quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Inevitável.

Por Vinícius Noronha.

Você diz que tua regra é a bendita
Eu desminto tua crença ultrapassada
Você decifra e corrige a minha escrita
E eu desabafo a sirene equivocada

Você repreende a minha estupidez
Eu te atinjo, breve ao meu desgosto
Você me lembra da minha insensatez
Eu te corto com um sorriso no rosto

Você assina cada tola permissão
Eu te ofereço uma vã promessa
Você me atira a tua consideração
Eu reintero que isso não me interessa

Você exerce a sua possessividade
Eu transfiguro a minha alienação
Você quer alimentar a maturidade
Eu quero mais, e não aceito o não

Você zela pela minha segurança
Eu fecho os olhos ao sentido perigoso
Você não vê que não existe a criança
Eu não acredito no caminho tortuoso

Você me coíbe, me tesoura, me inibe
Eu te ignoro, desconcentro, escandalizo
Você não abre mão da razão que exibe
Eu freio a bronca do que mais preciso

Você aperta o cerco e a vigia
Eu imponho método e convicção
Você me enclausura em sua tirania
Eu de chacota descarto a intromissão

Você se recorda do que um dia eu fui
Eu te esqueço, mais um dia que passou
Você se previne do mistério que evolui
Eu te agradeço o segredo que sobrou

Você invade o meu atalho restrito
Eu te expulso da minha intimidade
Você provoca a piedade com atrito
E eu ressuscito a minha imunidade

Você reza por meu futuro promissor
Eu me contento com um presente dado
Você se julga com o saber do professor
Eu dissimulo um adulto preparado

Você me abraça, diz que é pro meu bem
Eu compreendo, apesar dos meus reclames
Você faz mesmo tudo isso e vai além
E assim é inevitável que eu te ame

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