sexta-feira, 25 de julho de 2008

Sobre desejo assassino e anões.

De Heloísa Noronha.

Em primeiríssimo lugar, gostaria de registrar que é e será um prazer imenso colaborar com esse blog. Sempre tive vontade de ter um, mas a falta de tempo e a enorme quantidade de compromissos que costumo assumir (muitas vezes sem saber se darei conta ou não) nunca me deixaram levar a idéia adiante. Assim, participar desse blog tem sabor de desejo realizado – ainda mais depois de constatar a ótima qualidade dos textos aqui postados.
Para a minha coluna de estréia, havia pensado em escrever sobre algum tema sério, edificante, construtivo ou, no mínimo, algo digno de uma jornalista. Meu irmão Vinícius, porém, me deu aval para publicar qualquer coisa, qualquer coisa MESMO, então, sei lá, vou me jogar e espero não queimar o filme do blog logo de cara.
Nesse exato momento – o relógio do computador do trabalho registra 13h03 – estou beeeeem louca. Há cerca de uma hora e meia tomei um comprimido de Dramin, que, para quem não sabe, é um remédio que controla enjôos e ânsia de vômitos e é praticamente o Santo Graal das gestantes. Estou grávida de três meses e só apelo para o Dramin em última instância, porque os efeitos colaterais não são nem um pouco agradáveis: cabeça pesada, olhos que não conseguem se manter abertos, tontura e um sono desgraçado! Parece que as pessoas estão falando em slow motion comigo, e eu não consigo completar uma frase inteira. Sei lá, virei quase uma versão míni da Luciana Gimenez.
Sim, estou feliz, realizada, mal posso esperar a hora de ter um bebê bochechudo e fofo nos braços... Mas ser mãe é uma coisa, estar grávida é outra totalmente diferente. A gravidez não é bem aquele estado de plenitude e paz dos comerciais de convênio médico ou da Johnson&Johnson. Por trás de barrigas empinadas e sorrisos cativantes, há todo um esquema nada glamouroso, à base de azia, de uma eterna sensação na boca de ter lambido um pé chulezento, de um cansaço homérico e de gazes promovendo uma rave dentro de você. O mais absurdo, no entanto, é mesmo a leseira mental. Todos os livros para mães de primeira viagem citam a pasmaceira dos neurônios como um sintoma natural, mas eu, pelo menos, achava que isso era um exagero, até o dia em que me flagrei dizendo "Obrigada!" ao... caixa eletrônico!! E estava caretona, sem Dramin na veia.
E os hormônios, então? Teve uma manhã, no trabalho, que cheguei, liguei o computador e comecei a chorar, sem motivo. Chorei, chorei, chorei, a secretária foi buscar água para mim e as lágrimas caíam sem parar. Me acalmei, mas à tarde os hormônios deram o ar da graça de novo: Em vez de abrir o berreiro, porém, berrei. Estava tão irritada, mas tão irritada, que mandei todo mundo calar a boca ou mudar de assunto, porque a conversa estava me irritando! Não satisfeita, ainda disse que todas as opiniões emitidas eram idiotas. Quando me perguntam se venho sentindo algum desejo exótico, tipo comer dobradinha com chantilly ou feijoada de morango, o único desejo que me vem à mente é o de matar, mas matar muuuuuitooooo.
Queria tanto passar a gravidez inteira numa montanha, comendo azeitona preta, dormindo, soltando pum em paz e assistindo comédias toscas dos anos 80. Mas não... Tenho que sair todo dia de São Caetano do Sul rumo ao bairro do Jaguaré para ir trabalhar, enfrentar um trânsito dos infernos, com a mão na boca para não golfar uma meleca azeda na calça do marido e ver coisas nojentas no caminho. Ontem de manhã, por exemplo, o trajeto me contemplou com três visões do inferno: uma mendiga nóia puxando a camiseta para cima e deixando à mostra uma pança gigantesca com direito a cicatriz, um traveco anoréxico com um shortinho enfiado no rabo e, pior de tudo, um anão em uma moto (!!!!) Pelo amor, ninguém merece, muito menos um ser iluminado que em breve vai gerar uma nova vida! Enfim, esse primeiro post é apenas um desabafo, uma espécie de Grávida Esperança. Mundo, tenha paciência com pessoas como nós, e, Universo, conspire a nosso favor. Tudo bem o pum, tudo bem o enjôo, mas anão de moto já é um pouco demais...

6 comentários:

Grilo disse...

Ri de-mais!
Parabéns pelo texto e tudo de bom com sua gestação!

Vini Noronha disse...

hahaha, isso orque você não relatou suas viagens alucinógenas de gravidez, como "as 7 belas artes alternativas" e os incidentes com seu estimado e futuramente canonizado marido.

Unknown disse...

Divertidíssimo Helô!
Amei!!!!! Nem estou grávida, mas ultimammente ando tendo essas vontade: de matarrrrrrrrrrrr!
hahaha
=P

Cri disse...

comecei a ler sem saber quem era o autor. jamais pensei que um texto intitulado 'sobre desejo assassino e anões' seriam confissões de uma gestante. muito bom!
no mais, tudo de bom pra você e pro bebê.

Costalonga disse...

Heloísa, sou um grande amigo(assim espero) do seu irmão, e já sou fã dos textos que ele escreve, e não me decepcionei ao ler o seu texto de estréia do blog, muito engraçado e deveras informativo, chorei de rir sobre o anão de moto!!

parabéns pelo blog e estarei toda semana aqui lendo e comentando seus textos!

tudo de bom para sua gestação e parabéns!!

Mandi disse...

Adorei o texto. A inspiração de uma gestante é hilária.

: )
parabéns!