sábado, 26 de julho de 2008

A fabulosa arte de presentear.

De Felipe Grilo.

Não há cultura neste mundo que não possua o hábito de dar presentes. Afinal, é uma troca de carinho diplomaticamente poderosa: por um montante de pedrinhas, galinhas, espelhos e outras mulambas, Portugal já ganhou um país (hoje, o Risco Brasil já vale um pouco mais que isso).

Desculpem, não vim falar sobre política e não gosto do assunto. Fica para uma próxima. Tudo isso foi para dizer que - perdoem o trocadilho desta vez (sábado de manhã, pô, dêem um desconto) - desde que Brasil é Brasil, presentear virou mesmo programa de índio. Índio não sabe dar ou receber presente.

Cada pacote é uma surpresa que, além da linda lembrancinha (que, ah! você não precisava!), é possível ver, no brilho dos olhos dos presenteados, toda aquela sensação de alegria súbita a cada desenrolar dos laços dos pacotes, juntamente à sensação de laços de amor, amizade ou contas bancárias ainda mais fortes e unidas. Lindo de descrever, mas a verdade é a seguinte: a sensação de ter feito merda ao escolher e receber um determinado presente vem imediatamente antes de toda esta simbologia. Quem presenteia sabe que a reação, por parte do presenteado, vai ser maravilhosamente falsa se não for nada daquilo que ele queria. É ou não é?

Claro que há exceções. Dona Zilda, que "ama detestando" cartões de aniversário com mensagens clichês, ganhou de suas sobrinhas gêmeas de 6 anos algo parecido, mas diferente: um monte de pedaços de folhas sulfites rabiscados, colados uns nos outros pela ponta, com um "Parabéns tia!" escrito na frente aos garranchos de criança. Claro que ela adorou, afinal, presente de criança é sempre fofo. Só tem um detalhe:

- Aaaaah, que lindo o cartão que vocês me deram!

- Não é cartão, tia! É um livro!

Ainda bem que ela gosta de ler tanto quanto eu gosto de camisetas laranja. No entanto, um dia fui comentar este meu lado fashion com minha avó. Durante os próximos aniversários, natais e dias das crianças, ganhei cinco camisetas laranja do mesmo tom e tamanho.

Voltando um pouco aos cartões, costumo dizer que são bregas, é verdade, mas o tempo passa, a era da informação vêm e a coisa só piora: alguém aí já escreveu ou recebeu "depô" de aniversário no Orkut?

Tem gente que se profissionaliza. Alguém aí é do tempo das tele-mensagens? Conheço gente que ganha dinheiro fazendo as pessoas se emocionarem com mensagens de PowerPoint, mas sem o PowerPoint.

E presente dado para criança? Que terror que vai ser é se ela for sincera! Porque, para crianças, qualquer um entra num dilema: agradar a criança ou aos pais dela? Dar um brinquedo caro, cheio de frescurinhas, para a criança adorar e engavetar quando acabarem as pilhas ou dar roupas, coisa que ela vai tirar do pacote fazendo muxoxo?

Todo final de ano precisa ter aquilo de amigo secreto. Vaquinha de cinco reais na empresa, parada no bar, fazer discursinho e abrir as lembrancinhas. Geralmente gravatas, porta-retratos, souvenires ou enfeites de mesa. Inimigos secretos são mais divertidos: sutiãs tamanho GG, chocolate em formas "diferentes", cintos de oncinha, fraldas, enfim. Acho que o meio termo dos dois devem ser os chás e bebê (Helô, não é nada pessoal, tá? =P).

No entanto, dignas de todas as menções honrosas deste texto são os presentes entre namorados, maridos, amantes ou pretendentes. Até hoje imagino a cara da minha amiga ao receber, do seu primeiro pretendente a namoradinho – e na frente de todos os amigos, claro – um pote de goiabada (isso mesmo: um pote de goiabada) junto a uma declaração de amor feita de joelhos. O cara devia achar que estava abalando. De fato: ela tem traumas até hoje.

Enfim, para finalizar, seja lá o que for dar de presente, dê com sinceridade. Faça como um amigo meu, o Coca: só para zuar, ele deu a um amigo nosso uma camiseta usada e um chaveiro. Nunca vi os dois rindo tanto juntos. No aniversário do Coca, fui pobre: dei uma poesia de tolação. Ele curtiu bastante.

***

Pessoal que está me lendo, desculpe se o texto não está as mil maravilhas. Estava planejando só me apresentar ou escrever algo que colocasse meu estilo para conhecimento de todos. No entanto, calhou que justamente hoje é meu aniversário (faço 20 anos) e, então, escrevi não com o objetivo de ser apenas temático, mas sim aproveitar este espaço no blog da forma como ele é para mim: um ótimo presente que vocês me deram.

5 comentários:

Vini Noronha disse...

Depois desse belo presente que é esse texto, só em resta lhe ofertar esse humilde comentário. Que troca justa, não? hehe

E parabéns pelo seu aniversário. Que você ganhe muitos depôs e camisetas laranjas nesse dia tão festivo.

abraço

Adriana disse...

Lembrei de um episódio do “Mundo da Lua” em que o Lucas faz aniversário e ganha um par de sapatos de couro de crocodilo, hahaha.

Posso falar? Adorei a história do pote de goiabada. Não podemos negar que o cara foi original.

E parabéns (atrasado) pro Grilo :)

Anônimo disse...

Ótimo texto!
haha.
Principalmente para alguém que já ganhou uma cueca samba-canção de aniversário (e ela jurava que eu podia usar de shortinho!), e já presenteou alguém com um peixe morto esmagado (juro que tinah um significado!).
Parabéns!!

Grilo disse...

Peixe morto esmagado?? Nossa!

Brigadão, Ká!

Cri disse...

parabéns, xará! pelo aniversário e pelo texto. a história da goiabada é demais engraçada.