijo! Como treinar em casa para dar o primeiro?" "minha amiga foi numa festa e ficou com meu mino na minha frente!" "meus pais não confiam em mim para namorar, mas eu já tenho 13 anos!", "eu gosto de um menino que diz que gosta de mim, mas ele diz isso pra todas as minhas amigas. Devo ficar com ele?". E assim por diante.

É também neste período que os garotos e garotas questionam sua opção sexual, o que leva a alguns disparates como "sair experimentando" por curiosidade, mesmo sem ter claro, em sua mente, o que está sentindo e o que quer sentir. Daí vira modismo ou esporte se dizer bi, lésbica ou gay, só porque é diferente do convencional, mas sem pensar no tamanho da responsabilidade e das conseqüências que é assumir sua preferência em uma sociedade discriminatória.

E no mundo virtual, como tudo é permitido e permissivo, a puberdade se libera em grau máximo de escrotidão: perfis de redes sociais e nicks do MSN multicoloridos, às vezes escritos em miguxês, falando das BFF (Best Friends Forever) e das inimigas vadias, ou das namoradas, dos amores eternos, das bandas e da MTV. Pela internet, como se fala tudo o que se pensa, não se mede esforços para dizer algo descabido, como "sua inveja faz meu ibope", "eu sou + eu", "não gosta de mim, entra na fila", ou então fazer coisas grotescas como entrar no provador de alguma loja, experimentar as roupas, tirar fotos e mandar pro flogão, ou tirar foto com ângulo de cima pra baixo, fazendo pose máscula, com copo de cerveja ou segurando uma nota de 50 reais,

Mas tudo bem. Isso passa. Ah, assume, vai: você já passou por tudo isso. E se não passou, não pense que é muito melhor que os outros. É melhor fazer besteira na idade certa do que deixar para fazer depois. E olha que faz, viu? Não diga que eu não avisei.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Por uma aula de semiótica menos medíocre


por Cristiane Senn


Sabe, podia ter ficado em casa (escrevendo inclusive), mas fui pra faculdade (que já é a segunda da minha vida, fator agravante da sensação de tédio) e não pude deixar de ouvir das piores aulas que já tive na vida, além de não me restar tempo de escrever algo decente. Por isso, resolvi transcrever aqui as anotações feitas pra não dormir e pra fazer valer a tinta da caneta preta faber fix ponta fina de R$ 0,50.


03.03.2009

- ele vai ficar explicando o que é teoria da comunicação daquele jeitinho mala de ser que a gente já conhece. pior professor de todos os tempos, nada pra fazer, que sono, vou ficar anotando as pérolas


- Lari, “em sociologia a teoria é mais importante do que a prática”?* Não.

PORRADA ENTÃO!


TEORIA - THEOROS – VER


- ÓTIMO MOMENTO para rever os estudos de teoria da comunicação de anos atrás, e aqueles esquemas de análise da imagem tipo martine joly, vilem flusser, etc. (por conta, né)


- “é importante que vocês saibam fazer MAPAS” - hã?

a Ana riu**, eu também.


- vale pela etimologia



- “se for sempre ortodoxo, será um bom trabalho? obviamente que não”

er, depende (daquilo em que você acredita. acho.)


- “bla bla bla BORDERLINE [...] o BBB é meio borderline [...] aquele filme LIMITE do Mário Peixoto fala exatamente sobre os usos do borderline”

ok, jesusamadinho


- impressionante a paciência das pessoas de participar e discutir de aulas como essas. olha. sinceramente.


- O QUE É COMUNICAÇÃO? A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR!

ler Foucault, José Rodrigues dos Santos, Umberto Eco, Faraco, Bakhtin, Benjamin

será que ele já leu? vou indicar, RISOS


- quanto mais eu vejo gente assim ^, mais me convenço de que o grande lance é JAMAIS parar de se questionar, pra não sair por aí dando conceitos bobos das coisas


- reler o mcluhan também, pq não?

ele não sabe explicar mesmo


- TÁ EXPLICANDO O QUE É ‘AFORISMO’


- TÁ EXPLICANDO O QUE É ‘PLATÔNICO’


- ah, isso ele ta certo, só esqueceu de dizer que o filme bem adaptado é o que aproveita melhor o que a obra possui /propõe, independente de ‘fidelidade’ de fatos


- ih, já ta repetindo etimologias


- nem ele agüenta, ta desenhando também.

na verdade tá desenhando uma flor, pra mostrar que a imagem da flor é um signo diferente da palavra 'flor'. altas 9dade.


- PIRANDELLO KD VC


- “o pessoal de cinema tem muito mais complicação pra resolver que o de letras, que trabalha só com uma linguagem”

MEUDEUS CALABOCA


- e mais asneira de psicanálise.


- S.U.R.D.O.


- disse que existe uma GRAMÁTICA AUDIOVISUAL, assim como Guimarães Rosa e Paulo Coelho compartilham de uma verbal. ER. Se eu perguntar pra ele que gramática é essa, será que ele vai dizer que é a TÉCNICA?


- INTENÇÃO é fatal na comunicação – oba, um acerto


- “repertório simbólico”. ok.


- CARALHO, a questão não é essa! Vamo tomá água gente


- “FÜR ELISE é sofisticada...”


- “... claro que eu não quero matar todos os intelectuais, eu me considero entre eles, estou até fazendo doutorado...”

Sério, vou tomar água, tchau.



04.03.2009

- “as letras dão idealidade enquanto que as imagens dão realidade”

opa, que sede



*a Lari faz sociologia.

** a Ana faz geografia.

domingo, 1 de março de 2009

Clichês Hollywoodianos

O mocinho,depois de ser espancado igual criança marrenta pelo vilão,levanta-se e começa a devolver os castigos corporais.E nesse ínterim sempre sobra tempo para aquele diálogo “esse por Jhonny(POW!!!!),esse é por Mary(KAPOW!!!),esse é por papai(não importa se o herói tem 15 ou 55 anos de idade,o pai é sempre papai),e esse é por mim!!!(KABUSHHHH!!!!)

O herói corre em câmera lenta e atrás dele um armazém,helicóptero,prédio ou caixa de bis sem consome em chamas depois de uma explosão.

O melhor amigo do policial principal do filme está a um dia de se aposentar,quando um grupo de bandidos invade o local e dispara um saraivada de tiros,que obviamente acertam o melhor amigo(geralmente é um negão).E o amigo,com uma dúzia de azeitonas no buxo ainda encontra tempo para falar “Mark,vingue a minha morte!!!”

O nerd é apaixonado pela líder de torcida que por sua vez é enamorada do cara durão que é capitão do time de futebol americano.

Não importa qual o roteiro do filme teen,tudo sempre termina no baile de formatura.

O cara que não acredita no monstro é sempre o primeiro a morrer (geralmente é um negão).

Todo filme de comédia sempre tem um momento “sensível”,onde você se sente mal por ter gargalhado do protagonista( vide Ben Stiller).


O protagonista do filme é sempre um cara frustrado ou cuja vida é sem graça( vide hã...Ben Stiller)

Pode haver a catástrofe que houver,seja uma nevasca feita pelo computador,um grande chuva de meteoros ou o Brasil parar de passar BBB,o cachorro sempre sai vivo.

Por outro lado,em todo filme de cachorro,ou o animal morre,ou fica muito doente.(é...não da pra ganhar todas)

Quando o filme é de esportes,o lance final é sempre em câmera super lenta,com alguém suando em bicas e gritando,para no final,todos saberem que o time do protagonista sempre vence.

O protagonista entra na casa de diz “mamãe!”(outra vez,pode ser um ator de 125 anos fazendo a cena).A casa está vazia.Ele olha no quarto dela e ela não está.Vai até o quintal e só encontra a sua velha cadeira de balanço(geralmente rola um flashback nessa hora).Pode ter certeza que nesse filme a velha já empacotou.