domingo, 31 de agosto de 2008

Histórias que nossas babás não contavam.

Por Daniel Ramos.

Depois de mais de meio século, algumas histórias parecem que nunca saem do nosso imaginário. Estão sempre ali enchendo nossos pensamentos com imagens ora surreais, ora verdadeiras e tangíveis, salpicando de sonhos todos aqueles que já mergulharam nesse tão rico universo ficcional: os contos de fada.
Porém se pararmos para analisá-las com olhos de adulto, teremos uma grata surpresa, pois muitas dessas histórias são tão ou mais bizarras do que muitas que conhecemos depois de passada nossa infância. E é com imenso orgulho que trago para vocês uma fria análise sobre alguns dos maiores clássicos da literatura infantil, e longe de mim desmistificar esses ícones, apenas desmembrar algumas pontas soltas que nunca nos souberam explicar.


Branca de neve e os sete anões

Com certeza duas em cada três pessoas conhece essa tão aclamada história, que foi imortalizada alguns anos depois de sua publicação por Walt Disney e deu início a era dos longas de animação no cinema. Não vou ficar aqui perdendo tempo reescrevendo uma sinopse de algo que estamos carecas de saber, pois a história é mais do que manjada. Porém seus personagens podem render boas sessões de psicanálise, a começar pela protagonista. Nossa querida Branca foge para a floresta, a fim de fugir dos maus tratos da madrasta, pois não agüentava mais trabalhar como escrava no castelo, e acaba por se alojar na casa de sete anões mineiradores. Bom, ela pode ter se livrado da madrasta, mas da labuta não escapou ilesa, pois agora além de ter que limpar uma casa que fica no meio da floresta, sujeita a dejetos de animais de toda espécie, agora tem que lavar cuecas freadas de sete machos que trabalham o dia todo na mina e tem os modos tão refinados quantos a quarta-zaga do time do Atlético Mineiro. O príncipe é um verdadeiro inútil, aparece em momentos esporádicos e só pratica alguma ação realmente no final, quando desperta a boneca encachaçada com um beijo (podia rolar um trident no meio pelo menos). Os anões já são auto-explicativos, e o autor foi tão preguiçoso quanto inteligente, pois é muito mais fácil lembrar deles pela personalidade, do que se tivessem nomes próprios (Carlão, Oswaldo, Clóvis... ficaria menos pessoal concordo).
Já a madrasta é um show a parte, provavelmente fazendo uso de todos os barbitúricos e drogas encontrados na floresta, pois só assim se explica como a débil mental se aconselha com o próprio espelho sem nem se dar conta de que a imagem que aparece no espelho é a dela própria, mas como estava chapada, achava que o espelho era mágico e que a branca de neve era a mais gata da floresta (também concorrendo apenas com pássaros e esquilos, os únicos habitantes mostrados na história, não é lá grande glória ser a mais bela). E a doida ainda foi na contra-mão da moda, pois enquanto a mulherada gasta os tubos em silicone e botox, a vadia toma uma poção para ficar com a cara Glória Menezes com mais 150 anos de idade.


Rapunzel

Um caso clássico de desleixo, pois se o cabelo da cabeça desenrolava numa torre de 8 metros de altura, comentar o resto é entrar em terreno perigoso. Mas como o príncipe era assumidamente um barangueiro desesperado (pra subir numa torre pelo cabelo da donzela... por aí você já vê que os bailes da corte deviam ser povoados mais de dragões do que de princesas) encarou o compromisso de subir pelas suas madeixas, para poderem viver seu mais puro amor. Agora imaginem a dor de cabeça da desgraçada depois de um ano de namoro e o pior, vendo que o interesse do pretendente diminui a cada trepada(nos cabelos que fique claro... o que eles fazem entre quatro paredes já é assunto para outro post) e que o peso do próprio aumenta cada vez mais. Enfim, de todas acho que esta é a que menos está fadada ao final feliz.


Chapéuzinho vermelho

Essa então nem se fala. Um garota que pega uma cestinha ao invés de livros, e vai pro mato ao invés de ir pra escola, já da pra ver que não se trata de algo muito são. E o pior, pra visitar a avó que mora numa floresta...Poxa, que espécie de filhos deixam a mãe morar numa floresta escura e perigosa? Ela pode ser uma chata, mas MÃE é MÃE!!!!!!!!!!!!!
E o nome da chapeuzinho? Alguém sabe? O pai provavelmente não quis registrar, pois já imaginava que a menina seria idiota ou no mínimo cega, pra confundir a avó com o lobo!!!
E o diálogo? “que olhos grandes você tem vovó!”
“Que nariz grande você tem vovó!”
“Que boca grande você tem vovó!”
E paremos por ai, porque do pescoço pra baixo a diferença entre uma avó e um lobo é algo descomunal.
E o lobo?Porque tem que ser mal? Ele tem apenas propósitos alimentares na história!
Por favor, se alguém por ai vir um lobo bom, tire a foto que eu publico aqui no blog.


A bela adormecida

Acho que as princesas dos contos de fadas tem um certo déficit de massa cinzenta. Sim, porquê só isso explica o fato dela entrar num quarto escuro, com uma roda de fiar suspeita e enfiar a “mãozona” nela sem nem pensar quem a tinha posto ali. Se fosse um revólver calibre 38, com um bilhete dizendo “puxe o gatilho”, ela não seria a bela adormecida, e sim a bela com uma azeitona de chumbo nos córneos. E o príncipe... caramba... esse é fera, desperta a coitada com apenas um beijo!!! Sem dúvida usava um protetor labial com sabor de red bull. E ainda bem que foi na boca, pois se ele a beijasse mais ao sul a criatura virava um foguete humano.

sábado, 30 de agosto de 2008

Um recém-adulto sedentário, porém cheio de ocupações.

Por Felipe Grilo.

Pessoal, desculpem o mau jeito. Assim como muitos de nós, estou meio na correria ultimamente. Para vocês terem idéia, pensei em escrever um texto sobre "por que as pessoas correm?", mas não deu tempo. Pensei também em escrever outro sobre excesso de informação, mas teria de pesquisar mais a respeito.

Assim como já fizeram a Cris e a Helô em textos passados, gostaria de compartilhar coisas feitas na infância. Descobri pela minha mãe - que tem mais memórias da minha infância do que eu próprio - que eu fazia a redação na escola, levava a nota e jogava na lixeira mais próxima. Então meus pais nunca conseguiram guardar nada meu. Hoje faz falta. No entanto, o texto mais antigo que tenho é a dissertação seguinte, feita aos meus 16 anos (portanto, nos idos de 2004) e que até hoje considero uma das minhas melhores produções. Obrigado e boa leitura!

***

Brasil: um jovem sedentário de quinhentos e poucos anos.

Brasil é um jovem que mora na casa dos avós, seguro nos portões trancados e descansando em berço esplêndido, na sombra de uma bananeira maltratada. Sua avó Gaia traz seu café da manhã todos os dias. E seu avô, um texano que atende pelo nome de Mundo, paga sua mesada. Brasil costuma perambular entre a cama, a geladeira e a TV de 14 polegadas da cozinha, onde assiste ao Jornal Nacional com seu avô, julgando-se bem-informado. Nas suas horas vagas, pede à empregada que compre revistinhas japonesas para ler e se manter culto.

Enquanto passa a vida embaixo da bananeira, vê um mundo miserável lá fora. Mendigos, rotos, crianças abandonadas e velhos passando fome. Então Brasil pensa: "Ainda bem que eu tenho minha avó!"

Dona Gaia morre seca. Mundo, então, passa a cobrar de Brasil coisas como emprego, vestibular e as dívidas da casa... Acuado, percebe que o Jornal Nacional é programa de criança; põe a mão no bolso e percebe que a empregava roubava o troco das revistas e viu as bananas apodrecendo lá fora.

Tinha fome e não sabia plantar. A miséria da sociedade, que antes olhava tristemente aquele jardim, agora tentava derrubar o portão e pegar as bananas podres. Pediam para o jovem Brasil mostrar a sua cara!

Brasil percebeu que não poderia ter deixado o portão tanto tempo fechado.

Agora tinha que atravessar a rua e estava sem coragem. Ele precisa abri-lo se quiser viver, precisa abraçar o povo, viver o mundo como é e, assim, se informar e aprender a cuidar de bananeiras, ensinar a plantar para o povo não precisar pedir. Prometerá a si mesmo que não dependerá mais dos outros se não quiser ser escravo, servo ou operário. O jovem Brasil precisará assumir suas responsabilidades.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Divulgação.


Por Heloísa Noronha.

Gente, essa semana ficou complicado postar algo inédito e legal. Hoje o dia também vai ser corrido... Então, vou aproveitar e divulgar o release oficial e o convite para o lançamento do meu livro. Para a semana que vem, prometo publicar um texto bem bonitinho, ok?

Beijos!


O RELEASE:

MANUAL DA EX, MANUAL DA ATUAL
Heloísa Noronha


Um livro, dois guias. Em Manual da Ex, Manual da Atual, Heloísa Noronha, jornalista especializada no segmento de revistas femininas, dá dicas essenciais para que as mulheres saibam lidar com a gangorra emocional das relações amorosas – afinal, toda atual foi ex e pode voltar a ser, e toda ex pode acordar atual. As ex aprenderão a superar os momentos de dor e insegurança que afligem quem está com o coração partido e a se libertarem de vez do ciúme, com bom senso e humor. Enquanto as atuais ganharão forças para exterminar, definitivamente, o fantasma da ex de seus parceiros – descobrindo as armas da inimiga e neutralizando-as para evitar atitudes que possam colocar em xeque o início de seus romances.

No livro, que tem projeto gráfico diferenciado para dar conta de sua proposta “dois em um”, Heloísa Noronha mostra que cada mulher reage de uma maneira ao fim de um relacionamento, mas dois sentimentos unem todas elas: o sofrimento e o desejo de vingança. De forma divertida e sarcástica, a autora dá dicas de como ajudar a mulher a alcançar suas metas e viver intensamente cada momento, para se libertar do sentimento de rejeição. Ela mostra ainda como tirar proveito do fim de uma relação, ensinando a ex a se conhecer melhor e se fortalecer para outros relacionamentos. E dá um empurrãozinho para as mulheres identificarem com mais facilidade as reais chances de retomar um antigo romance, ou de esquecê-lo de vez.

Com boas tiradas, a autora consegue chacoalhar a auto-estima até mesmo das mais inseguras, lembrando, por exemplo, que aquele tão desejado ex costumava virar o pescoço até quase quebrá-lo para olhar uma mulher que passava na rua, vivia fazendo críticas à aparência da namorada e estragava todo e qualquer encontro romântico, levando o melhor amigo ou a chata da irmã a tiracolo.

Já para a atual que tem uma “mala” infernizando o relacionamento, Heloísa recomenda doses extras de auto-estima para curtir com intensidade o novo namorado. Afinal, como a autora não se cansa de lembrar, o maior desejo da outra é estragar a felicidade alheia, custe o custar.

Para a ex ou para a atual, Heloísa recomenda cuidado total com o ciúme, inimigo mortal de qualquer relacionamento, causador de estresse emocional e físico, constrangimento em público, sentimento de culpa e perda de parceiro. Justa ou estrategista, barraqueira ou sanguinária – não interessa em qual categoria a mulher se encaixa, todas elas possuem uma coisa em comum: já foram ex um dia e podem virar atual a qualquer momento. Para todas elas, Manual da Ex, Manual da Atual é altamente recomendável.

A AUTORA:
Heloísa Noronha é formada há 15 anos em jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo. Iniciou sua carreira no diário do Grande ABC e especializou-se no segmento de revistas femininas. Foi editora de comportamento e sexualidade da Nova e de beleza e saúde da UMA. Tem textos publicados nas revistas Claudia, Capricho, Criativa, VIP, Playboy e Viva Saúde, entre outras. É co-autora dos livros Beleza e Saúde da série Bem-Estar, da Publifolha, e escreve atualmente para os projetos customizados da Editora Globo.

FICHA TÉCNICA
Título: Manual da Ex e Manual da Atual
Autor: Heloísa Noronha
Páginas: 148
ISBN: 978-85-325-2341-9
Código: 9788532523419
Preço: a definir
Lançamento: setembro de 2008

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Abre-te Sésamo.

Por Adriana Hernandes.

Saio do trabalho tarde da noite, madrugada já (esses serões ainda me matam) cansado, exausto, pensando somente num banho quente e em me atirar na cama.
Chego ao portão do meu prédio e começo a bater as mãos nos bolsos em busca da minha chave, e o que encontro? Nada.
Bato, rebato e nada dela aparecer. Vasculho a minha pasta como quem procura um tesouro e só encontro os papéis do trabalho, o meu ouro de tolo. Dou uma volta ao redor de mim mesmo, “talvez ela tenha caído” imagino. Mas no meio da minha ciranda lembro que deixei a bendita na mesa da repartição.

Tomado por raiva e impaciência, começo a bater na porta torcendo para que alguém ouça meus apelos. O barulho que ecoa pelo saguão me detém no mesmo instante. Assim como a porta, os moradores que desfrutam do sono dos justos não têm culpa do meu revés.

Penso em ir para a casa de algum amigo, sair à procura de um hotel, me entranhar em algum bar e esperar amanhecer. Mas carrego a expectativa de que alguém do edifício apareça e me abra à porta.
Não quero perder a oportunidade de entrar, já perdi coisas demais por hoje. Resolvo esperar.

Diferente de mim, o tempo não precisa de descanso muito menos de portas abertas para continuar sua função. O relógio já acusa três e meia da manhã e não aparece alma alguma pra me servir de Ali Babá. Nem o porteiro que, desmemoriado como eu, só se lembra de pôr o lixo pra fora por esse horário, nem a morena do quinto andar chegando da estudantina, nem o senhor que sempre assiste à última sessão do cine-teatro, ninguém.

Encosto-me na pilastra ao lado da entrada e me deixo escorregar até o chão. Estaciono lá, sentado, a ver navios, a ver a porta, a não ver ninguém.
Minha esperança recai inteira sobre o feirante do sétimo andar. Seu ofício o obriga a madrugar todos os dias. Mas até ele deve ter tirado sua folga hoje, ou esquecido de dar corda no despertador, traidor.

Permaneço sentado ao lado da entrada, agora pensando em outras portas que teimam em continuar fechadas. Mas a noite é passageira, mais cedo ou mais tarde o “ninguém” dará lugar ao “alguém” e essa porta há de se abrir para mim.
Quisera eu ter a certeza de que todas as portas abrissem assim.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Desabafo de TPM


Por Cristiane Senn.


Preciso organizá-las melhor. Não sei se por cor, tamanho, freqüência de uso. Talvez precise de um armário maior. Porque no fim, sempre me atraso e acabo colocando a errada.
Ontem, por exemplo, peguei aquela mais escura de todas, que só costumava usar há uns bons anos. Acabou que deu tudo errado.
Quer dizer, não deu em nada.
Podia ter colocado esta última, que ainda estou fazendo. Mesmo que inacabada, teria sido melhor (melhor mesmo seria não precisar usar nada, mas este mundo é cheio de pudores hipócritas - e eu, como uma hipócrita competente, acabo usando, como todo mundo).

Malditas máscaras. Um dia boto fogo em todas elas e me apareço em carne viva.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Íris.

Por Vinicius Noronha.

O mundo parece tão frio
E deserto

Nem as melhores metas estão livres de seus pecados
E de suas precauções

E uma pessoa nova surge a cada minuto
Com a receita da perfeição
Com a essência idolatrada

Cada passo dissimula uma incerteza
Que ninguém consegue assumir
Todos se calam
E se calando, não percebem
Que gritam por dentro com a mesma voz
Uma única e bela palavra

Mas não, o sacrifício é sábio
Os corações estão camuflados
E não conseguem mais olhar para os lados

Os desejos silenciam
Não descobriram nenhuma dignidade livre
Os sentidos se isolam
E cada um se torna sua própria prisão

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Calel & Klóvis.

Por Sergio Faria.

Hoje resolvi escrever algumas coisas que tenho que ficar ouvindo do Calel e do Klóvis, respectivamente, meu anjinho e meu diabinho:

Calel: - você não acha que já está passando da hora de você tomar uma atitude na sua vida?

Klóvis: - fica frio chefia! A gente já tamo na metade do ano, deixa isso pro ano que vem! Aí vem o verão e tu toma com gelo! He he he he!

C: - o tempo está passando, as coisas estão se acumulando e você não consegue concluir nem as tarefas mais simples que se propôs a executar e nem as outras que são de extrema importância para o seu crescimento profissional e pessoal.

K: - desencana cara! O que é do homi o bicho num comi! Tu vai conseguir tudo que tu quer mesmo sem correria. Tu é sangue bom e os chegados vão agitando as paradinhas pra ti.

C: - você deve construir seu caminho sozinho pois cada um tem o seu. Não deve ficar na dependência de ninguém porque sua conquista é pessoal. Se tudo der errado a responsabilidade será somente sua e com isso aprenderá muito sobre a vida e seus obstáculos. Mas se tudo correr bem o mérito será todo seu. E o prêmio também!

K: - papo furado! Ninguém consegue nada sozinho! O grande lance é trocar figurinha. Aliás troca-troca sempre é bom!! He he he he!! E se tu se fuder pode botar a culpa nos loki.

C: - você tem o livre arbítrio para escolher o que quer fazer. Entretanto sei que você não é assim e tem plena consciência de suas mazelas. Por isso estou aqui sempre e quero lembrá-lo que nesse momento você não está se esforçando para melhorar sua vida e está fraquejando ao deixar que o desânimo lhe impeça de realizar todos os seus projetos e as mudanças necessárias.

K: - que mané mudança! Quem gosta de mudança é o neném quando tá mijado! Em time que tá ganhando nóis num mexe! Se tu tá feliz desse jeito, fica de boa, meu camarada! Quem que não tem preguiça? Quem que não tem desânimo? É normal, ora bolas! Entra numas de trabalhar demais que tu vai ficar estressado e ter um câncer do brabo! Fica na paz e curte a vida do jeito que tu achar melhor. Pô, coçar o saco não é crime. E nem é pecado!

C: - todos aqui sabem dos seus sonhos e que acredita neles. Nós também acreditamos que você possa realizá-los mas não podemos fazer nenhuma interferência já que você não tem feito a sua parte. Você sabe de seu potencial mas vive adiando a retomada de suas atividades por medo ou insegurança. Sem dúvida que a sua história de vida influencia cada ato seu mas até quando vai deixar que o seu passado interfira no seu futuro?

K: - pô, tu tá com pressa? Se tá então manda bala! A galera toda daqui também já sacou que tu tá com a faca e o queijo na mão e que a hora que tu resolver tu ganha o jogo. Vai nessa que é uma boa, tu vai cumê muita mulé! Mas se tá griladão dá um tempo pra poeira baixar. Fica de frozô mais uma carinha.

C: - porque não volta a anotar seus diários como fazia no passado? Aquilo era importante e lhe auxiliava muito na organização de seus compromissos. Você era bem disciplinado e agora relaxou bastante.

K: - pra quê perder tempo rabiscando os babados que já rolou? Num fode! Quem vive de passado é museu! Vai ver televisão que você ganha mais! Vai pra pracinha tomar um sol e filma a mulherada do teu pedaço batendo perna! Que delícia!

C: - em relação aos seus diários sei que você está bem resolvido sobre esse assunto porque sabe muito bem que a leitura deles daqui há algum tempo vai lhe ajudar muito no auto-conhecimento. Mas lamento que atualmente você esteja tão displiscente e preguiçoso. Você reparou que ficou mais de uma semana sem publicar nada no seu diário virtual?

K: - tá de bob, cumpadi!?! Esse papo de escrever na internet é o maior caô! Num serve pra porra nenhuma! Neguinho fica de recadinho pra lá e pra cá, jogando confete um no outro e num acontece nada de interessante. Se liga, brô!

C: - você nunca mais foi a mesma pessoa depois que entrou nesse mundo virtual. Conheceu pessoas abençoadas que somente com palavras lhe sensibilizaram e lhe ensinaram muita coisa. E apesar do profano, algumas que conheceu pessoalmente também foram importantes para sua evolução.

K: - que lindo tudo isso!! E do escroto que escreve aquelas pérolas maravilhosas pra agitar a galera? E aí mané? Num fica injuriado? Que que tu acha dele ficar queimando teu filme por aí, fazendo a tua caveira a três por quatro? É engraçado? Manda um vírus pra esse fela da puta! Agora vai, reconhece, o bicho é piradão mas tem um puta senso de humor e é inteligente pra cacete, fala aí?!

C: - nessas horas é que fico orgulhoso de você por não se deixar afetar por esssas tentações de seres tão involutivos. Felizmente sabe aproveitar o que existe de melhor nesse mundo virtual porque tem a compreensão de que o que existe de bonito e saudável ali é infinitamente superior as coisas maléficas.

K: - puta que o pariu! Que papinho mais babaca! Isso tudo é conversa pra boi dormir. Quer saber de uma coisa? Já que tu quer ficar nessa merda aqui vai ver um site de putaria que tem coisa bem mais manera pra tu ver. Muito bom! Recomendo!

C: - levanta a cabeça e olha para frente. Não deixe que tudo que acumulou de bom dentro de você se perca ou seja desperdiçado. Aproveita a ociosidade para criar e produzir. Se torne imortal com a sua obra. Volte a escrever seus diários. O virtual deve ser olhado com carinho pois existem algumas pessoas que são especiais para nós que gostam de ler suas idéias. Elas merecem sua consideração e você sabe disso.

K: - colé anjo do caralho! Vai tomar no cú, porra! Vai se fuder! Deixa o cara curtir a vida do jeito dele! Todo mundo sabe que ele não tem nada de santo!

C: - reflita sobre tudo o que foi dito hoje. Quando precisar é só chamar pelo Pai que Ele estára sempre à sua disposição.

K: - blargh!!!

C: - que Deus ti abençoe, meu filho!

domingo, 24 de agosto de 2008

Que comecem os jogos!!!!

Por Daniel Ramos.

Não caros leitores, eu não pirei de vez! Afinal de contas vocês devem estar se perguntando por que diabos eu escrevo um post com um título desses no exato dia em que termina o maior evento esportivo do mundo. E deixo claro também que não tratarei aqui das para-olimpíadas, prestes a se iniciarem. O jogo ao qual me refiro é um que está na sua aurora, porém ficou meio ofuscado nas últimas semanas: O jogo político!
Calma, não pretendo aqui fazer um texto de revolta, partidário a alguma causa, nem tampouco fazer propaganda para algum candidato específico, até mesmo porque eu nem acompanho a vida política do país de forma acintosa para que possa escrever algo coeso e embasado. Porém, com a graça do nosso bom criador, eu fui agraciado com dois olhos que enxergam além do óbvio e dois ouvidos que fazem uma conexão direta com minha maldita boca, a qual não consigo calar nem mesmo nos momentos mais inoportunos. E é com essas ferramentas que tenho observado o que acontece nessa época eleição. Não vou cair no lugar comum e explanar sobre as táticas de santinhos e afins, mas sim a um fato que ao meu ver vem aumentando nas últimas eleições. Noto que nas eleições, para prefeitura principalmente, está havendo um crescente número de candidatos pouco convencionais, daqueles que você não consegue imaginar colocando um terno e possuindo um gabinete na câmara dos vereadores, quanto mais discutindo e elaborando leis que venham ao encontro da população votante. Contrariando as leis imaginadas por Platão, nas quais em uma sociedade utópica, a justiça seria que cada um fizesse o que lhe é cabido e a política deveria ser praticada por aqueles realmente aptos a fazê-la. Mas não é o que tenho visto já a algum tempo nas eleições. Você leitor, em sua mais elevada parcela de consciência, votaria em um candidato chamado CARABINA? JORGE DO CEMITÉRIO, que faz propaganda na mesma perua que transporta os cadáveres e que na última eleição obteve apenas um voto...E NÃO FOI O DELE! Ou seja, nem o próprio candidato acredita nele. E o que dizer de nomes como JAPONÊS DO FUNK, SUELI MACARRÃO e TONINHO DA MERCEÁRIA; esse último com o convidativo slogan “eu odeio gente chique, eu não uso sapato”(???!!!). Por mim eu mudaria a frase para “eu odeio gente chique, eu não uso sapato e recebo minhas informações de um gorila azul com asas que fica no meu ombro”. Ficaria mais a cara dele. Enfim, é a liga da justiça dos candidatos cretinos!
Mas é claro que muitos deles acabam entrando, por dois principais motivos: o primeiro é o bom humor típico do brasileiro e o segundo é a categoria chamada voto-protesto. Sim, é esse voto que conta com a desilusão do povo com relação aos candidatos e que acabam votando nas chamadas figuras como uma maneira de afrontar a própria política. Mas isso acaba gerando um círculo vicioso, onde o voto-protesto serve para protestar( nossa, Jura!!!), mas ao mesmo tempo acaba elegendo um candidato que não irá resolver muita coisa, deixando o povo revoltado e voltando ao início do círculo.
Só para ilustrar, em Santos, nos anos 80, o vereador mais votado foi o incrível ZÉ MACACO, que tinha essa alcunha devido ao seu trabalho de distribuidor de panfletos, vestido de....adivinhem?Sim, um símio. Ou seja, o presidente da câmara dos vereadores de Santos seria um ser travestido de gorila. Seria se ele não fosse completamente analfabeto, o que deu o lugar ao segundo vereador mais votado.
Enfim, seja responsável por suas ações, porquê o voto, protesto ou não, pode acabar colocando no poder alguém sem a menor condição de ser o seu representante máximo.

sábado, 23 de agosto de 2008

Misticismo.

Por Felipe Grilo

História real que aconteceu nesta quarta-feira em minha casa, e que me fez pensar. Leiam e tirem suas próprias conclusões.

***

Toca o telefone. Acusa no "detecta" do aparelho que é a minha vó. Não atendo, nem faço questão (por motivos que não vêm ao caso, não gosto dela). Deixo tocar, tocar, tocar, até minha mãe voltar do supermercado com uma sacola nos braços e abrir a porta do apartamento. Digo: "é a sua mãe", para que ela venha correndo atender.

Durante a conversa minha mãe mostrava vontade de rir, mas segurou até colocar o fone no gancho. Ao colocar, percebendo as risadas contidas, perguntei o que ocorreu. Então ela começa a contar:

"Filho, ouve só essa: a vizinha da minha mãe acordou com uns vômitos, umas dores, e parece que começou a gritar, a espernear, até a jogar panela pro alto e falar um monte. Sua avó fechou todos os trincos da casa, se trancou no quarto pra rezar, mas antes me ligou pra desabafar comigo e me falar que a família disse que ela tá com espírito! Chamaram até pastor pra exorcizar. Daqui a pouco ela me conta mais."

Enquanto minha mãe falava e ria, a alça da sacola de plástico que ela carregava vinha esbarrando no aquário do McFish - meu peixe betta de estimação, que mora nas redondezas entre o telefone e o meu computador. Notei que o bichinho tava em pânico por causa da sacola se mexendo!

***

McFish, meu companheiro de sedentarismo, é um cara meio alheio a tudo que o cerca. Também pudera: o mundo dele é formado pelos poucos centímetros cúbicos de água por onde nada, as pedrinhas brancas do aquário e a plantinha de plástico. Ao redor do vidro onde costuma bater com seu focinho, existem minha pilha de CDs e cadernos, uma corneta vermelha, Arioswaldo (minha noz também de estimação, na qual desenhei uma carinha de mal) e uma aranha de plástico, além da parede branca, um mural também branco e uma pequena bolsa, da qual McFish tem um pouco de ciúmes e reage com muxoxos quando penso em tirá-la de perto dele.

Convenhamos: se você fosse um peixe, sentiria tédio total e absoluto. McFish chega a bocejar. Por isso, desconfio que ele sempre nada olhando pro lado esquerdo para se distrair, porque nele existe o maior número de bugigangas fora do vidro. Também desconfio que ele "sabe" que é um peixe e tem consciência de que aquele outro peixe, igualzinho a ele, é um reflexo. Tudo isso sem saber o que é um aquário, e sem imaginar que o vidro é impermeável a coisas sólidas.

Teorias que explicam duas coisas: o seu tédio acentuado por conhecer sua existência, suas privações e não poder fazer nada a respeito – eu até gostaria que ele pensasse ser um pássaro! – e o fato de ter tido quase um infarto, tadinho, ao ver a alça da sacola esbarrando no vidro, tudo com direito a ficar no lado extremo oposto do recipiente pra "aquilo branco e brilhante" não lhe tocar, e a dar bicadinhas na margem da água para compensar sua deficiência respiratória piorada pelo susto.

Sei lá. Só sei que, de fato, ele ficou uns quinze minutos com medo até do meu dedo, ao tentar me aproximar para ver se conseguia acalmá-lo. Mas não: dava a ré com as barbatanas e fazia aquela cara de "nããããão!" que só ele sabe fazer, com suas bochechas grandes e sua boca bicuda. Depois passou.

***

Minha avó voltou a ligar, como combinado, para minha mãe atender e me contar o resto da história. O tormento por lá já tinha passado e a cena, que remontava aos períodos medievais, sucumbiu diante da farsa da mente. O pastor benzeu a infeliz e a levou ao hospital, pois era vítima não de um ente do mal, mas de uma cólica no fígado.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Teorias.

Por Heloísa Noronha.

Domingo passado tive uma conversa com minha prima Crica que me deixou bastante pensativa. Mãe de três filhos (uma adolescente e um casal de gêmeos), ela defende a tese de que a educação dos pais não interfere muito na personalidade das crianças. Segundo Crica, elas já nasceriam com o temperamento formado – e ele apenas iria sendo moldado conforme o tempo. Talvez essa teoria tenha mesmo sentido... Esse bate-papo me fez lembrar de uma cartinha que escrevi para o Papai Noel quando tinha 9 anos de idade e que foi guardada com muito carinho. Assim como fez a Cri há umas duas semanas, transcrevo, aqui, uma pérola da minha infância que mostra que algumas características psicológicas da pequena Helô ainda estão bem presentes na versão adulta. Vejam só:

“Querido Papai Noel, (mostrando seu lado carinhoso)
O Natal está chegando e todas as crianças pedem brinquedos para o senhor. E eu gostaria que o senhor trouxesse para mim os seguintes brinquedos: o Mini-cine e o Passatempo. (objetividade ao pedir o que quer)
Se o senhor trouxesse esses dois brinquedos para mim, eu ficaria muito agradecida, tá? (atirando as teias da sedução em cima do Papai Noel)
Todos os anos, no dia 25 de dezembro o senhor me visita e traz presentes para mim, e eu sempre gostei, mas desta vez eu vou adorar, viu? (sensibilidade para fortalecer a auto-estima alheia)
Eu ficaria muito grata se o senhor trouxesse esses dois brinquedos para mim como eu já lhe disse, viu? (insistência e teimosia absolutas para alcançar suas metas de vida)
O senhor pode deixar os brinquedos perto dos meus sapatinhos, tá legal? (desde pequena já ligadíssima em sapatos)
Junto deles o senhor encontrará um cartãozinho de boas-vindas. (apreço pela escrita)
Os meus sapatinhos o senhor encontrará perto da árvore de Natal e do presépio. (subestimando a capacidade masculina de encontrar as coisas)
Que legal o Natal ser comemorado no dia que Jesus Cristo nasceu, não? (ironia fina ao tirar uma com a cara do Papai Noel)
Bom, tchau!
Um beijo e um abraço,
Heloísa J. de Noronha
09-12-1981


O que vocês acham?

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Gerações.

Por Adriana Hernandes.

Ele sonha com uma casa maior.
Ela sonha com a casa da Barbie.

Ele esboça plantas no AutoCAD.
Ela desenha um sol sorridente.

Ele acabou hoje “Crime e Castigo”.
Ela começou ontem “Reinações de Narizinho”.

Ele quer trocar de carro.
Ela quer um Dálmata.

Ele acha a mão dela tão pequena.
Ela acha o nariz dele tão grande.

Ele a repreende.
Ela chora.

Ele se arrepende.
Ela fecha a cara.

Ele pede desculpa e se explica.
Ela pede desculpa e reconhece.

Ele fica com os óculos embaçados por conta do vapor do café.
Ela fica com bigodinho por conta do leite com chocolate.

Ele morre de medo de seqüestro.
Ela morre de medo do escuro.

Ele vive engolindo sapos.
Ela engoliu uma tampa de caneta.

Ele tem gastrite nervosa.
Ela está com catapora.

Ele detesta ervilhas.
Ela teve a quem puxar.

Ele já encontrou três fios de cabelo branco.
Ela já pegou o batom da mãe escondida.

Ela faz todo o sentido.
Ele é o melhor do mundo!

E mesmo cada qual com o seu tempo, eles seguem juntos, paralelos.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Pré-texto.


Por Cristiane Senn.


Mero pretexto pra dor-de-cotovelo.
Porque não há dor que não se faça pretexto pra folha em branco.
Pré-conceito com pré-texto de pré-escola. Tudo ao p(r)é-da-letra. Coisa que não se entende, porque ficam procurando pêlo em ovo de codorna – e sem lupa! – em vez de depilar tudo por pré-caução.
Fora isso, ela subia a ladeira apressada todo dia. Apressada ela, não a ladeira. Claro que não morava na ladeira. Morava no mundo, no Brasil, neste Brasil varonil, que não ousava cantar com sua voz enternecida. Morava no cinza, na fumaça cinza, na buzina cinza, no mar de gente cinza atravessando a rua no vermelho. Mar poluído, nunca tinha visto uma vida ali. Perguntavam aonde ia a princesa com tanta pressa. Ia tirar o pai da forca e a barriga da miséria. Mas nunca que iam acreditar, então nem respondia os pedreiros cheios de amor pra dar. Olhava pra frente sempre, sem saber muito pra onde olhar. Escutando um desses chicos no seu ipod de mentira. E nem sabia que diferença tinha a mentira da verdade, pois quando é que se pode averiguar?
No caminho, a loja de eletrodomésticos tocava “we’ll never gonna survive unless we get a little crazy...”. Mas ela nem entendia inglês, então continuava olhando pra frente, concentrada nesse noel rosa que a Marta gravou pra mim aqui.
Não queria nem choro nem vela nem fita amarela, feinha essa cor, né. Diz que era “feiosinha” o certo. Mas que “feiosinha” era mais feio que “feinha”, isso era. Mais feio que a cor amarela. Marta era inteligente e tinha ensinado muita coisa pra ela, mas também era chata porque corrigia tudo o que ela escrevia. Tudo. O texto nem parecia mais o dela, ficava texto da Marta. Raiva.
Ia-se indo pra biblioteca quando desmaiou. A mochila que caiu sumiu com o pivete que “deixa que eu te ajudo tia” e zup! ou vup! ou pluft! ou sei lá. A senhora que passou do lado fez uma oração, mas nem encostou nela, nem olhou pra ela, talvez nem orasse pra ela, talvez fosse uma praga, talvez nem fosse nada. A cabeça doía e ninguém. Ninguém. Daí que veio aquela moça que disse “ai, você é aquela que mora com a Marta, né?”. Ai, que ter de lembrar da Marta com a cabeça doendo é foda. A moça se abaixou com a cabeleira enorme que ela quase engoliu. 7 segundos de cheiro de shampoo ruim até levantar. Sentou na cadeira do guardinha da biblioteca, que trouxe um copo d’água. Já a conhecia de tanto que ela vinha ali, mas ela mesma nunca tinha visto bigodinho mais ridículo e nojento, tomara que não seja copo dele. E a moça: “Mas o que que foi acontecer, quer que chame um médico, alguém? Mas que cabeça a minha! Vou chamar a Marta!”. E ela: “Mas que cabeça a minha, como dói essa merda.” Isso só pensou (capaz que ia falar), enquanto mexia em sinal negativo. Deusmelivre da Marta agora. Já não basta ficar corrigindo os textos, querer corrigir a saúde. Bebia, mesmo e daí? Sabia que não podia, mas e daí? Daí que desmaiava assim, na frente da biblioteca, na saída do boteco, dentro da livraria, na seção de auto-ajuda. Lembrou de quando vomitou em cima do “Como ser feliz”.
De noite a Marta perguntou do desmaio. Ela fez uma cara de nem-foi-nada, não tinha comido e tal e passou logo. “E sabe que andei lendo aquele seu último texto da dor-de-cotovelo e não entendi. Você não escreve bem o português. Já disse que posso te dar umas aulas. Já corrigi ele. Mudei umas palavras no final. Não é “feinha”, é “feiosinha”, já te disse isso duzentas vezes”.
É, a Marta já tinha dito tudo aquilo e muito mais umas duzentas vezes, até mais. Quanto tempo será que fazia não dizia coisa nova? Um dia ia mandar calar a boca, mas por enquanto era a irmã mais velha que trabalhava. Num escritoriozinho de merda. E porque namorava o filho do patrão. Empreguinho de merda, namoradinho de merda, patrãozinho de merda, gramatiquinha de merda. Era assim que ela via a Marta. E a Marta via ela como? Imatura, preguiçosa, ruinzinha de português, nunca-ia-entrar-na-cabeça-que-crase-era-artigo-mais-preposição, texto de pré-escola. Mas era dor-de-cotovelo, disso tinha certeza. Quem nunca ia entender nada era a Marta. Não tinha criatividade pra nada, nem pra escrever, nem pra reclamar, nem pra arrumar namorado. Acho que nem pra respirar. Me deixa escrever em paz, porra! Mas isso só pensou. Capaz que ia falar. Joana era muda.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Aos 20 e poucos anos.

Por Vinícius Noronha.

Complicado ter 20 e poucos anos. Divisor de águas. Linha tênue que separa o desbunde adolescente da sisudez adulta. Tá na hora, rapaz, você não pensa em casar? Mas já vai casar? Como está sua carreira? Daqui a pouco pode ser tarde demais, vamos farrear por aí? Você não acha que está velho demais pra continuar fazendo esse tipo de coisa? O que nos sobra aos 20 e poucos anos são dúvidas disfarçadas de cobranças, ou seriam cobranças disfarçadas de dúvidas?

Até alguns segundos atrás a vida parecia tão automática. A pretensão do sucesso era apenas uma miragem no horizonte, e agora o horizonte está logo ali na outra calçada. A falta de experiência amorosa justificava o nosso mergulho em todo tipo de namorico mais-que-perfeito, e então passamos a lidar com um pretérito imperfeito que nos traz descobertas suficientes para certificar que o amor é muito mais real que a catarse de paixão que procurávamos cegamente, e que a carência é nossa principal inimiga. Nossos pais eram nossos eternos guardiões, a todo o tempo comungavam milagres como a comida que aparecia na mesa e as meias sujas que misteriosamente surgiam limpas e guardadas na gaveta. De repente se tornaram humanos, quase gente como a gente. Ditavam obrigações, e agora a sentença vira quase um conselho. Mas como alguém que até alguns dias atrás chamava intervalo de recreio vai se acostumar fácil com isso?

20 e poucos anos implica em tomar decisões diferentes. Não são mais decisões de uma noite como a roupa certa, o lugar ideal, a garota mais gata (e não que essas decisões tenham sumido, mas saíram do topo da fila para um lugar intermediário). Agora a flecha aponta para inúmeros alvos cujos nomes ainda nos dizem pouco: “arquitetura” “engenharia agrônoma” “especialização em mídia”. A falta de perspectiva que a adolescência nos brindava era uma dádiva e não tínhamos consciência disso. Mas porra, somos jovens e o que falta de preparo sobra em gás, coragem, ímpeto. Ok, desbravamos essa rota. A correria continua, a caravana passa, a sua estrada parece insossa e algumas situações te fazem pensar “eu errei?”. Errar aos 20 e poucos anos devia ser um direito, mas não adianta, os dias nos fazem acreditar que um erro tão absurdo é o equivalente a perder milhões em ações. Há tempo para conserto, mas é mais conveniente pensar que não há, que tudo é movido por urgência e conquistas precoces.

Viver sem pensar em sobreviver, eis o dilema. Alguns amigos se dão bem, outros não, e cheios de pontos de interrogação te acionam. É bom isso. Juntos, nos tornamos mais fortes e 20 e poucos anos é idade em que a força conjunta pode ser determinante para desviar as pedras no caminho. Parece até que a vida se inicia pra valer aqui e neste exato instante. Os 100 metros livres começaram e você foi o único que não escutou o disparo de largada. Tudo fica estático, e medos e incertezas dos 30, 40, 50 anos invadem a sua idade. “Será que vou ficar sozinho?” “Vou poder mudar quando eu quiser?” "Serei feliz com as minhas opções?". Aí um amigo das antigas que ainda não foi atingido por esse desespero imediato te dá o mesmo tapa na nuca de quando tinha 15 anos, e você nota que é possível envelhecer e ainda sim ser o mesmo.

Ideais que nos desmontam: crescer, aprender, lutar, persistir. E a responsabilidade de vencer. Vencer é ótimo quando se sabe exatamante o que seria uma vitória pra gente. Aos 20 e poucos é comum confundir o que o mundo espera da gente e o que esperamos de nós mesmos, ou juntar tudo no mesmo caldeirão e fingir que, seguindo a trilha mais óbvia, seremos o que sempre quisemos ser. Mas calma, não há o que temer, os sonhos não envelhecem. Só precisa torná-los mais práticos, mais palpáveis. Simples? Claro que não. Se tudo fosse tão simples assim, seria um porre. É preciso colhões pra tudo, inclusive pra se perder, e claro, depois deliciosamente se encontrar e fazer do seu traçado o motivo de abrir os olhos todas as manhãs.

Tudo é relativo.

Por Sergio Faria.

Sabe quando você se apaixona por uma pessoa meio misteriosa que ainda não conseguiu decifrar, ou por alguém que, mesmo conhecendo há algum tempo, continua sendo meio que uma incógnita pra você? Pois é, você só tem dois caminhos: falar ou não sobre essa sua paixão. Olhando pra mim e também influenciado por alguns amigos, cheguei a algumas conclusões e resolvi escrever sobre isso pra eles (e pra elas).

Sei que na prática é muito complicado mas tenho algumas idéias sobre essas situações. Assim: se esse dilema continuar, acho uma boa tentar "jogar xadrez", ou seja, olhar bem suas opções, pensar em todas as possibilidades e avaliar cada movimento sempre olhando lá na frente. Exemplos?

Se você não se confessar...

1 - pode ser que ela nunca tenha te olhado diferente e nunca venha a ser interessar por você. Nesse caso, ficar na sua é a melhor pedida porque assim não haverá nenhum constrangimento, as coisas continuarão no mesmo lugar e cada um seguirá o seu caminho. E vai saber se ela não te acha um mala ou é uma dissimulada que quer ser simpática com todo mundo?

2 - pode ser que ela te ache uma pessoa interessante mas nunca alimentou nada porque te acha bem diferente dela. Ou por te ver como uma pessoa exigente, seletiva e até "muita-areia pro-caminhãozinho" dela, acabe achando que não tem a menor chance contigo. Nesse caso, se você não falar nada pode estar deixando de viver uma relação bem legal com uma pessoa dedicada que vai te valorizar como poucas. E pra piorar pode aparecer alguém mais ousado que você que vai chegar junto da moça e levá-la embora. Quem te garante que o espertinho vai cuidar bem dela e fazê-la feliz como você faria?

3 - pode ser que ela também esteja apaixonada por você mas disfarça e se reprime por vários motivos: timidez, medo, insegurança, trauma... Não falando nada você vai deixar de viver uma paixão avassaladora onde rolaria uma entrega total. E quem sabe Deus não colocou esse ser humano no seu caminho pra dividirem muitos momentos de felicidade? Então acho melhor fazer a sua parte porque Ele faz a dele.

Já se você se confessar...

1 - pode ser que ela não aceite os seus sentimentos e ainda por cima se afaste de você. Se isso acontecer foi positivo o seu desabafo porque assim pôde conhecer melhor essa figurinha e constatar que ela não tem a menor sensibilidade pra ti entender. Sendo assim acho que ela não merece nem sua amizade. Já vai tarde! Viu como as aparências enganam? Mas se você continuar amarrado numa lambisgóia dessas, meus pêsames! Você não tem amor-próprio.

2 - pode ser que ela queira somente sua amizade. Sendo sensata e madura ela vai te achar especial por ter falado o que sente e vai se esforçar ao máximo pra continuar ao seu lado mesmo depois de sua confissão. E se você sumir provavelmente ela vá entender e esperar que você se "cure". Na sua volta, o vínculo entre vocês vai estar fortalecido e assim poderão compartilhar uma relação fraternal bem bacana. Quem sabe ela até se torne sua confidente e te ajude a conquistar alguém? Veja a amigona que você ganhou!

3 - pode ser que ela te fale que você tá confundindo as coisas mas que te quer muito bem, que se preocupa contigo, blá blá blá, o velho clichê. Você fica decepcionado mas ela fica balançada com a sua revelação. E ao continuar convivendo contigo, ela começa a imaginar a possibilidade de vocês ficarem juntos, os pensamentos transformam os sentimentos e ela também se apaixona. Que legal! Mas se não houver uma manifestação em curto prazo, desencana. Vai à luta, vai viver a sua vida e não perde seu tempo.

4 - pode ser que ela também esteja apaixonada mas tenha as mesmas dúvidas que você. Olha só que situação maluca! Um mais inseguro que o outro! Nesse caso, ao se abrir, acho que você receberá um sorriso de felicidade e verá o brilho nos olhos dela. Nesse momento aproveita então pra olhar dentro desses olhinhos, dá um beijo demorado e um abraço bem apertado. Pronto. A partir daí os pombinhos devem aproveitar o que o destino reservou e se curtirem ao máximo.

Agora pensa: e se você continuasse se escondendo e não falasse nada? O grande lance é botar tudo na balança e tomar uma decisão. É claro que falar é muito fácil e só quem tá na pele pra compreender melhor o que se passa realmente. E tudo isso depende também de vários fatores como o grau de intimidade, até que ponto você conhece o histórico da pessoa, da disponibilidade dela ... e isso é relativo! Pessoas comprometidas devem ser descartadas, ignoradas? Eu acredito que não. Pode acontecer de uma pessoa estar infeliz com seu par e não demonstrar porque se acomodou e acha que é assim mesmo. "Não tem tu, vai tu mesmo". Ou talvez esteja esperando encontrar a pessoa certa pra tomar coragem e se livrar daquele traste. Quem sabe não é você o porto seguro que esse alguém sonha encontrar?

Por pensar assim acho que sempre devemos falar de nossos sentimentos e prego isso a todas as pessoas que me pedem opinião sobre o assunto. Temos o livre arbítrio mas nesse caso acredito que reprimir o que se sente só nos deixa angustiados e sofrendo de graça sem ao menos saber o que existe do outro lado. Se é pra sofrer, pelo menos sofra por um motivo real, por alguém que te disse não, que te abandonou, que te traiu... Sofra tudo que tiver que sofrer e depois exorcise tudo de ruim que ficou. Assim você fica mais forte e vai amadurecendo. Mas a cura total só vem com o tempo, nosso grande aliado. Agora sofrer por uma história que é só um faz-de-conta? Fala sério! Ninguém merece.

domingo, 17 de agosto de 2008

Micos "conjugais".


Por Daniel Ramos.

Ah, os relacionamentos... Como pode algo tão simples, nos tirar noites de sono, nos fazer suar frio quando nos aproximamos daquela pessoa especial, fazemos loucuras de amor e paixão para conquistar a pessoa amada e quando conseguimos... Bem, ai começam os primeiros meses de namoro, frio na barriga... Bem vou parar por aqui, porque o resto vocês conhecem. Meu assunto nesse post é compartilhar com os leitores os meus maiores micos em relacionamentos, aqueles de deixar Ben Stiller no chinelo. Preparados? Então, puxem um cadeira (acho que já fizeram isso) e venham ver o espetáculo.


MICO 1

Como sempre começando com um mais light. Estava eu na casa de um desses meus "causos", e notei que ja começava a ficar tarde. Como o namoro ainda estava no começo e eu conhecia bem minha fama de desastrado, evitava ficar pra jantar ou qualquer coisa em que pudesse chafurdar na minha própria lama de patifarias. Mas aquele dia não pude evitar, pois além de estar deveras tarde e meu estômago roncava como motor de patinete, resolvi ficar e deleitar aquela refeição em família. Para minha sorte, os membros da casa haviam saído, e estavamos na casa apenas eu, a "perna-de-calça" da minha namorada na época e o pai dela, dormindo no sofá. O jantar mais tradicional possível para uma noite de sabado: Pizza. Comemorei, mesmo que antes do tempo, pois era algo que dificilmente eu pagaria mico, a não ser que derramasse um fatia de calabreza na minha calça de moleton. Doce ilusão, pois eis que depois que nos servimos do alimento, eu resolvo abrir a garrafa de refrigerante. Só que em minha soberba falta de noção, esqueci que o refrigerante vem numa garupa de moto, com um condutor assás irresponsável, pulando lombadas e chacolhando feito dançarina de axé. Portanto, no momento que abro o refrigerante, aquilo explode de maneira irreprodutível, e confirmando a lei de Murphy, caindo um bom bocado de seu conteúdo em cima da inerte pizza. Aí ja viu, aquilo virou um mar de catupiry, azeitona, lombo e guaraná Dolly. Mas o pior foi meu ex-sogro, recém acordado de sua soneca vespertina, ainda meio grogue, servindo-se calmamente do que sobrou da pobre coitada. Nem quero imaginar a reação dele comendo aquela deliciosa mistura agridoce, tipicamente brasileira (afinal, gente, guaraná é da Amazônia né?!)

MICO 2

Esse aconteceu na época da Páscoa, onde se comemoram duas datas importantes: os 40 dias da ressureição de Cristo e a morte da minha vergonha na cara, porque depois desse, só sendo muito cara-de-pau para voltar a frequentar aquele ambiente familiar. Como todos nós sabemos, Páscoa é a época onde nos entupimos de chocolate e equecemos completamente o significado do feriado. Pois bem, estava eu em outra reunião de família, de outra ex-namorada. A família tinha uma tradição de reunir-se na casa da bisavó, onde havia um grande quintal e os pais escondiam os ovos das crianças nas árvores ali localizadas. A festa transcorria tranquilamente, até que percebo que uma das priminhas dela chorava compulsivamente por não ter encontrado seu ovo. Os tios brincavam, dizendo que o coelhinho da páscoa havia escondido ali no quintal mesmo, e um deles, bêbado, me lança: "o namorado da.... procura, é a primeira vez dele aqui, hahahahahah!" E eu, evidentemente na ânsia de agradar, fui atrás do tal ovo. Procurei por todo lugar, e já estava a ponto de chorar mais que a garotinha, quando olho para cima da árvore mais alta da casa e vejo, ali, pendurado em um dos galhos mais altos, o tal ovo. Provavelmente que o deixou ali foi o macaco-aranha da Páscoa, porque para subir àquela altura só sendo da familia dos símios. Bom, dizem mesmo que o homem advém do macaco, resolvi tentar. Até que, para meu espanto, consegui subir de maneira tranquila, arrancando até aplausos da família. Mas eis que pego o ovo, e ja quase no momento de descer, meu pé esquerdo escorrega, e eu sem titubear, prevendo a queda iminente, coloco o braço para apoiar minha queda. Só que da próxima vez que fizer isso, vou colocar o braço ONDE NÃO ESTIVER A PORCARIA DO OVO!!!!!. Resultado, braço fraturado e o ovo de chocolate completamente destruído devido ao meu peso. Os aplausos se transfomaram em olhares de desaprovação, e agora a priminha tinha reais motivos pra chorar. E eu também!

MICO 3

Sinceramente me pergunto como depois de tanto mico não continuo virgem até hoje. Bem, esse foi mais desgradável ainda do que os outros. Meu namoro já não andava as mil maravilhas, e eu tentava fazer de tudo para agradar. Numa noite, uma prima dela trouxe uma fita de vídeo na qual mostrava minha ex na formatura da quarta série, e nela aparecia seu finado pai. Era o único registro de imagem dele, e aquela fita era uma relíquia familiar. Só que havia um detalhe: eles não tinha vídeo cassete em casa, e eu como sempre, na melhor das intenções, me ofereci para emprestar o meu. Voltei pra casa e peguei meu legítimo "panaphonics" de Bogotá, com uma cabeça e meia, e levei para que pudessemos assistir. Demorei uma hora pra instalar, porque aquilo que eles tinham não era uma TV e sim um fogão de quatro bocas com imagem, mas tudo bem, consegui instalar. Colocamos a fita, e lá estavam as belas imagens dela pequenina no colo do pai, e todos na sala com os olhos marejados de saudade. Mas eis que meu vídeo começa a fazer um barulho estranho, que aumenta a cada minuto. Era um barulho como se lá dentro houvesse um gremlin faminto, um porco gemendo na faca, que estava ficando ensurdecedor, até que a imagem apaga de vez. Todos se entreolham assustados e eu me levanto para ver o que ocorreu. A situação começa a ficar afro-brasileira quando aperto o botão de ejetar e nada da fita sair. O suor frio descia pela minha espinha até chegar no meu glúteo máximo, que nesse momento encontrava-se em estado de animação suspensa devido ao medo. Me virei para os parentes e fiz sinal de negação com a cabeça, como um médico que dá a notícia de um falecimento. Completamente atordoado, levei o vídeo para minha casa e la tentei fazer algo. Aquele lixo teve que ser aberto a golpes de marreta, para então tirar de lá o que sobrou da fita, completamente carcomida e distorcida. Claro que meu namoro não durou uma semana depois daquele fato. Mas faz parte. O namoro foi para o cemitério junto com a fita.

sábado, 16 de agosto de 2008

Caro amigo Zzyziks,

Por Felipe Grilo.

Sei que você está de partida para conhecer o planeta Terra durante suas férias intergaláticas. Já fiz esse mesmo programa de índio – tive de parar minha espaçonave num continente e, por perceber que ninguém lá havia sido colonizado, batizei o lugar de "Brasil", que na nossa língua significa "escambau".

Mando esta mensagem para lhe avisar o seguinte: não é fácil se virar no planeta Terra. Principalmente quanto à comunicação. Você vai entender melhor com a prática, mas aqui vai um manual básico em formato de dicas:

1) Em locais conhecidos como elevadores, onde os seres humanos sobem e descem, é de bom tom dizer "Está quente, não?" ou "Está frio, não?" ou "Clima maluco, não?", mesmo que compartilhar informações meteorológicas não aparentem ter relevância. Os humanos sentem-se constrangidos por estarem em silêncio em local público.

2) Em contrapartida, um ser humano sempre pedirá informações quando você estiver de pé, andando, ocupado ou quando não sentir o menor constrangimento em permanecer calado.

3) Pequenos gestos fazem toda a diferença. Use o dedo polegar para dizer "opa, tudo beleza". Não o dedo médio. Na dúvida sobre qual dedo escolher para formular seu cumprimento, use apenas as cordas vocais.

4) Estes mesmos pequenos gestos podem mudar de significado de acordo com a região. Dedo polegar significa "tudo beleza" no Brasil, mas na Grécia significa algo como "Quero comer sua mãe". O canibalismo não é incentivado.

5) Contar piadas – causos engraçados, fictícios ou não, que estimulam o arqueamento labial - é uma tática utilizada para se apresentar coerente ao gosto popular e ao ambiente cultural que o cerca. O ato traz o significado implícito de "Ei, eu sou legal! Sou da mesma tribo! Não me matem!".

6) Contar piadas animam o ambiente e fazem de você mais querido no círculo social. No entanto, existem ocasiões em que é "necessário" estar triste ou ao menos compenetrado. Não comente sobre como é engraçado ter algodão dentro do nariz em uma cerimônia funerária.

7) Como a linguagem humana é versão beta 1.0, existem apenas três tipos de interlocutores no ato comunicativo de contar piadas: o que não sabe qual é a graça, mas sabe contá-la; o que dá risada sem entendê-la; e o que dá risada e explica a piada aos dois primeiros logo após ser contada. Na dúvida sobre qual tipo de interlocutor ser, não se comprometa: seja o segundo.

8) Cuidado ao utilizar o recurso da ironia em países cujo IDH é menor do que 80. Poucos seres humanos possuem facilidade em compreender a fina arte da valsa do insulto, da esculhambação com gentileza. Pare de ironizar ao primeiro "Desculpa, não entendi!".

10) Também pelas falhas da linguagem humana, obras primas da imagem, da literatura, da música e do cinema são dignas de compenetradas análises por parte de seus receptores, ainda que tais obras não necessitem de tanto esforço. Isso faz leva as mentes humanas a viagens conceituais diferentes dos caminhos traçados pelo artista. Esta é a arte contemporânea: é como dar um mapa para o outro se perder. Uma contradição em termos.

11) De acordo com a Constituição do Universo, artistas só têm seu talento reconhecido quando vão para o mundo dos mortos. A razão é simples: Mozart morreria duas vezes se soubesse que suas sinfonias viraram toques polifônicos.

12) Por mais que a sua linguagem ainda seja arcaica, os seres humanos avançam tecnologicamente no sentido de torná-la ainda mais. Com o advento do aparelho chamado celular, um ser humano tecla um código de oito dígitos para falar o que quiser com outro ser humano. Após o advento do SMS o mesmo ser humano precisa digitar, no mesmo aparelho, o código "666444#8883666#22336" para dizer "oi tudo bem". Portanto, adapte-se às novidades e pense em como você pôde viver sem elas.

13) O mesmo vale para a Internet – a rede terráquea de computadores. Com o tempo, você certamente vai presenciar abreviaturas em quantidade de fazer lembrar o tempo das mensagens secretas militares, economia em pontuações de fazer lembrar o tempo dos telegramas e mal-entendidos de fazer lembrar o tempo do telefone fixo, utilizado até hoje pelos seres humanos para desfazer os erros de interpretação ocasionados por um e-mail.

14) Eu poderia continuar, mas o resto você entende com a prática. Aliás, se preferir, esqueça tudo o que leu até aqui. Os seres humanos não prestam atenção em como se comunicam. Nem mesmo nas mensagens que emitem ou recebem. Tanto que não perceberiam, muitos deles, que neste pequeno manual não consta a instrução número 9.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sou chique, benhê, tô na Bienal!

Por Heloísa Noronha.

Amigos, meu novo livro estará à venda a partir da semana que vem no estande da Editora Rocco (fina eu, é a mesma do Harry Potter!) na 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que começou ontem (14) no Pavilhão de Exposições do Anhembi. Dessa vez, nada de ajudar a mulherada a evitar o surgimento de rugas, driblar os efeitos da lei da gravidade nos glúteos ou ganhar qualidade de vida dormindo mais e comendo menos: minha nova proposta literária é dar conselhos amorosos úteis e infalíveis. A obra-prima Manual da Ex / Manual da Atual tem quatro objetivos básicos: ensinar ex-namoradas a lidar com as atuais namoradas, ensinar as atuais namoradas a lidar com ex-namoradas, fortalecer a auto-estima de leitoras de qualquer estado civil e, é claro, permitir que a autora que vos escreve ganhe rios de dinheiro e tire finalmente o pé da lama. São dois livros em um só – de um lado, o Manual da Ex, e do outro, o Manual da Atual. A idéia foi contemplar os dois tipos de leitora como se fossem as duas faces de uma mesma moeda, já que praticamente todas as mulheres ocupam, pelo menos uma vez na vida, ambos os papéis. A linguagem é simples e objetiva, com dicas profundas e embasadas e, como é de meu feitio, muito humor e muita informação bagaceira. Abaixo, uma pequena amostra do conteúdo do capítulo 1 do Manual da Ex, sobre as pistas que os homens dão quando estão prestes a dar o pé na bunda em uma garota, mas não têm coragem. Esse texto é do meu arquivo original, ou seja, antes de ser publicado passou pela revisão e pelo crivo da editora. Mas, pelo que lembro de ter aprovado, devem ter mudado só uma coisinha ou outra:

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(...) em vez de mandar extraterrestres nos avisar que estamos correndo perigo e que é preciso ter fé (como no filme Sinais, com o Mel Gibson), eles fazem joguinhos psicológicos que vão destruindo os nossos nervos pouco a pouco. Agora que você está sozinha, veja se alguma das pistas abaixo soa familiar. À essa altura de nada adiantam, mas quem sabe você já fica esperta para os próximos relacionamentos?
1. Formalidade. Em vez de chamá-la de Pati ou de Carol, ele passa a pronunciar o seu nome completo: Patrícia Helena ou Maria Carolina. E com o mesmo tom de voz da sua mãe, quando você era criança.
2. Falta de desejo sexual. Mesmo vestida de Angel da Victoria’s Secret, ele a olha como se você fosse um vidro de picles. Detalhe: ele não curte comer picles.
3. Críticas à sua aparência. De repente, ele se transforma numa versão piorada do seu amigo cabeleireiro sincero, atacando-a com fases edificantes como “Nossa, querida, sua bunda está parecendo a estrada de Poços de Caldas!”, “Com essa maquiagem você vai assustar as criancinhas do prédio” e “Sua perna lembra a da Conga, a Mulher Gorila… Quer dizer, desculpa, a Conga tem menos pêlos que você”.
4. Discussões bobas. Qualquer coisinha vira uma confusão – e, é claro, ele fará com que você pense que a culpa foi sua. Se você sugere ir ao cinema ver determinado filme, por exemplo, o ciníco vai dizer que você é egoísta, que nunca pergunta o que ele quer fazer, que só pensa em si mesma e que precisa de espaço. Aliás, quero registrar que ODEIO quando algum homem diz essa expressão, “preciso de espaço”. Ah, quer espaço se joga do prédio, meu filho!!
5. Egocentrismo e desprezo. Ele começa a falar apenas da própria vida, sem parar, e nem presta atenção no que você diz. E quando você conta alguma realização bacana, ele duvida da sua capacidade ou a diminui.
6. Compromissos idiotas. Campeonato de golfe, batizado da filha da madrinha da faxineira, enterro do cachorro do vizinho, festival de cinema iraniano, passeata pelos direitos dos contadores travestis, XV de Piracicaba contra o Corinthians, lançamento de anão no espaço (olha aí o espaço de novo!)… Qualquer compromisso, mesmo os mais bizarros ou imbecis, serve de desculpa para fugir da sua presença.
7. Companhias. Sempre. Vocês não conseguem ficar mais nem um minuto sequer a sós. Para qualquer lugar aonde vão, ele leva alguém a tiracolo para impedir um contato mais profundo (literalmente) com você. A lista de intrusos inclui desde a irmã encalhada até o amigo nerd, o tio solteirão convicto e o sobrinho catarrento de dois anos. Se você conseguir arrastá-lo a um motel e ele for judeu, é bem provável que leve a mãe junto para curtir a banheira de hidromassagem.
8. Incentivo à loucura. Ele muda os objetos de lugar para que você não possa encontrá-los, comenta sobre coisas que você disse ou fez (e que não se lembra), age de maneira estranha em um dia e no outro, quando você pergunta se ele está bem, questiona sua lucidez. O objetivo, muito bem definido e bastante explorado por filmes de suspense, é fazer com que você pense que surtou e que não resta outra alternativa a não ser se internar no manicômio mais próximo. E sem direito a visitas, já que ele não pretende ver sua cara tão cedo.
9. Taradice crônica (mas não por você). Ele começa a virar o pescoço como a Linda Blair em O Exorcista diante de qualquer mulher que passa na rua, até mesmo das septuagenárias e das freiras. Enquanto isso, continua tratando você como o vidro de picles citado no item 2.
10. Higiene precária. Para irritá-la, ele deixa o cabelo e a barba crescerem. Se não funcionar, apela: deixa de limpar os ouvidos, cortar as unhas (inclusive as dos pés), usar desodorante, escovar os dentes e, por último, de tomar banho. Os adeptos mais ousados dessa tática não dão descarga após o número dois e fazem xixi na cama. Na SUA cama. Com VOCÊ dormindo nela.

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E ATENÇÃO, POVO!!! O coquetel de lançamento para amigos, familiares, conhecidos e afins vai acontecer no dia 9 de setembro, a partir das 18h30, na Livraria da Vila. O endereço é Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena (SP). Espero todo mundo lá!!! Quem não for, vou rogar uma praga maldita de cem anos! Assim que tiver o convite oficial bonitinho, com a capa e tudo, posto aqui!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ainda Lembro.

Por Adriana Hernandes.

Ainda lembro da sua primeira carta. Você começava se desculpando pelos erros e a falta de tino com as palavras. Mas todos aqueles anseios sobrepostos no papel da minha cor favorita eram tão maiores, qualquer “L” ou “S” fora do lugar não faria diferença alguma. Que minha antiga professora não me ouça, mas sabe que eu até achava um certo charme?

Ainda lembro dos nossos planos espalhafatosos para fugas arrojadas. Era tudo muito fácil. Pegaríamos uma bicicleta e iríamos pra praia. Alugaríamos um conversível e escaparíamos pro Uruguai. Construiríamos um foguete e partiríamos rumo à Lua! “Lua não, é muito perto. Vamos pra Saturno, é bem mais legal”. Eu me perguntava o que faríamos no Uruguai ou em Saturno, mas com o destino traçado, o resto era detalhe.

Lembro das batalhas para impormos nossas preferências, tudo extremamente importante. Que começasse a luta:

1º round: Pipoca vs. Biscoito de polvilho. Nem te dava chance, já ia respondendo: “Pipoca combina com todos os temperos, fica bom com tudo. Biscoito de polvilho tem gosto de ar, gosto de coisa nenhuma”. Você ficava sem ter o que dizer, então era ponto pra mim.

2º round: Queimada vs. Futebol. Você nem me dava chance, já ia respondendo: “Queimada não é esporte”. Eu não desistia e retrucava: “A gente joga assim mesmo”. Mas perdia com sua tréplica: “Já viu jogo de queimada na TV? Conhece algum time? Me diz o nome de um jogador? Viu, só? Queimada é brincadeira, não esporte”. Eu ficava sem ter o que dizer, franzia a testa, cerrava os olhos, juntava os lábios, mas dava o braço a torcer, então era ponto pra você. Engraçado que nós nunca tentamos o 3° round, era bem melhor quando os dois saiam vitoriosos.

Lembro da tua cara tediosa em frente aos exercícios de sintaxe. Irritava-se com as orações, elas eram muito subordinadas. E odiava procurar o tal sujeito, mesmo o coitado tendo tantos predicados.

Mas eu também lembro das tuas tentativas frustradas de me encaminhar pelos trilhos nebulosos da Química. Você aparecia com todos os elementos necessários, do metal mais vil ao gás mais nobre. Não adiantou de nada, da minha parte nunca houve reação.

E das buscas por constelações, lembra? Você me mostrava Centauro, eu lhe indicava o Cruzeiro do Sul. Mas a verdade é que nós não entendíamos absolutamente nada disso, e só decoramos esses nomes porque vimos em algum livro de ciências enquanto esboçávamos nossa rota até Saturno. O que não tirava a graça de ficarmos horas e mais horas olhando para o céu, apontando pro vazio e fazendo desejos pra qualquer estrela que brilhasse mais forte.

Lembro quando nos fitávamos até um dos dois desistir e piscar, impressionante como eu sempre ganhava. Também, nunca cansei de te olhar nos olhos, tão apaziguadores. Sempre foram meu oceano Pacífico em momentos de abalos terrestres.

Se eu puxar bem pela memória, sei que vou me lembrar de muito mais. Mas me conforta tanto saber que não preciso lembrar dos teus olhos, é só virar pro lado e eles estão lá, juntos de você, sempre dispostos a me resgatar das tormentas.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Mil novecentos e noventa e quatro.

Por Cristiane Senn.


Na quarta-feira passada falei sobre forma x conteúdo, palavras em latim, bolo de fubá, textos infantis. Devido à falta de tempo e idéias, hoje resolvi pegar uma carona neste último, aproveitando-me do banco de textos preparados durante toda a minha vida para um possível blog.

Segue o primeiro deles, original e transcrição. Relíquia.



Galho e Assoalho

Galho é o gato de Seu Sapalho
Assoalho é o cão do seu João.
João faz cartão.
Sapalho joga baralho.
Galho e assoalho brincam.
Assoalho arranca o galho dá árvore.
Galho chora:
- Miau, miau, miau, miau.
Assoalho tem dó e fala:
- Au, Au, Au, Au, Au.
Mas quem conhece a sílaba lho?
Eu só eu, mais ninguém.
Galho come ovo com alho.
Assoalho come sabão com pão.
Que fome, não!
Nenhum cachorro come sabão.
E então eu falo a sílaba im e eu digo fim.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Se.


Por Vinícius Noronha.

Se você precisar escrever, pra desabafar ou colocar os pensamentos no lugar, eu oferto algumas linhas desenhadas por mim, meio tortas, mas que com certeza abrigarão com muito gosto qualquer recado seu que não puder esperar. Se você não estiver conseguindo sorrir, eu puxo os seus lábios, com meus dedos, no formato de um sorriso exagerado, e de tal maneira que ele, por fim, se torne espontâneo.

Se as águas tortuosas se tornarem um real perigo, eu faço o seu pulmão e seus braços ficarem tão fortes e resistentes que será impossível que elas te vençam. Obstáculos? Empresto minhas asas. Feridas? Sou o band-aid onipresente. Enxaqueca? Pode deixar que eu desligo o mundo até você melhorar.

Se a emoção se dissipar, provoco a aventura em reinos inexplorados, cheio de seres amistosos em volta da cabana. Se a indiferença surgir, reforço a placa de atenção. Se a ansiedade se prover, eu pesco, aonde quer que esteja, o mais perfeito equilíbrio.

Se os livros não te disserem mais nada, eu invoco o silêncio mais cúmplice e sábio. Se o pé estiver ferido, um serviço rápido e completo delivery 30 horas por dia será encaminhado pra te levar aos destinos planejados. Se o sono não vier, faço o acalanto mais suave criar vida dentro do fechar dos seus olhos.

Se as canções forem chatas, contrato a fanfarra mambembe e rearranjo tudo com os instrumentos mais extravagantes e melodias McCartneyanas. Se o papo estiver cansativo, declamo Drummond com nove luas servindo de locação. Se todo e qualquer sentimentalismo parecer inócuo, trago as crianças que nós fomos para que possamos resgatar algumas razões e encantos.

Se o cansaço parecer infinito, te dou o travesseiro mais confortável, com o café-da-manhã mais agradável, na cama de algodão-doce. E se a ansiedade e impotência se infiltrarem nas suas tarefas, providencio magos e fadas instantaneamente que desenvolvam, em conta-gotas e sem contra-indicação, a impermanência do flagelo.

Se os dias forem sinônimos de desgaste e incertezas, promovo a maior descontração e ternura num teatro de marionetes. E se a impressão for de que sua sina, equivocada, já está sublinhada, eu contrato os melhores autores para que tudo na sua existência seja ensinamento e delicadeza. E com a pólice de que, ainda no meio da trama, a sua alegria se desvincilhe de qualquer ponto final.

Se a paixão te pegar, serei o pombo-correio endiabrado sobrevoando mares pra espalhar as boas novas. Se a dor te pegar, serei a pena que fará cócegas nos seus pés. Se a solidão te pegar, serei a arquibancada de Fla-Flu gritando o seu nome. Se o tédio te pegar, sintetizo um espetáculo numa caixinha de fósforo, pra você poder levar pra onde quiser.

E se, no fim das contas, tudo parecer tão sisudo e sem sentido, e as fantasias e sonhos se esvanecerem nas sombras da rotina, te ofereço, disfarçada de gratidão e embrulhada em carinho, a crônica mais espontânea que eu poderia escrever.

Paradoxo.


Por Sergio Faria.

Nem toda atração é paixão
Nem toda paixão é aventura
Nem toda adoção é alívio
Nem todo alívio é cura

Nem todo abraço é abrigo
Nem todo abrigo é família
Nem todo adultério é tentação
Nem toda tentação é armadilha

Nem todo desastre é acidente
Nem todo acidente é acaso
Nem toda crítica é censura
Nem toda censura é atraso

Nem toda festa é disfarce
Nem todo disfarce é trauma
Nem todo cansaço é velhice
Nem toda velhice é calma

Nem toda disciplina é rigidez
Nem toda rigidez é militar
Nem todo casal é união
Nem toda união é altar

Nem toda derrota é queda
Nem toda queda é embriaguez
Nem toda ausência é silêncio
Nem todo silêncio é timidez

Nem todo talento é dom
Nem todo dom é exercício
Nem toda eloqüência é pregação
Nem toda pregação é desperdício

Nem toda direção é busca
Nem toda busca é realização
Nem toda coragem é heroísmo
Nem todo heroísmo é salvação

Nem toda aids é solidão
Nem toda solidão é deserto
Nem todo ensino é livro
Nem todo livro é aberto

Nem todo futuro é filho
Nem todo filho é ingrato
Nem todo fanático é louco
Nem todo louco é insensato

Nem todo esnobe é burguês
Nem todo burguês é racista
Nem todo pai é espelho
Nem todo espelho é egoísta

Nem toda beleza é juventude
Nem toda juventude é audaz
Nem toda distância é saudade
Nem toda saudade é fugaz

Nem todo encontro é coincidência
Nem toda coincidência é evidente
Nem toda intuição é conselho
Nem todo conselho é conveniente

Nem toda bondade é milagre
Nem todo milagre é redentor
Nem todo chefe é líder
Nem todo líder é ditador

Nem todo achado é lucro
Nem todo lucro é material
Nem toda idolatria é pecado
Nem todo pecado é carnaval

Nem todo alimento é consumo
Nem todo consumo é necessidade
Nem todo labirinto é mulher
Nem toda mulher é metade

Nem todo atalho é nudez
Nem toda nudez é injúria
Nem todo prazer é sexo
Nem todo sexo é luxúria

Nem todo judas é político
Nem todo político é ladrão
Nem todo beijo é afeto
Nem todo afeto é compreensão

Nem toda informação é cultura
Nem toda cultura é útil
Nem todo exagero é mídia
Nem toda mídia é fútil

Nem todo discurso é mensagem
Nem toda mensagem é luz
Nem toda covardia é aborto
Nem todo aborto é cruz

Nem toda formalidade é respeito
Nem todo respeito é medo
Nem toda tragédia é destino
Nem todo destino é segredo

Nem todo diálogo é acordo
Nem todo acordo é harmonia
Nem toda paz é sonho
Nem todo sonho é utopia

Nem toda castidade é tortura
Nem toda tortura é febem
Nem toda entrega é natureza
Nem toda natureza é refém

Nem todo ciúme é sofrimento
Nem todo sofrimento é escola
Nem todo lixo é supérfluo
Nem todo supérfluo é esmola

Nem todo mercenário é eleitor
Nem todo eleitor é escuridão
Nem todo verbo é criação
Nem toda criação é inspiração

Nem todo irmão é amigo
Nem todo amigo é fiel
Nem todo adeus é morte
Nem toda morte é cruel

Nem todo indefeso é inválido
Nem todo inválido é infeliz
Nem toda esperança é tempo
Nem todo tempo é cicatriz

Nem todo diploma é inteligência
Nem toda inteligência é benefício
Nem todo impulso é abismo
Nem todo abismo é vício

Nem toda mãe é acalanto
Nem todo acalanto é lembrança
Nem toda virgindade é pureza
Nem toda pureza é criança

Nem todo homem é ameaça
Nem toda ameaça é valentia
Nem todo olhar é incógnita
Nem toda incógnita é fantasia

Nem toda matança é guerra
Nem toda guerra é dinheiro
Nem todo inferno é inimigo
Nem todo inimigo é estrangeiro

Nem todo sorriso é alegria
Nem toda alegria é contagiante
Nem todo hipócrita é convertido
Nem todo convertido é arrogante

Nem todo mestre é sábio
Nem todo sábio é ancião
Nem todo consenso é música
Nem toda música é emoção

Nem toda existência é experiência
Nem toda experiência é aprendizado
Nem toda inquisição é igreja
Nem toda igreja é mercado

Nem toda fama é arte
Nem toda arte é imortal
Nem toda dúvida é adolescente
Nem todo adolescente é radical

Nem todo trabalho é orgulho
Nem todo orgulho é exibição
Nem todo agradecimento é rotina
Nem toda rotina é alienação

Nem todo aplauso é elogio
Nem todo elogio é aprovação
Nem toda repetição é paciência
Nem toda paciência é oração

Nem toda mão é caridade
Nem toda caridade é paliativo
Nem toda lei é limite
Nem todo limite é relativo

Nem toda competência é critério
Nem todo critério é essencial
Nem todo erro é ignorância
Nem toda ignorância é fatal

Nem todo mártir é sensível
Nem todo sensível é poeta
Nem todo mandamento é desafio
Nem todo desafio é meta

Nem todo jogo é brinquedo
Nem todo brinquedo é lazer
Nem todo vampiro é eleito
Nem todo eleito é poder

Nem todo abuso é policial
Nem todo policial é delinqüente
Nem toda mudança é vontade
Nem toda vontade é suficiente

Nem todo êxtase é sucesso
Nem todo sucesso é escravidão
Nem toda pobreza é violência
Nem toda violência é ficção

Nem todo cuidado é proteção
Nem toda proteção é segurança
Nem toda geração é promessa
Nem toda promessa é herança

Nem todo esforço é êxito
Nem todo êxito é recompensa
Nem todo horror é prisão
Nem toda prisão é sentença

Nem toda reflexão é filosofia
Nem toda filosofia é vã
Nem toda força é benção
Nem toda benção é manhã

Nem toda emoção é lágrima
Nem toda lágrima é sinceridade
Nem toda fuga é suicídio
Nem todo suicídio é vaidade

Nem toda fraqueza é doença
Nem toda doença é luta
Nem tudo que penso é verdade
Nem toda verdade é absoluta

domingo, 10 de agosto de 2008

Por quê?

Por Daniel Ramos.

Todos nós sabemos, digníssimos leitores e leitoras, que o ser humano é falho, cheio de fraquezas e traços de caráter que muitas vezes são moldados já na nossa tenra infância. Pois bem, hoje esse proficiente blogueiro vos brindará com os maiores traumas que tenho no meu nível consciente de psiquê. E por que não dividí-los com meus queridos leitores? Vamos a eles:

- Por que eu não danço?

Essa é fácil de responder. Primeiro lugar, apesar da tez ligeiramente morena, e da minha afro-descendência, eu infelizmente nasci agraciado com a cintura e a ginga de um legítimo habitante da península escandinava, e posso jurar que quem já me viu dançando com certeza deve ter dito “Aposto que ele aprendeu esses passos em Oslo!”.
Mas como cabe ao ser humano não se ater às suas limitações, quando tinha meus 12 anos de idade resolvi embarcar numa aventura: Tomar aulas de dança de salão. Sim, isso tem documentado e a fita está em minha posse. Não precisa nem dizer que ao longo do curso acabei ficando na turma dos menos capacitados, aquela que fica no fundo da sala de aula, longe dos olhares de reprovação do mestre. Ah, o professor era um show à parte. Másculo como uma borboleta, ele vira e mexe soltava gritos histéricos, que poderiam rachar um vidro de cristal. Mas apesar de crítico, sempre soube escapar de seu olhar impiedoso. Mas infelizmente a doninha nunca foge do caçador (nesse caso um caçador de echarpe de seda branca, bermuda florida e um mosquete de esgrimista). Chegou o dia da formatura, e todos tinham que dançar um pouco para o “mestre” avaliar. Depois da apresentação da turma da frente, eu fui logo o primeiro dos fracassados a tentar. Dancei ao som de “Paparico” do Molejo ( parem de rir!!!), porém a batida do pagode não me empolgou e eu dancei meu clássico “dedinhos pra cima e pernas semi-paralíticas”. Quando terminei a valsa da morte, o professor se levanta, vermelho como um camarão, passa a mão na testa e grita :”Criatura!!!!!!!!!!! O que é isso que você acabou de dançar? Sai, sai da minha aula meninoooooooooo!!”. Claro que dei boas gargalhadas com aquilo, pois provei pra mim mesmo que meu lugar não era ali.

- Por que tenho medo de nossa senhora de Fátima?

Era uma noite de domingo, e eu queimava em febre na cama de casa, com dificuldades em respirar, e assistindo “Fantástico” na TV. Eis que começa a passar uma reportagem falando das aparições de Fátima, a fim de revelar seus três segredos às crianças. Relataram como seria a possível aparição, consistindo numa fumaça espessa, e cheiro de rosas. Tudo bem, tudo lindo, mas eis que olho pro lado da minha cama e vejo uma fumaça pairando por ali, parecida com a descrita na reportagem. Minha reação foi ficar paralisado de medo, sentindo a vista ficar turva e prestes a desmaiar, quando em minha última fagulha de sanidade me lembrei: DO BENDITO APARELHO DE INALAÇÃO!!!!!!
Sim, confundi a piedosa santa portuguesa com um aparelho de inalação velho e barulhento. Blasfêmias à parte, ficou claro que se a santa aparece para mim com o intuito de me revelar seus três segredos, eu provavelmente me borraria todo e em minha cabeça só ouviria” por favor não me leva, por favor não me leva”!

- Por que não como sagu?

Essa é fantástica. Estava reunido com uns amigos paulistanos, na gloriosa capital, pois tínhamos marcado de ir a um show de graça, se não me engano na Avenida Paulista. Chegamos por volta das oito e meia, e o show ainda não havia começado, quando um dos meus colegas de ocasião solta: “gente estou com fome, vou ali comer um pastel!” e sumiu. O show tem início com Asa de Águia (calma, não é esse o motivo de não comer sagu, se bem que poderia!!!) e a noite segue, até que o companheiro do pastel volta, com uma garrafa de São Tomé nas mãos faltando apenas um dedo para acabar, completamente embriagado e já trocando as devidas letras do alfabeto por dialetos indecifráveis. A medida que o show transcorria, notei que o amigo ia ficando cada vez menos animado, e sua mão começa a roçar na barriga, como se algo ali dentro quisesse sair. E não deu cinco minutos, a contenda aconteceu. Ele começou a contorcer o rosto e boca, quando dela saiu um líquido roxo, meio grosso, que até então não me vinha nada na cabeça ( apenas o porque eu não parei de olhar para aquela cena), até que um engraçadinho do meu lado lança: “nossa..que nojo, parece SAGU!!!”
Pronto, foi o suficiente pra eu marcar aquela cena e nunca mais ter chegado perto de um prato contendo a sobremesa (agora acho que vocês também não!!).

sábado, 9 de agosto de 2008

Retrato falado.


De Felipe Grilo.

Eis que alguém resolve queimar mais um indigente para dar brilho à noite sem estrelas. Clima de suspense e tensão na delegacia que vai apurar o caso. O culpado escapou. O mendigo, muito bem passado com essa história toda, estava dormindo bêbado antes do ato cruel e agora está em estado grave na UTI, vítima de queimaduras de terceiro grau. Antes de morrer, disse ao delegado que:

- Eu só vi o vulto de um cara magrelo e cabeçudo saindo da caixa e vindo todo aceso pra cima de mim. Daí ele caiu pra cima e.

O mendigo morreu. O delegado disse para a imprensa que iria cair em cima dos suspeitos. A imprensa disse para a opinião pública que iria cair em cima do delegado enquanto ele não caísse em cima dos suspeitos. A opinião pública disse que ia cair em cima do legislativo com suas passeatas. Daí você, caro colega, já pode ver o montinho da polêmica no final do horizonte para mostrar ao seu netinho, e contar para ele esta história que agora sou eu vou lhe contar.

Saiu tudo numa revista de circulação gratuita na região, mas como os fatos foram escassos e a notícia, uma notinha, todo mundo acompanhava a seção de cartas com mais afinco para entender o assunto que comoveu o país.

“Essa onda de violência precisa parar. O depoimento do indigente diz tudo o que a polícia precisa saber: foi um homem magro e cabeludo. Esperamos que o delegado consiga encontrá-lo entre vários suspeitos e aplicar a pena justa para crime tão hediondo.” (Zilda, dona-de-casa, por telefone).

“O cara de black power merece ser queimado é nas pregas!”(Tonhão, açougueiro, por berro na porta da redação).

“Nossos sentinelas aqui da comunidade viram um indivíduo andando com uma perua em alta velocidade por aí. Já que a polícia não faz nada, eles mesmos vão fazer esse maluco dormir apertadinho numa caixinha de madeira de verdade.” (M.Z.C., civil, por recado embaixo do travesseiro do editor).

“Claro que “dormir apertadinho na caixinha de madeira” foi um código dado pela milícia, assim como “fazer seu lanchinho” é o mesmo que esquartejar alguém e esconder o presunto picadinho em algum colchão. Analisando a mensagem: quem dorme na caixa, ou é sapato, ou é boneca. E boneca pra mim é travesti. A imprensa não diz, mas parto da teoria que os grupos minoritários transexuais, tão discriminados e desrespeitados, estão defendendo seus direitos na base da porrada.” (Pimentel, vigilante de rua, por rádio amador).

“Retiro o que disse: a perua NÃO merece levar queimada nas pregas!” (Tonhão, açougueiro, rindo na porta da redação).

“Durmir numa casa de madeira compensada de um único cômodo deve ser uma difícil situação socioeconômica, diria até desumana. A violência está se tornando não apenas banalizada, mas comum, utilizada como método de reagir a um sistema que não prioriza os direitos humanos e civis. Precisamos dar condições! Precisamos reavaliar!” (Zulmira, assistente social, por carta).

“Eu sabia que tinha favelado no meio. E mona, ainda por cima. E não deve ser uma só, não.” (Angélica, travesti, por SMS ao nosso editor).

“As habitações conjuntas são comuns na região. De fato, os transexuais aqui são praticamente tudo farinha no mesmo barraco.” (Solange, psicóloga, por e-mail).

“Esperamos que apertem o cerco contra os principais suspeitos, que o transexual e sua gangue sejam detidos, que esperem seu julgamento longe da sociedade e, caso se confirmem as denúncias do esconderijo de cocaína e outras drogas, que o recinto seja estourado.” (S.C, jornalista, por e-mail).

“Será que voltamos à época de Madame Satã? Conheceremos o ídolo do culto à violência de nossos tempos?” (Donizete Pinto Soares, sociólogo, por e-mail).

Enfim, suspeitos nunca foram detidos, o culpado nunca foi encontrado e a pauta da revista deu lugar a qualquer outra chacina. As chamas dos fatos jornalísticos se apagaram na pontinha do iceberg de infindáveis versões. Mas, no cume de uma montanha de lixo, longe da vista de todos, eis que aparece o real assassino descrito pelo falecido mendigo:

Moral da história: não forme sua opinião somente com base na opinião alheia. Procure se informar.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

TOP 10.

De Heloísa Noronha.

Você, leitor(a), com certeza já deve ter (no mínimo) ouvido falar do Almanaque Anos 80, livro divertido e rico em informações sobre uma das décadas mais cafonas da História. Lançado há cerca de três anos pela Ediouro, virou best-seller absoluto. Seus autores, os jornalistas Mariana Claudino e Luiz André Alzer e Mariana Claudino, estão de volta às livrarias com outra obra deliciosa: em Os 10 Mais – 250 Rankings que Todo Mundo Deveria Conhecer (Agir), a dupla investe na fórmula infalível das listinhas. São 250 listas – eleitas pelos dois e por celebridades como Zé do Caixão – sobre os mais diversos assuntos: cultura, música, esportes, lazer... Assim, além dessa dica de leitura, minha coluna dessa semana traz cinco listinhas que elaborei, muito pertinentes à minha pessoa. Quem quiser comentar e também inventar uma listinha, será muito bem-vindo(a). Aí vão meus Top 10, com itens que não estão, necessariamente, em ordem de preferência:

10 amores-ídolos-príncipes-encantados de infância/adolescência:
* King Kong (o do filme dos anos 70)
* O mocinho do filme Gremlins
* Éder, jogador da seleção brasileira de futebol de 1982
* Tarcísio Meira
* Jon Bon Jovi
* Slash
* Paulo Ricardo
* Steve Tyler
* Michael J. Fox
* Boy George

10 personagens que eu gostaria de ser:
* Pequena Miss Sunshine
* Beatrix Kiddo, de Kill Bill
* Mafalda
* Holly Golightly, de Bonequinha de Luxo
* Mulher Elástica
* Jerry, de Tom & Jerry
* Samara, de O Chamado
* Maga Patalógica
* A Bela Adormecida
* Norman Bates, de Psicose

10 coisas que me dão muito medo:
* Lagartixas
* Cachorros
* Rugas
* Velhinhas que puxam conversa em filas
* Extrato bancário
* Meus vizinhos
* Banheiro da firma
* Engordar a ponto de ser içada pelos bombeiros
* Exame de sangue
* São Paulo Fashion Week

10 músicas que eu acho que fazem parte da trilha sonora do inferno:
* You’re Beautiful, James Blunt
* Take My Breath Away, Berlin
* Dona, Roupa Nova
* Vitoriosa, Ivan Lins
* Desenho de Deus, Armandinho
* Canção da América, Milton Nascimento
* Come Back to Me, Janet Jackson
* La Bamba, Richie Valens
* Love Generation, Bob Sinclair
* I Will Survive, Gloria Gaynor

10 coisas bizarras que já vi ao vivo, em cores e, pior, de perto:
* Casa de sadomasoquismo
* Túmulo do Jim Morrison
* Acampamento de ciganos
* Daslu
* Galinhas em árvores
* Orfanato Raio de Luz da novela Chiquititas
* Roberto Carlos
* Sovaco peludo de uma alemã
* Show do Menudo
* Anão de moto (é, eu não consigo me livrar dessa lembrança!!)

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Para os broncos.

De Adriana Hernandes.

Desde que o mundo é mundo a mulher é reverenciada em prosa e poesia por aí de uma forma muito bela, virtuosa etc. O que é justo, aliás, já que realmente somos seres iluminados, superiores e muito modestos também. Mas tudo o que é demais enjoa e, sinceramente, já está na hora de darmos o devido valor a uma espécie que já começa a entrar em extinção e continua sendo tão mal interpretada pelo universo (feminino, diga-se de passagem). OS BRONCOS!

Sim, os broncos. Indivíduos que falam com a boca cheia, usam meias furadas no dedão e acham que a louça da pia é magicamente limpa por alguma espécie leprechaum que aparece á meia-noite.

Vamos dar importância á esses homens!!

Façamos odes á essas criaturas que nunca reparam no que estamos vestindo. Pode ser uma calça Jeans e uma regata branca ou uma fantasia de Carmem Miranda, pra eles não há diferença.

Recitemos versos aos guerreiros Vikings que, munidos de infinita bravura e um chinelo Havaianas, arrasam aqueles demônios que insistem em aparecer em casa nos dias de calor. E com toda a modéstia do mundo ainda dizem: “Mas era só uma baratinha, meu bem”.

Escrevamos sonetos para esses verdadeiros titãs que conseguem abrir potes de palmitos e trocar o resistor do chuveiro com tamanha maestria.

Festejemos com eles mais uma vitória conquistada com sangue, suor e lágrimas no Street Figther ou Mortal Kombat.

Valorizemos seus esforços em aprender a bailar Valsa para tentar nos conduzir em nossas festas de debutantes. Mesmo sabendo que seus movimentos corporais se limitam à dancinha do Robô.

Admiremos a façanha de conseguirem decorar a escalação de times como Veranópolis e Asa de Arapiraca, e não lembrarem o dia do nosso aniversário.

Exaltemos a petulância deles em nos levar aos restaurantes mais polidos, e pedirem, na maior cara de pau, um copo de cerveja preta e uma picanha tão mal passada que ainda se ouve o mugido da vaca a cada garfada.

Apreciemos vossa teimosia em sempre dizer que pátina e drenagem linfática são pura frescura. (Isso, claro, depois de descobrirem o que são pátina e drenagem linfática).

Precisamos enaltecer esses ogros de gestos tão delicados quanto uma betoneira.

Os broncos também amam, gente. Embaixo daqueles peitos cabeludos também bate um coração. E por saber que no fundo, bem lá no fundo, no fundo meeesmo, são dotados de certa doçura, eles terão eternamente o meu carinho e minha admiração!

(Mas se eles pararem de deixar a toalha molhada em cima da cama, acabarem com os campeonatos de arroto e nunca mais coçarem o ouvido com a chave do carro, a gente agradece muito).

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Et Coetera.


De Cristiane Senn.


É que títulos em latim sempre deixam o texto mais bonito. Dá impressão de que se é um profundo conhecedor da língua e suas origens. E eu, como sempre, valorizo muito mais a forma do que o conteúdo - vício grave, que não me agrada, e para o qual não existe nenhum grupo de apoio.

É que meu sonho é um dia desses conseguir abstrair os conceitos de forma e/ou conteúdo. Acho a forma muito mais bacana, quando, sob o sol, evapora conteúdo, mas continua sendo forma acima de tudo. E isso não se resume às artes plásticas. Aliás, eu nem sei falar de artes plásticas. Elas provocam sensações, e não sei discorrer sobre sensações. Sou pragmática - vício grave, que não me agrada, e para o qual não existe nenhum grupo de apoio.

É que eu acho que as coisas em geral são muito mais simples do que se pensa. Um bolo de fubá é sempre um bolo de fubá. Mas se ele tiver a forma que o identifica como sendo um bolo de fubá, o conteúdo será apreciado com, pelo menos, mais seriedade. E ainda, se ele subverter a forma tradicional de bolo (e isso tiver algum tipo de propósito), será inclusive tratado com mais respeito. Mas isto foi apenas uma idéia que me ocorreu momentaneamente. No minuto seguinte farei uma parágrafo defendendo a antítese.

É que, pensando bem, as coisas são bem mais complicadas do que a gente costuma acreditar que elas são. Para um chef de cuisine, profundo conhecedor da língua e suas origens - no sentido gastronômico da coisa -, a forma do bolo e o conteúdo do bolo precisam estar em pleno equilíbrio, porque a gastronomia é a arte das sensações visuais e gustativas e sociais e sexuais e intestinais e 'et coetera' e tal. Isso não explica absolutamente nada, mas achei uma frase boa o suficiente para se sobrepor à minha crise criativa.

É que, quando me preocupo com o conteúdo, meu texto assemelha-se ao de uma criança de sete anos. Adoro textos de crianças de sete anos e tenho certeza de que você também, embora nunca paremos para pensar sobre. Mas quando se tem mais de 20, não se pode escrever como uma criança de sete, a não ser que se adote a forma do texto infantil com algum propósito, assim, cheio de conteúdo.

Enfim, 392 palavras depois (acabei de descobrir um recurso de contagem no word), não consigo encontrar um sentido pra nada disso. Mas não me abalo pois, mesmo que o achasse, concordo com Leminski quando diz que "o sentido é a entidade mais misteriosa do universo".

É que quando você não consegue terminar um texto, citação é a salvação.