quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sensações estranhas - Parte I: Espelho


por Cristiane Senn


Já sentiu a angústia que dá quando você se coloca pra fora de si mesmo? 5 minutos em frente ao espelho são capazes de fazer um indivíduo se suicidar. Porque a distância e o estranhamento nos fazem perceber mais os pontos negativos do que quaisquer outros. 5 minutos em frente ao espelho te convencem do quão patético e ridículo você é, que esse corte de cabelo não tem razão de ser, e "porque diabos eu me acho tão bem apresentável com essa blusa azul?". Tudo o que é superfície perde o sentido.
Se ver de fora é um exercício de realidade e morte. Realidade não propriamente dita, ou não propriamente real, ou não propriamente universal. A realidade vulgar do ser humano, aquela que ele constrói pra si, não é senão ficção (Era uma vez uma garota simpática que sorri...). Ver-se de fora é ver os sedimentos involuntários sobre essa construção. É ver a poeira, a sujeira, o mofo, a teia. É doloroso ver-se tão sujo e abandonado. Descascar a tinta e achar a infiltração que pode fazê-lo desabar a qualquer momento.
Morte não propriamente dita. Talvez um coma ou catalepsia. O fantasma de desenho animado que sai do corpo e não consegue achar um espaço pra si. Assim acontece, nossa alma sai de nós e nos olha com desdém, soberba, mas também angústia e humilhação, porque sabe que terá de voltar. Não encontra um caminho sem volta. Pega nosso cérebro emprestado e pensa: "eu sou a alma deste corpo patético". E isso dói.

5 minutos é o processo, 5 segundos é a duração desse estágio "isso-aí-sou-eu-que-existe(o)" - pois tratamos de voltar pra dentro antes que escureça.

2 comentários:

Anônimo disse...

Acho que não existe pior coisa do que ver sua própria sombra e enfrentar seus demônios internos. Não há dor pior do que encarar nossos defeitos.
belo texto.

Grilo disse...

Muito bom!!!