quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Nós.

Por Adriana Hernandes.

Nossa relação nunca foi das mais simples, verdade. O fato de você sempre fazer questão de me mostrar o quanto eu estava errada, e podar meus exageros, sem levar em consideração a minha inexperiência e falta de jeito em lidar com os acontecimentos, me incomodava demais, e ainda me incomoda. Não que eu quisesse ser digna de pena, ou que dissesse "amém" pra todas as minhas vontades, longe disso. Mas ser menos rude na forma de me conter cairia bem. Tapas na cara, por mais que sirvam pra nos acordar, ainda doem.

Também me aborrecia muito com essa sua maldita mania de correr. Perdi a conta de quantas vezes implorei para que você fosse mais devagar, com mais calma. Mas não: Me agarrava pelo braço e partia em disparada; sem perguntar se eu queria, sem se preocupar com os tropeços que levava pelo caminho, e muito menos se eu tinha fôlego para agüentar seu ritmo. Você é rápido demais pra mim, ás vezes parece que não corre, voa!

E quando eu queria voltar, pra consertar os estragos que deixei pelo caminho ou aproveitar outra vez aquele segundo único, você não me dava ouvidos e continuava em frente. O máximo que fazia era deixar eu olhar pra trás.

O curioso é que, mesmo com bons motivos pra querer desatar os laços e arremessar as alianças, nunca tive vontade de partir pra uma separação. Talvez por saber que, no fundo, a culpa por você reagir dessa forma era somente minha.

Mas admito que nem tudo eram trevas e por diversas vezes, a maioria delas, você me mostrou suas qualidades. Por exemplo:

Ninguém acertou com tanta exatidão a dose para o remédio que eu precisava, nem cauterizou tão bem as minhas feridas quanto você, as cicatrizes ficaram imperceptíveis.

Ninguém nunca me passou lições tão valiosas quanto as suas, também. Seus métodos eram rígidos e antiquados, mas eficazes. E mesmo não sendo a aluna mais aplicada, ainda lembro de certas aulas e tento aproveitá-las até hoje.

Por fim, ainda me deu os melhores presentes: Você me trouxe o caderno e a caneta, o aval para escrever a história a minha maneira, e a liberdade de tropeçar nas concordâncias e abusar das interrogações.

E eu ando praticando muito, escrevendo uma página por dia. Mas o que eu queria mesmo, Tempo, era saber quando, finalmente, você irá me trazer a razão.

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