Por Felipe Grilo.
Hoje eu não vou escrever nenhum conto, crônica, poesia ou charge irônica ou engraçadinha. Assim como o Daniel na semana passada, vou falar como eu mesmo, Felipe (comumente chamado de Grilo pelos amigos), mas por um acontecimento que fez desencadear o motivo deste texto.
Mostrei meu texto aqui em casa e meu pai me achou meio deprimido. Bobagem. Mas assim como ele, talvez algumas pessoas tenham pensado a mesma coisa. Por isso, gostaria de fazer um pedido a todos vocês, que lêem meus textos Coisetal: nunca, jamais, tentem encontrar resquícios da minha personalidade ou da minha vida por meio deles.
Não sei qual é a posição dos meus colegas aqui nos posts. Muitos, talvez, escrevam sobre o que realmente sentem, ou já sentiram, e são completamente honestos em tudo o que dizem. Eu já gosto de brincar com o raciocínio, com aquilo que pouca gente nota, e tal. Escrevi o "mau humor" porque, sim, estava de saco na lua, e aproveitei meu estado de espírito para mostrar que é possível fazer um texto bem-humorado sobre o mau humor.
Explicado o motivo controverso, queria dizer só mais uma coisinha. Aprendi com um amigo a não gostar muito que analisem minha vida nos textos. Porque tem aquele tipo de leitor que gosta de sentir a alma do artista, e daí parte para análises que beiram à psicologia "informal". E quando vem conversar com a gente, perguntam se está tudo bem, se eu estava falando de uma pessoa indiretamente (neste presente texto, não estou falando de ninguém em especial), se estou apaixonado. E então vão piorando o diagnóstico, afirmando que tenho traumas, que sou assim por causa disto ou daquilo, e que não sei lidar com este ou aquele assunto. Coisas do tipo. Daí eu tenho que explicar que não é nada disso: acho que textos autobiográficos são fáceis demais, e podem ficar muito comuns se não forem feitos por pessoas interessantes. Quem me conhece pessoalmente sabe que não é o caso.
Acredito que eu não sou o único a ter textos confundidos com páginas de diários. Meu estilo é mais racional e inorgânico, mas vejo muita confusão por aí quando se disserta sobre amor ou solidão. Deve existir uma cultura geral de "leitores-não-escritores", vinda do hábito das pessoas escreverem raramente e somente para desabafar, ou para chorar, ou apenas porque veio a inspiração e, em todos estes casos, nunca mostrarem a ninguém. Além de não tornarem o ato da escrita algo natural, quando o fazem, ficam com vergonha de publicar por acharem muito pessoal. Ao mostrarem, parece uma revelação: "oh, fulano SÓ está mostrando porque quis DIZER ALGO".
Além de tudo, pelo ponto de vista deste que vos escreve, é meio chato saber que alguns estão mais preocupados em conhecer os emaranhados infindáveis da alma do que apreciar toda a preocupação estética, a escolha do tema e das figuras, dos argumentos, das associações, das palavras e das idéias que você fez - tudo pensando no entendimento do receptor - enquanto se dedicava ao texto. Chato mesmo é saber que, ao mesmo tempo em que insistem na sua descoberta holística e se esquecem da obra, procurando um contato tão próximo com o autor pelas entrelinhas estreitas, não conseguem fazer o mesmo olhando nos olhos.
Para elas, gostaria de dizer que meu nome é Felipe (não sou o Renato Russo), sou tímido e introspectivo até o tutano, de saúde física frágil, estudioso e esforçado, nem alegre nem triste demais, com seus problemas e suas habilidades, um bom amigo apesar de distante, solteiro, cético espiritualizado e com suas teorias a respeito do relacionamento humano. Entre elas, a de que sociedade anda leviana com os sentimentos. Insensível, o ser humano se isenta do ser humano. E acha que meras palavras, viajantes de reinos distantes, podem substituir o carinho de um bom abraço.
Sintam-se abraçados.
2 comentários:
Tô passando não pra te analisar, mas sim pra retribuir o abraço. :)
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