terça-feira, 30 de setembro de 2008

Km/h.

Por Vinícius Noronha.


Um ano? Dois? Milênios?

O certo é que teu rosto estava lá, junto com as paisagens e com os gritos que ecoavam dentro de mim. Sabe o que eu via? Tantos sonhos de vidraça despedaçados enquanto eu confundia ilusão e vaidade.

Eu me conhecia?

A verdade é que eu estava indo pra qualquer lugar onde você não estivesse. Dentro de mim o mapa era esse: Placas de quilômetros desfocadas, cidades campestres que eu nunca desceria pra visitar, carros apressados acenando com seus faróis o esquecimento que eu adestrava para ser meu companheiro.

Eu subi naquele ônibus para nunca mais. Só que as assinaturas do teu silêncio fizeram parte do meu ouvido, abriram-se as persianas da consciência, e os sonhos me cegaram. O que de você vai ficar guardado comigo? Está tão complicado separar o que é abandono do que é fuga. Começo a achar que é tudo a mesma eternidade.

O teu último beijo tem décadas, e mesmo assim a sua marca nunca mais desgrudou da minha face. Essa tatuagem permanece áspera com a promessa de que poderia evitar as lágrimas com doçuras ou cordialidades.

As minhas malas não foram fechadas ou montadas com cuidado. Eu tentei te dizer a cada instante que você espiava no vão da porta que isso era o melhor pra todo mundo, mas em nenhum momento tive coragem de abrir a boca.

Eu sussurrei só uma palavra: - Pronto.

Não foram poucos os que se despediram com foices. Eu mesmo me brindava com mertiolate. A cicatriz tão visível na alma de quem perde o que mais ama não desfez a noite e os grãos impiedosos da despedida.

Não sei se existe perdão, afinal há coisas em relacionamentos assim que são como o amadurecimento dos frutos, ou águas que correm mais e menos em ribanceiras do lugar nenhum, ou montanhas iluminadas por aquilo que considero o verdadeiro dom divino.

Quando desci na estação eu descobri a maior lição da minha vida: o passado é a única certeza que nós temos.

Chegando em casa, hoje e ultimamente, o filme é em preto-e-branco. E o tempo pinta de vermelho minhas costas.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Carma.

Por Sergio Faria.

Já faz algum tempo que não vou num shoping “bater perna” e comer num mac'donalds ou habib's da vida. É legal porque saio da rotina, as crianças se distraem, vejo gente bonita (oh céus! como tem gente bonita! passo vontade!) e como um bigmac. Nesse fim de semana fui e na ida mais uma vez fiquei meio mal ao ver algumas crianças vendendo coisas nos sinais. Sou urbano desde sempre e essa cena é comum nas grandes cidades mas ainda não consegui me acostumar com isso. E como eu tenho três pequenas, isso me incomoda demais e por um momento imagino minhas filhotas naquela situação. É de cortar o coração ver aquelas crianças em pleno sábado a noite num frio de lascar ali na rua se sacrificando por uma ninharia. Não ligo pra dinheiro mas nessas horas tenho muita vontade de ter grana pra tirar aquela molecadinha dali e investir na sua educação além de dar um suporte pro pais. É muito complicado e sei que é uma utopia resolver esse problema. Sei que existe muita gente nessa situação e por vários motivos. Mas se eu conseguisse mudar a vida de duas ou três famílias, já me sentiria melhor. Antigamente eu sofria muito quando via famílias inteiras ao relento. Morei no centro de São Paulo uma época e sempre cruzava com aquele pessoal nas calçadas. Eu andando a noite, bem agasalhado por causa do inverno rigoroso e via aquela turma se ajeitando com papelões, zinco e alguns trapos. Era foda ver os miúdos naquele sofrimento, mal agasalhados e encardidos. Em casa, debaixo de uma coberta bem quentinha, eu ficava pensando naquelas crianças passando frio e fome. Depois de algum tempo, quando comecei a "entender" como funcionava a natureza divina ao deixar sofrer pessoas tão indefesas, relaxei. Estudei sobre o carma e isso me deixou mais conformado com aquelas "injustiças". Como assim? Se aquelas crianças estão ali passando por tudo aquilo e a gente tá numa boa nesse momento, isso significa que temos nossos méritos e elas, que em algum momento de suas outras existências aprontaram muito, agora estão sofrendo pra pagar as suas atrocidades. Quem não conhece o espiritismo e não aceita a reencarnação vai falar que eu tô viajando. Tudo bem. Então me expliquem o porque dessas "injustiças". Me expliquem porque crianças inocentes são molestadas, espancadas, jogadas pela janela, queimadas e esquartejadas? Me expliquem porque crianças nascem doentes, com aids ou outras doenças, sofrem e depois morrem? Qual o sentido? Deus é sádico? Eu acredito em reencarnação, sempre acreditei, só que não conhecia profundamente. E se eu não acreditar nisso, vou pirar. Vou começar a achar que Deus não existe. Apesar de compreender o porque de tanta desigualdade social e tanto sofrimento dessa criançada que não teve tempo de fazer mal a ninguém, não consigo ficar indiferente quando vejo os pobrezinhos nos sinais. Minhas filhas olham e perguntam. Tento explicar. Elas ficam comovidas mas não tem dimensão nenhuma daquilo. Passeio no shoping , curto aquele ambiente bonito e como o meu bigmac sem nenhum sentimento de culpa como antes. Mas ainda é doloroso ver os menores naquela situação. Fico angustiado na hora e quase desisto de fazer o meu passeio, mas depois que entro no shoping e vejo o contraste, lembro da lei do carma e desencano. É a vida.

domingo, 28 de setembro de 2008

Micos de supermercado.

Por Daniel Ramos.

Olá Jacobinos e Girondinos, é com imenso prazer que mais uma vez venho chafurdar-me nos meus mais introspectivos momentos e trazer à tona os mais divertidos (depois que passa,porque na hora minha vontade é socar meu próprio rim)momentos os quais tenho a honra de dividir com nossos leitores. A seção de hoje se intitula “micos de supermercado”.
Com todos aqueles produtos amostra, pessoas circulando de lá para cá, vulneráveis no regozijo do consumo, os supermercados são uma grande fábrica de micos. Puxem pela memória e vocês verão que ou já participaram, ou já presenciaram algum momento em que queríamos estar numa cratera no meio da caverna do diabo, onde nossa ruborescência facial não pudesse dar o ar da graça. Listo aqui os três principais momentos que me vêem a mente quando o assunto são MICOS DE SUPERMERCADO.

MICO 1
Como já é tradição, o primeiro é sempre mais light. Estava eu num desses supermercados da vida, imbuído da tarefa de comprar um belíssimo vidro de azeitonas. Fácil, fácil...seria se o personagem principal da história não fosse eu. Eis que na seção de azeitonas (ok, não existe uma seção de azeitonas no mercado, mas alguém deveria considerar essa idéia), me deparo com as famosas verdinhas, hermeticamente fechadas em sua prisão de conservantes, desejosas de serem levadas para uma degustação familiar. Nada seria mais óbvio do que pegar o primeiro vidro que estivesse à mão, mas é claro que com minha inteligência de um homo habilis aquele não me apeteceu. O que me despertou a atenção foi um vidro que estava a uns 40 centímetros do meu braço, na prateleira de cima e brilhava como um troféu de sal e calorias. Com dificuldade ergo meu braço e com a ponta dos dedos consigo arrematar de forma não muito segura o vidro. E claro, com toda a força da lei de Eddie Murphy( essa era pra estar no meu post sobre os maiores erros que já ouvi,mas só lembrei agora), o vidro dançou na minha mão como um boneco de Olinda ,bambeou, rodou, e....é claro meus amigos...CAIU!!!
Com o estrondo que fez o vidro, o supermercado inteiro deve ter se sentido como um habitante de Hiroshima, só que ao invés de corpos espalhados pelo chão, estavam as pequenas azeitonas, perdidas,como formigas verdes e obesas. É claro que não seria eu se essas coisas não acontecessem.

MICO 2
Começando a piorar, conto agora um dia em que me dirigi a outro estabelecimento com o intuito de comprar mantimentos para minha alimentação macrobiótica(uma caixa de biz e quatro latas de cerveja). Não,dessa vez não derrubei nada porém o que se seguiu foi pior. Estava tudo bem até então, e eu já havia acabado de pagar meus quitutes, quando na fila, no empacotamento, encontro uma conhecida minha. Afavelmente eu lhe dei um beijo no rosto e um abraço caloroso. Ao lado dela estava uma senhora, a qual também abracei com a mesma volúpia. De repente um silêncio. Ela me olha com uma cara estranha e a senhora também. Então, me atrevo a perguntar: “Não é conhecida sua?” E ela me responde com a maior convicção do mundo: NÃO!!!!
Concluindo:cumprimentei minha amiga e ABRACEI UMA SENHORA ALEATÓRIA QUE ESTAVA INGENUAMENTE EMPACOTANDO SUAS COMPRAS!!!!
Agora imaginem o que pensou essa pessoa, que foi ao mercado apenas para fazer suas compras e foi bulinada por um completo desconhecido.
Santa sorte!!!

MICO 3
Esse é o que posso chamar de obra prima dos MSM( micos de super mercado, caso alguém não codifique a sigla). Novamente estava eu no mesmo cenário já supracitado, na seção de bebidas(para comprar Tang, que fique bem claro), eu vejo um rosto conhecido. Puxo pela memória e noto se tratar de uma celebridade, alguém do esporte para ser mais exato. Depois de analisar e com toda a certeza do mundo, me aproximo do nosso personagem, e com a mão em riste para cumprimentá-lo e lanço: “Mas que emoção, César Sampaio, medalha de ouro no Judô olímpico!!! Admiro muito seu trabalho, meus parabéns..” Não me recordo muito bem do diálogo que travamos, mas notei que ele ficou com um sorriso sem graça, mas foi muito solícito. Quando me afasto começo a pensar comigo mesmo: César...César...César...não idiota!!!!É ROGÈRIO SAMPAIO!!!!”
Em suma, confundi o medalhista olímpico de judô com o médio volante do Palmeiras!!!!
Mas em minha defesa, publico aqui uma foto dos dois, e vocês podem perceber como qualquer um poderia se enganar.

sábado, 27 de setembro de 2008

Como fazer um soneto.

Por Felipe Grilo.



Uma homenagem ao branco mais branco. Horrendo, opressor e infinitamente belo em (inter)ação. O branco da mente e da tela. Fotografado, capturado, emoldurado e em exposição.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Para almas desesperadas.

Por Heloisa Noronha.

ORAÇÃO DA EX
ORAÇÃO A SANTA CORNÉLIA DA TESTA ENFEITADA*

Eis-me aqui, prostrada aos vossos pés! Tocai o coração daquele ingrato a fim de que fuja do pecado – e dos braços daquela ordinária – e volte a amar a pessoa maravilhosa que é esta vossa serva e devota.
Tende piedade das minhas misérias espirituais! E não vos esqueçais também das misérias que afligem o meu corpo, principalmente a minha testa, que tanto dói, e enchem de amargura a minha vida terrena. Dai-me saúde e forças para vencer todas as dificuldades que me opõem a inimiga. Não permitais que a minha pobre cabeça seja atormentada por males que me perturbem a tranqüilidade da vida.
Alcançai-me a graça de afastar a tentação (tentação o escambau, que aquilo lá é uma baranga!) do caminho de quem tanto amo. Eu vos peço, imploro, rogo!
Aí tendes minha humilde súplica. Se quiserdes (e havei de querer, senão eu mando a sua imagem para a GUILHOTINA, em vez de colocá-la de ponta-cabeça), ela será atendida. Santa Cornélia da Testa Enfeitada, rogai por mim.

* Inspirada na Oração a Nossa Senhora da Cabeça.


ORAÇÃO DA ATUAL
ORAÇÃO A SANTA SOCORRO DA PERPÉTUA VIGILÂNCIA*

Santa Socorro, virgem poderosa, recorro à vossa proteção contra todos os assaltos da inimiga, pois vós sois o terror das forças malignas.
Eu seguro no vosso manto santo e me refugio debaixo dele para estar guardada, segura e protegida de todo o mal. Porém, não hesitarei em sair de tal proteção para enfiar a mão na cara daquele dragão em forma de mulher.
Vós sois refúgio dos pecadores e dos corações aflitos, vós me dareis forças para esmurrar a cabeça daquela jararaca (desgraçada, oferecida!) infernal e com a espada levantada afugentar os demônios (vai ser feia assim no inferno!) que querem acorrentar o meu amado (sim, ele, o meu amorzinho!). Curvada sob o peso dos meus pecados e das minhas preocupações, venho pedir a vossa proteção hoje e em cada dia da minha vida. Que um dia eu possa vir a conhecer a pátria celeste, onde aquele tribufu não mais terá permissão de olhar nem para minha cara. Santa Socorro da Perpétua Vigilância, rogai por mim.

* Inspirada na Oração a Nossa Senhora da Defesa.

Extraídas da obra-prima Manual da Ex / Manual da Atual (Editora Rocco), de autoria da blogueira.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Reflexo.

Por Adriana Hernandes.

Olhava para o espelho, mas não gostava do que via. Decidiu que deveria mudar.

Começou pelo vestuário: Enrolou um cachecol, trocou a blusa, escolheu a saia e calçou os sapatos.
Não surtiu efeito.

Tentou o cabelo: Prende daqui, solta dali. Liso ou cachos? Curto ou um aplique? Preto, castanho claro, ruivo, acaju, azul!
O mesmo (não) resultado.

Reforço na maquiagem, então: Lápis, blush, alongar os cílios. Batom rosa ou um brilho labial?
Continuava tudo igual.

Só podia ser o corpo... Partiu pra academia: Musculação pra tonificar, Yoga pra alongar. Dieta da sopa, dieta da lua, dieta de Marte, dieta do inferno.
Saldo zero.

E se trocasse a iluminação? Poderia ser uma solução: Luz de velas, holofote ou lâmpada comum?
Curioso... Sentia-se melhor sem clarão nenhum.

Mesmo depois de tantos ajustes e consertos ainda lhe restava a estranha e confusa sensação de que, realmente, nada havia mudado.

Quem sabe um dia ela perceba que simples mutações não bastam para camuflar imperfeições que nem o próprio reflexo é capaz de mostrar.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Astitônica.


Por Cristiane Senn*.


Era uma vez, Pasmigany abrusquetava pelo albordim quando Ceflumela e Titubetine superlizerivaram a mastotine de zurbela que a Lasmaricas ombrucorou.
Então a jorbila ameugoveu (!) e lijoconeu (!!) pra ancoreite apanoir sua burquitude. Titubetine não cabiscorou. só quando ceflumela equimonasse a faliburde ela gaporia a belisdeda na aprâncheva.

Quando Pasmigany se chubiclou, Lasmaricas abroveu:
- Pasmigany! O silbórdio tifrezou!
Pasmigany, meio kacilnada, cofou:
- Ah, polétidos e çorímeros são fernalbos!
Então robleitaram a surbira e mojicaram o tropaio, mesmo nhavando que Ceflumela não ia voletar.

MORAL DA HISTÓRIA:
Você é Pasmigany porque asblurma o sanfobério.
Simples. Só não vale triburnar.

* palavras criadas (acho que) em 2006 na companhia de Daniella e Regiély, amigas da faculdade de Publicidade. Entenda porque não nos tornamos redatoras.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Back to the old house.

Por Vinícius Noronha.

Ela continuava a caminhar no seu itinerário preferido: duas da tarde percorria a calçada de duas ruas atrás, depois uma viela que dava diretamente na sua casa. O olhar impenetrável, o andar errante da tenra idade... Tudo anunciava que ela ainda era pródiga naquilo que, para ele, era o fim de todas as suas conseqüências, temores e cálculos.

Ao sair de casa, ele era movido único e exclusivamente por um sentimento que na verdade eram vários, todos de uma só vez, e a intensidade sem nunca ser dividida: O medo de não encontrar a si, caso não a encontrasse. A ânsia de sair de si ao vê-la dona de si. Não era sonho porque doía, e não era dor porque havia o sorriso estúpido, idiota, cretino, que era inevitável ao perceber a existência de alguém tão sublime.

Os passos não eram sentidos, as pernas eram apenas a continuidade do seu tronco, assim como todo o resto era tão ínfimo perto dessa euforia que o tornava maior que humano por alguns segundos eternos.

Eram os seus longos e esvoaçantes cabelos louros? Ou sua pele tão clara que dava vontade de apagar o sol eternamente para que ela nunca mudasse? Seria seus olhos castanhos amendoados que nunca sequer cruzaram com os seus? Ou seu sorriso que era o exemplo maior de felicidade para todos os povos e constelações?

Nada. Isso que era.

Não havia tempo nem sobriedade pra pensar em algo pra dizer... Não, isso seria muito frio, seria um gesto raso, reto, próprio de quem tem controle sobre o que ocorre quando avista quem tanto se deseja. Não era o bastante. Era necessário um tributo, uma quaresma, uma banda, um reveillon...

Para ele, palavras não bastavam. Tampouco uma explicação. E a cada dia ele morria pra poder sobreviver e renascia novamente na tarde seguinte.

Para ela, continuava uma calçada, uma viela, e um garoto que ela olhava de relance, com certo interesse afogado pela timidez que se desfazia no conforto de seu lar.

Os homens que nos pregam moral são quase sempre hipócritas; as mulheres que nos pregam moral são quase sempre feias.

Por Sergio Faria.

Uma coisa que eu não curto muito é ficar preso as convenções. Sou complicado nesse sentido e ainda bem que não trabalho marcando cartão. Só que as vezes acontecem coisas que você não tem como fugir. Como ontem que eu estava numa escola onde leciono, organizando com a secretária os horários dos meus alunos e ao perceber que houve alteração nos horários de alguns, a coordenadora da escola que estava por ali nos interrompeu e pediu pra que eu mantivesse os horários deles pois se as mudanças ocorressem, a escola não estaria passando uma seriedade no trabalho. Sistemática, não? No ato discordei da sua opinião, argumentei que cada caso era um caso e expliquei que as alterações só aconteciam por uma questão de praticidade, sem comprometer a programação e nem atrapalhar a vida do aluno. Assim: se sou avisado com antecedência que um aluno faltará num determinado horário abrindo assim uma janela entre as outras aulas, o que eu faço com esse intervalo? a) aproveito pra folhear a revista Caras que fica na recepção pra ver as fotos da casa da Angélica e ler a matéria sobre o porque da Gisele Bundchen não querer casar. b) vou conversar um pouco com aquela recepcionista gostosa e depois de gravar bem, corro pro banheiro e descasco uma em sua homenagem. c) antecipo as aulas dos alunos que viriam depois e com isso saio mais cedo pra ficar com as minhas filhas. Ora bolas! Se o espaço está disponível e o aluno está ocioso, porque não negociar e trocar o horário naquela semana? Não estamos no Japão. Lá o índice de suicídios entre adolescentes é o maior do mundo! Porque será? Nossa cultura é outra onda. Vivemos num lugar onde a vida das pessoas é uma loucura, com muitos compromissos, dificuldades de locomoção e o diabo a quatro. Não dá pra ser tão “caxias” assim o tempo todo. E o curioso é que essa mesma coordenadora, que fala em seriedade, não toma conhecimento nem dos seus professores. Só agora, depois de seis meses, ela foi descobrir que ali havia outro professor de cordas e que este era o Daniel, meu irmão! É mole? E lá tem também aquela professora de canto que num ensaio com a gente foi cantar uma música do Queen no tom de Ab lendo a partitura (e a letra!), e só depois de algumas execuçóes percebeu que estava no tom de F!! Porra! Ou é ou não é! Alguém querer se passar por fodão não é o pior. O pior é não estar com essa bola toda e querer "cagar uma goma". Me poupe.

PS - frase-título de autoria de Oscar Wilde.

domingo, 21 de setembro de 2008

Blog Coisetal entrevista: JOELMA



Por Daniel Ramos.

Trecho de uma entrevista com uma das maiores celebridades do Brasil. Joelma revela em detalhes sua vida, até hoje nunca revelada em qualquer tablóide. Longe de mim fazer jornalismo sensacionalista. O que vocês lerão abaixo é uma transcrição literal de mais de uma hora de uma longa e esclarecedora conversa.

Coisetal: Joelma, conte para nossos leitores um pouco de sua infância...
Joelma: Bem, como dizer, sou a décima nona filha dentre 23 irmãos, dos quais doze eu nunca decorei o nome e seis deles tinham feições orientais,nunca aprenderam a falar português e viviam com bolas de ferro amarradas nos calcanhares, mas eram felizes. Nós tínhamos uma pequena plantação, de onde tirávamos nosso sustento e nas horas vagas alugávamos como campo de futebol society e haras. Fiquei nessa vida algum tempo, até que senti o chamado da independência me chamando, senti que era hora de deixar aquela vida, e seguir meu caminho...

Coisetal: Com que idade foi isso?
Joelma: Nessa época eu tinha aproximadamente cinco anos de idade.

Coisetal: E foi assim que começou sua carreira na música?
Joelma: Quase. Eu conheci um sanfoneiro e acabei acompanhando-o durante vários shows. Foi uma fase de pouco luxo em minha, haja vista que meu quarto era a maleta da sanfona, que eu dividia com o próprio instrumento.

Coisetal: Passada essa fase, o que fez depois?
Joelma: Com 12 anos de idade me inscrevi para fazer um teste da versão nordestina do grupo Balão Mágico, chamava-se “Pau-de-arara arretado!”, mas infelizmente não fui aceita por ser muito nova e por meu notadamente grave problema de dislexia. Eu trocava o “T” pelo “C”, o que era claramente algo inviável, pois o nome da música tema era “procurando tu!”

Coisetal: E depois desse tombo, como conseguiu se recuperar?
Joelma: Tive vários empregos, como frentista, motorista, diarista, recepcionista, altruísta e por fim equilibrista. Até que fui descoberta por um artista, que também era egoísta, fascista e monoteísta. Foi uma atração sem tamanho e ele finalmente me levou para os palcos.
Coisetal: Foi assim que começou o “fenômeno” Joelma?
Joelma: Depois de anos fazendo cover de Jane Duboc, finalmente conheci o pessoal do Calipso, onde encontrei muito mais do que uma família...encontrei foi um bando de músicos incompetentes, sem talento e sem carisma, que devem agradecer aos céus até hoje por alguém do meu gabarito ter entrado em suas vidas.

Coisetal: E sua relação com Ximbinha?
Joelma: Quem?! Ahh! Sim, a bicha do topete pintado de ouro. Não temos muito contato, a única coisa que sei é que ele adora dormir em cima de tacos de golf e usa vaselina nos pães ao invés de manteiga.

Coisetal: Agora o lado pessoal...como você faz pra manter esse corpo esbelto?
Joelma: Depois de inúmeras tentativas de dietas, acabei achando uma que se encaixa adequadamente no meu perfil: É a dieta “João Batista”. Hoje, para manter essa silhueta impecável, eu me alimento apenas de grilos e gafanhotos, sem asa é claro, pra diminuir as calorias.

Coisetal: Um recadinho para os fãs Joelma!
Joelma: Comprem minhas drogas e não usem CDs. Digo, ao contrário...comprem meu cd não usem drogas. (É a dislexia atacando de novo!)

sábado, 20 de setembro de 2008

Rap da entropia.

Por Felipe Grilo.

Hoje serei pernóstico:
Usarei palavras que não sei
O que querem dizer.
E não vou procurar o dicionário,
Para en-ten-der.
Farei um repente insano,
Não sei o que vou escrever,
Nem sei o que você vai ler,
Pouco importa querer saber.
Quer dizer...
É muita informação.
Estou absorvendo
Um universo em expansão.
Não entendo nada,
Mas reproduzo tudo,
Nesta vida, minha missão,
É ser satélite no mundo.
Porque é muita informação:
Quem você conhece?
O que está fazendo?
Mande um SMS,
Faça um vídeo manero,
Saiba de tudo que acontece.
Não queira entender.
Mas quero interagir com você.
Agora que tudo está linkado entre nós,
É estranho que eu me sinta só
E quando pergunto o porquê,
O filósofo Google pergunta:
- O que você quis dizer?
Não falo com meus pais,
Me irritam, respondem demais.
Ultrapassam 1024 caracteres.
É muita informação!
Resolvi escrever num blog,
Pra receber comentário.
Sem resultado,
Mando depô pra um amigão.
Mário, que nunca vi ao vivo.
Porque mora no Azerbaijão.
(e fala Pashto!)
Entro no msn
Pra falar com os outros
Enquanto fico ausente.
200 contatos,
Pouca gente.
Vou pro chat do UOL
Htinho100htinha entra na sala
- Oi htinha, quer tc?
- Quero, como vc é?
- Forte, loiro e me sentindo sozinho
- O q vc ta vestindo?
Htinho100htinha sai da sala.
Sei lá, você entende?
Não? Não faz mal.
Não é a era da interpretação.
Só queria desabafar.
Mas não quero ser down,
Quero ser pop,
Quero ser up!
Ser visto,
Fechado,
Num Alt+F4,
Já que não sei
Como reagir.
Sem pensar.
Sem existir.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Tempos bárbaros.

Por Heloísa Noronha.

Ultimamente, tenho evitado ler sites de notícias e assistir telejornais. Fico muito mexida quando sei de tragédias e desgraças – e a gravidez só vem acentuando essa sensibilidade. Mas, trabalhando como jornalista, fica meio difícil não acessar, pelo menos uma vez por dia, sites como UOL, Terra e IG. E foi em um deles (não me lembro qual) que ontem eu li rapidamente uma nota sobre uma tragédia que aconteceu na Marginal Pinheiros, perto da Ponte do Jaguaré – aliás, bem perto de onde trabalho. Na noite de quarta-feira um rapaz novinho, de uns 20 e poucos anos, parou o carro no acostamento para ajudar um homem (se não me engano, de um Ford KA) que estava com o carro quebrado. Enquanto descia do carro para prestar um raro e louvável ato de solidariedade, um caminhão veio com tudo e o atropelou, diante da namorada. O motorista do caminhão fugiu. O do carro quebrado – não sei como – também. Se o primeiro foi um monstro, o segundo deve ser chamado de quê?
O transporte público de São Paulo é uma merda. Ridículo. A cidade é imensa e a facilidade para se comprar um carro, hoje em dia, é excelente. Todo mundo quer ter um carro e todo mundo tem o direito de comprá-lo. É muito fácil, para candidatos como aquela tal sra. Soninha, mandar o povo andar de bicicleta. Queria ver quantos dias ela conseguiria pedalar de São Caetano do Sul até a Avenida Jaguaré. Nem vou discutir questões ecológicas, porque não tenho embasamento para tanto, nem me aprofundar tanto em assuntos que não conheço. Só queria desabafar que as pessoas, no trânsito, se transformaram em selvagens da Idade Média. E, tristemente, me incluo nesse grupo. Pego cerca de três horas de trânsito por dia e às vezes tenho vontade de deixar o carro no meio da rua e sair andando, de puro desespero. Lerdos, egoístas, distraídos, exibidos, folgados, estúpidos, cegos, burros, aproveitadores. Há todo o tipo de motorista por aí. Sim, concordo que muita mulher deveria estar mesmo pilotando fogão ou fazendo qualquer outra coisa para a qual tivesse um talento mínimo. E eu queria ver muito homem que se considera machão e bonzão no trânsito ajudar o Corpo de Bombeiros a recolher com a pá pedaços de corpos que sobram dos acidentes. E também assistir de camarote motoboy levando pontapés de coturno bem no meio do saco; pontapés com o mesmo impacto que eles usam para chutar retrovisores, portas e até pedestres (já vi isso no Centro de São Paulo) quando querem tirar uma fina ou passar um semáforo vermelho.
São Paulo, antes de metrôs e ônibus de Primeiro Mundo, precisa de educação, altruísmo, paciência. Até parados alguns motoristas são idiotas. No sábado passado, ao voltar do supermercado, meu marido deu de cara com um carro estacionado bem na porta da garagem do nosso prédio, bem diante de duas placas de “É proibido estacionar dia e noite”. Esperou o folgado retornar por alguns minutos. Nada. Não teve dúvida: deu ré e acelerou para cima do pára-choques do folgado, que, lógico, chegou e viu tudo. Saiu correndo, com o rabinho entre as pernas. Se achei bonito o que meu marido fez? Nem um pouco. Morro de medo de um desses playboys sair do carro com um 38 em punho. Se faria o mesmo em um momento de ira? Faria. Pois é, faria. Isso também já aconteceu comigo e pensei em riscar o carro do fulano com estilete. Ele chegou antes. O cansaço, o stress, a raiva e a sensação de onipotência que a atitude baixa e selvagem dos motoristas provocam vão contaminando a gente. Com as devidas proporções, lesar um carro de propósito, fechar alguém na curva e mandar um dedo médio pela janela é a ponta do iceberg que matou aquele menino na Marginal. Isso precisa parar.

Talvez.

Por Adriana Hernandes.

Chego em casa, descalço meus sapatos, janto qualquer coisa, acendo meu cigarro e me viro para janela. Ah, mas quem pensou que eu estava sozinho se enganou, Coltrane aparece sutilmente na vitrola pra me dar aquela força.

Há quem goste virar os olhos pra uma caixa que vende ilusão barata regada de imagens e sons intermitentes. Eu não! Eu prefiro observar toda essa fantasia real que paira em prédios vizinhos, calçadas e becos. Prefiro essa visão panorâmica e tridimensional, ao vivo e a cores nada opacas. Sem cortes, sem intervalos, com alguns fantasmas, concordo, mas sem nenhum locutor entendido de nada a bradar ruídos vazios aos meus ouvidos.

Encostado no parapeito vejo vidas que vêm e vão em cima de pernas, dentro de carros, à pedaladas. Se sou curioso, enxerido, abelhudo? Eu nunca afirmei o contrário.

Agora mesmo dois amigos passam pela rua. Um é alto, robusto, voz grave, muito bem apanhado, por sinal. Mas pelo andar molengo e a cara esparramada percebe-se que esse é só mais um em meio a tantos. O outro não, mesmo mirrado, caído e deixando se ofuscar pela grandeza oca do colega, mostra-se muito maior internamente só pelo fato de preferir ouvir a falar. Escolha sábia.

Logo adiante, naquela esquina, uma moça espera ansiosamente seu príncipe encantado... O terceiro dessa noite.
Com certeza essa jovem seria uma ótima atriz, merecedora de todos os prêmios. Esconder a indiferença sentimental e o asco gélido atrás de lábios vermelhos, sorrisos, gemidos, suores e sussurros de frases decoradas realmente deve ser muito difícil. Aliás, essa vida é tudo, menos fácil.

No prédio em frente encontra-se uma das sessões mais curiosas: Uma senhora reza um terço ferozmente com um gato branco em seu colo, o que gera um bonito contraste com seu vestido de luto.
Exatamente ás 22 horas sua campainha toca. Um homem, baixo, gordo, pescoço curto, entra. E as últimas coisa que vejo são: A velha escondendo um retrato (do falecido, suponho), as cortinas da sala se fechando e a silhueta de dois corpos já cansados a riscar o chão num baile eterno, como se as décadas jamais tivessem passado. Ah, essa juventude.

Dois andares acima uma mulher chora, histericamente, ao telefone. Passa a mão pelos cabelos, seca as lágrimas na manga do casaco, senta, levanta, anda, pára. Não adianta minha cara, ele não vem hoje.
Mas não se preocupe, amanhã ele aparece com qualquer bugiganga atada em um laço dourado e aquela cara de Basset abandonado que só ele sabe fazer. E você irá perdoá-lo com o maior sorriso do mundo... de novo. E assim prosseguirá sua romaria, você sempre sendo dele e ele nunca sendo seu.

Talvez, no meio desses muitos olhos que enxergam mas não vêem, exista alguém a me observar também. Talvez, alguém de alguma janela que minhas vistas ainda não alcançaram esteja, nesse momento, tentando decifrar o que um homem, sem camisa, com um cigarro na mão, ouvindo um vinil velho faz debruçado na janela agindo como o farol de um cais, tentando, silenciosa e inutilmente, guiar os navios que arriscam cruzar a sua frente.

Talvez, esse alguém imagine que também está sendo observado por algum estranho que tenta adivinhar o seu código mais secreto. Talvez, estejamos todos na ânsia de ver além de só enxergar, mesmo que a grande maioria morra sem perceber isso a tempo. Talvez.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ao menos.

Por Vinícius Noronha.

Ainda no início, eu te dizia pra não se apegar muito porque as coisas são efêmeras e, como tudo na vida, um dia acabam. Lembra disso? Se sim, provavelmente se lembra também da minha convicção, do meu olhar quase robótico de tão arregalado, das mãos inquietas, tomadas por um suor gelado e pela ânsia de vislumbrar rumos inéditos, explicitamente fáceis.

Pensei muito, tintim por tintim. Cheguei à conclusão que o melhor era não praguejar e começar, de cara, recrutando só o que era certeza. Acabei jurando que essa era a minha metodologia, que as coisas dariam certo assim, e que se não dessem valeu a tentativa. Acho que era porque eu te amava tanto que não via que a gente tinha se apaixonado (até então, pra mim, era você que tinha se apaixonado por mim). Não é tão difícil construir essa arapuca quanto se possa imaginar: simplesmente coloca-se o sentimento projetado nas impossibilidades que o passado brindou com despedidas amargas, sumiços e soluços. E não era um piloto automático, como muita gente imagina. Era, simplesmente, disciplina e coerência.

De qualquer jeito, seguimos. As mãos dadas diziam isso, os beijos também, e o sexo idem. Ao menos pra mim. Ao menos, pelo que me recordo. Acho que brigamos muito pouco, né? Tão pouco que não entendi direito quando você me acusou de rispidez, displicência, e outras bofetadas. Caralho, eu sempre estava ali pra te ouvir, pra te dar o lenço, fazer o prato pra você, sem reclamações, sem rosto virado e ainda com direito a sobremesa. Ás vezes achava que perdia tempo com você, sabia? Ah, deixa pra lá.

A gente se declarou muito pouco, né? De minha parte, não me importava. Juro! Tanto que nunca cobrava nada de você, muito pelo contrário, te deixava sempre lembretes no cotidiano de que, se quisesse provar que me amava, tinha que ser ali, no dia-a-dia, no banal da troca de canal, da conversa trivial e do cozinha-sala-quarto. Funcionou. Ao menos pra mim. Ao menos na hora.

Eu te endureci pra vida? Que bobagem. Passeatas me acusam disso, mas quer saber? Eu acho que você é a que está sofrendo menos com isso tudo, e sinto que é porque eu te amava mais do que você a mim. Pra você parece que tá tudo ok, que era pra ser assim, como se os passos estivessem previamente marcados em direção à saída. Não posso crer que você não percebeu nada do que eu te profecei todo esse tempo. Idiota! Idiota!

Tá bom, eu confesso que isso tudo me derruba pro inferno. Por mais que o que eu te falasse fosse, justamente, pra que você ficasse assim quando o inevitável acontecesse. Pra que você fosse forte e seguisse em frente. Pra que você... Pra...

Eu queria ficar assim, eu queria ser você, eu queria ser o que eu dizia que era.

Será que você responderia se eu tivesse dito "Por que você não vem comigo e gente começa algo que nunca vamos entender?"

Ah, foda-se.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sinuca de bico.

Por Sergio Faria.



Tô tentando, cansando, desencanando, acomodando, apanhando, tropeçando, desistindo, constatando, perdendo, amargando, despencando, lamentando, pressentindo, desanimando, empacando, quebrando, perdendo, desabando, percebendo, renegando, caindo, engatinhando, arrastando, coexistindo, desgastando, titubeando, bloqueando, desmanchando, involuindo, descartando, ralando, dependendo, pipocando, capengando, protelando, anoitecendo, pensando, desvendando, invejando, desmilinguindo, requentando, encerrando, naufragando, enrustindo, acordando, desacelerando, sofrendo, suportando, desmembrando, subvertendo, batalhando, atrasando, engasgando, escorregando, arriando, entristecendo, afunilando, esmorecendo, abdicando, refletindo, murchando, caçando, vagabundando, duvidando, fingindo, enterrando, pastando, definhando, empobrecendo, elucubrando, reavaliando, compreendendo, batalhando, inventando, empoeirando, desleixando, perecendo, agüentando, rodopiando, afundando, desconsiderando, enfurecendo, desesperando, atrofiando, engolindo, dilacerando, adoecendo, despencando, estremecendo, amarelando, medicando, regredindo, despertando, mudando, digerindo, encarcerando, parando, substituindo, silenciando, esfriando, insistindo, radicalizando, vadiando, desequilibrando, exasperando, sucumbindo, agonizando... enfim, sobrevivendo.

domingo, 14 de setembro de 2008

Horóscopo.

Por Daniel Ramos.

Caros amigos e leitores desse blog, antes de iniciar o post de hoje, gostaria de me desculpar pela ausência nos comentários, mas como a Helô disse, eu tenho lido todos e fico envaidecido de estar na mesma barca que tanta gente de calibre.
Agora parando com a inflada de ego, volto à minha pena ácida e trato de um assunto que entra ano,sai ano, nunca sai de moda: os populares horóscopos!
Mais velho do que alguns dos Rolling Stones, escrever sobre o comportamento das pessoas, baseadas no dia do nascimento, sua relação com astros e numerologia sempre dispertou o interesse de muita gente. Eu como esoterista convicto, acho fantástico os fatos e traços de personalidade que muitas vezes conseguimos descobrir apenas com alguns dados acerca da pessoa. Mapas astrais,análises cármicas, tudo isso tem um apelo enorme junto aos curiosos acerca do futuro. Mas meu assunto hoje não é discorrer sobre o horóscopo, e sim aludir ao fato de como esse assunto é tratado, principalmente em mídias impressas. É incrível como os jornais tem a capacidade de tornar genérico, para não dizer imbecilizar, os tratados e estudo milenares acerca do horóscopo. Então,como bom falastrão, e crendo que a mídia é uma grande vaca de um milhão de tetas e basta você ser esperto e colocar a boca em uma delas , hoje com imenso orgulho apresento para você o meu Horóscopo, sutil e preciso, e tenho toda certeza que a maioria das minhas previsões vai bater com quem estiver lendo. Vamos aos signos:

Aquário
Atenção você do signo de aquário, cujos nomes começam com as letras Z e W e que possuem lojas de iscas especializados em minhocas albinas: Tudo vai mal para vocês !!
Muito provavelmente chegarão parentes contaminados com béri-béri na porta de sua casa e toda aquela coleção do Emílio Santiago será roubada na mesma noite em que uma chuva de granizo derrubará o telhado de amianto recém-comprado. Porém nem tudo são espinhos no seu caminho: Você será agraciado com um dvd player num sorteio. Só isso!

Peixes
Nativos desse signo devem evitar viagens para Sumatra, Burundi e Burkina faso, pois os astros encontram-se em rota de colisão e podem ocorrer acidentes. E mesmo que não fosse isso, que espécie de idiota gastaria o dinheiro de uma viagem que poderia ser feita pras ilhas gregas indo nesses países que o pessoal coloca como local de nascimento no perfil do Orkut? Enfim piscianos , cuidado redobrado ao passarem por perto de indústrias termonucleares e vulcões ativos, e recomenda-se proteção no caso de escaladas acima de 2000 metros. Fora isso as chances de morrer de maneira patética diminuem consideravelmente.

Sagitário
Para um signo cujo símbolo e um homem com rabo de eqüino, o único conselho que se pode dar é: Cuidado com os carrapatos. Afinal você não vai ficar querendo balançar o rabo cheio de parasitas por ai. Mas caso isso ocorra, utilize o método eficaz e indolor de embeber o rabo em álcool etílico e acender com um isqueiro. Parasita nenhum vai ficar depois disso( nem qualquer coisa que se assemelhe a uma cauda).

Touro
Aos taurinos pede-se cautela no quesito amoroso: evite namorar prostitutas e recém- saídos de condicional. Pratique atividades salutares como aulas de tiro ao alvo e adestramento de felinos de grande porte.

Leão
Leoninos que praticam ao mesmo tempo tourada, pelota basca e banco imobiliário todos morrerão no ano de 2014. Pronto, to sem saco pra escrever mais sobre esse signo.

Libra
Ao signo do equilíbrio pede-se parcimônia no quesito financeiro. Evite vender seu Iate no momento, e guarde o resto dos seus milhões em contas estrangeiras. Dispense aquela horda de super models que batem à sua porta, pois afinal de contas já está mais do que na hora de sair com atores e atrizes de primeira linha. Abandone a coleção de ovos fabergê e dedique-se mais àquela sua coleção de Van Gogh jogada no canto de sua casa em Fernando de Noronha.

Escorpião
Os da cauda venenosa alcançarão vôos mais altos em 2008, mas só os que possuírem um terceiro mamilo e olhos cor de violeta. A esses o ano será proveitoso, principalmente na indústria televisiva, que abrirá inscrições para o reality show “ Meus defeitos mais bizarros!”, cujo prêmio são dois milhões de reais e uma máscara de ferro para que possa voltar a ter vida social.

sábado, 13 de setembro de 2008

Industrialização.


Por Felipe Grilo.



***
Pessoal, como o texto não tava saindo e eu tava morrendo de vontade de desenhar...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Hoje não tem marmelada.

Gente, mil perdões!! De novo, não consegui escrever nenhum texto bom o suficiente para postar aqui. Estou no meio de um turbilhão alucinado de fechamento de revista, chegando em casa tarde todos os dias, podre de cansada. Estou fechando um especial de decoração e ontem, para se ter uma idéia, escrevi coisas bonitas e com sentido do tipo "A arquiteta e seu cachorro Apolo se divertem SOB o tapete de náilon..." e, pior, "Imponente, a TV de plasma se impõe." Credo!!!! Tenham paciência, por favor!! Semana que vem estarei aqui firme, forte e renovada! Um beijo para você, leitor(a), para o papai, a mamãe, a vovó e não se esqueça de escovar os dentinhos! Fui.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Ingredientes.

Por Adriana Hernandes.

Peanuts. Queijo, sorvete e amendoim. Coca-Cola, suco de maracujá e café com leite. Cachorros e corujas. Azul, preto e branco (não, eu não sou gremista). Liverpool nos anos 60, São Paulo nos anos 80, quintal de casa nos anos 90.

Querer tudo pra hoje e deixar tudo pra amanhã. Timidez, insegurança, paciência demais e organização de menos. Gargalhada alta, sono leve, preguiça e pieguiçe até dizer chega. Carteira vazia e fé cheia.

Hemingway, Sabino e Machado. Harley-Davidson, vinil, tênis e relógio. Pouca estatura e cabeça nas nuvens.

Ódio de telefone, falta de respeito, chá e milho. Medo de borboleta, de ser enterrada viva, de ter dor de barriga no meio da rua, de magoar/decepcionar quem eu amo e de mim mesma em certo período do mês.

Show lotado, cinema vazio, brigadeiro de panela e pizza na casa dos amigos. Parque à tarde, praia à noite e lar doce lar em qualquer horário.

Rinite alérgica, um grau de miopia, tentativas fracassadas de não roer unhas, gírias de mil novecentos e meu-avô-de-cueiro e assaltos à geladeira em horários pouco ortodoxos.

Nenhuma inspiração pra escrever coisa alguma hoje, mas doses altíssimas de esperança para um texto supimpa na próxima quinta-feira.

Misture bem todos os ingredientes, junte com uma pitada de sal e um torrão de açúcar, leve ao forno por vinte anos e... Voilà!!! Uma Adriana pra ninguém botar defeito.

Obs: Muitos outros ingredientes podem ser acrescentados, mas nada que modifique radicalmente a receita.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Eleições.


por Cristiane Senn


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E você, vai votar em quem?

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Você.

Por Vinicius Noronha.

Você, que agora é lembrança enrijecida. Você aterrissou, sem cerimônias nem prévios desembaraços, na minha rotina de data e hora marcada ao cartão de ponto. Você não notou meu queixo no chão, e nem se deu conta da minha presença, até que eu fiz chover desajeitos e tramei mil anedotas pra te domar minimamente. Então você me viu, sorriu após cinco palavras, e me mostrou Pasárgada, Éden, e algum lugar de infância pé-de-barro.

Você, que morou meses no meu olhar perdido. Você demonstrava a coragem que eu queria desenhar à canivete em mim. Era difícil crer no seu desatino, em te supor acometida em segredo dos desvarios que a vida ousa pregar em quem tem armadura de alfazemas.

Você, que era o combustível das noites mal-dormidas, do almoço mal-feito, e do sonho em stand-by. Você era a atriz principal de cada prece que eu fazia. Você escutava os meus devaneios, e eu nem tinha idéia de que aquela atenção não era fajuta. Você derramou uma lágrima quando as nossas solidões serviram de contrapeso para o outro. Lágrima, esta, que nunca mais vai secar.

Você, que recitava melodias na forma de me observar. Você era a minha circunstância de prosseguir. Você era a minha sofreguidão instaurada, da qual não queria me desfazer, não queria me desfazer, não queria me desfazer.

Você, que me fez acreditar em tantos lugares-comuns songomongos. Você era a minha jura unicamente manifestada em quartos trancados com persianas fechadas. Você era a minha insensatez anunciada, a minha rúbrica de novos pesares. Você clamava por um antídoto contra a ausência, e eu tentava te mostrar, a grosseiros modos, que eu tinha a resolução da equação.

Você, que era o meu vulto onipresente. Você me fez tomar litros de veneno, coincidiu o meu estratagema com o cadafalso, embriagou o que me restava de equilíbrio. Você com seus tons maiores e menores, sua constante queda de braço, sua maneira ríspida de converter dedos em pétalas, transfigurou a platonice ao estado de alerta metafísico.

Você, que era o meu melhor quem sabe. Você é, e para sempre será, o meu mais doloroso quase.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Olhos vendados.


Por Sergio Faria.

Olhos vendados não vislumbram o remédio
Que provavelmente não estará num divã
Mas na escola, no primeiro emprego
Ou na casa de uma amiga da sua irmã

Olhos vendados não enxergam o espelho
Que você ignora insistentemente
Mas que é muito seu amigo
Desde que você se conhece por gente

Não te agrada o que a natureza fez?
Quantos te olharam mais de uma vez?
Os seus argumentos de que o mundo
Não é um equívoco
Não me convencem não
Só me cativam

Sei que mesmo uma multidão
Cortejando sua essência e beleza
Você fugirá incrédula
Derrotada pela incerteza
Quando você chegar
Não pense no que as pessoas vão achar de você
Quando você chegar só pense
O que achará delas e quem você vai escolher

Olhos vendados não olham pra traz
Onde é feio e triste o filme que passa
Ideal pra te mostrar como és feliz
E o quanto você sempre sofre de graça

Olhos vendados não deixam perceber
Que os conselhos que você tanto quer
Todos nós compartilhamos
Sem cerimônia qualquer

Até os quinze você leu bastante
Que tal viver de agora em diante?
As vezes é bem mais fácil
Vencer um exército
Do que aquele outro inimigo
Que vive dentro de nós

Sei que sempre será fácil
Falar da angústia que não se vive
Sei que não quero que você
Tenha as dúvidas que eu tive
Não desperdice as oportunidades
E responda a chamada
Porque a vida é irreversível
Até a próxima jornada

domingo, 7 de setembro de 2008

Errar é humano.

Por Daniel Ramos.


Amigos e amigas, leitores afáveis desse aprazível blog. Como o título do post já explica, o assunto hoje é “erros”. Eu explico: hoje citarei aqui as frases mais bizarras e dantescas que pude armazenar no meu maquinário cerebral ao longo dos anos. Claro, vocês podem achar que eu inventei essas frases todas, mas garanto a todos que as pessoas que disseram tais poéticas frases as disseram no auto de sua lucidez (tá, nem todos) e se um dia tiverem a chance de confrontá-los(não tinha palavra melhor pra colocar) verão que é a mais pura verdade. Divirtam-se:

"Pô cara, não dá pra falar mais alto, só se eu falar com um HOLOFOTE!" Frase clássica, de um amigo, universitário, quase formado, querendo referir-se a um MEGAFONE!!!

"Nossa, aquele cara é mais escuro que SEBASTIAN BACH" O mesmo amigo, dessa vez fazendo referência a um colega afro-descendente, e comparando-o ao ator SEBASTIAN, da C&A. No auto de sua ignorância o confundiu com o compositor clássico JOHANN SEBASTIAN BACH!

"Ah já sei, é pra escrever uma crônica como aquelas do Nelson Gonçalves?" De novo ele, (fala sério, como ele conseguiu entrar num curso superior??) trocando NELSON GONÇALVES por NELSON RODRIGUES!

"Não dá mais, o OSWALDO MONTENEGRO tem que ir embora do São Paulo!" Ok, o autor dessa pérola fui eu mesmo, que além de ter dito essa frase em altos brados, ainda confundi o cantor de "lua e flor" com OSWALDO DE OLIVEIRA, ex-técnico do meu tricolor.

"Ah poxa, vou ter que ficar DUAS HORAS aqui?!!!" O autor dessa foi um grande amigo meu, que a exteriorizou ao ver na placa de um restaurante “ALMOÇO DAS 12 ÀS 14.

"Filho, filho RENATO GAÚCHO morreu!!" Minha finada avózinha, me dando a triste notícia do falecimento de RENATO RUSSO!! (tudo bem, ela só trocou a nacionalidade... russo.... gaúcho... todos bebem vodka mesmo!)

"Que legal, então você vai para SÃO JOSÉ DOS NÚMEROS?!" Pérola de outro amigo ao me perguntar se eu iria à SÃO TOMÉ DAS LETRAS!!

"AVENTURAS DE UM SARGENTO DE MIÇANGAS" outra do mesmo já citado acima, na prova de literatura, referindo-se à "MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS"!

"Meu avô foi PATRICINHA na segunda guerra mundial!" Fazendo seu “Hat trick”, o mesmo personagem das frases acima ainda teve fôlego e vergonha na cara para proferir mais essa.

sábado, 6 de setembro de 2008

Peter Pan.

Por Felipe Grilo.

Meu nome é N. e hoje, dia 6 de setembro de 2008, descobri que sou uma náufraga em mim mesmo.

Escrevo esta carta isolada em uma ilha de consciência, banhada pelas águas de uma alma que nunca foi minha. Será como nos filmes de piratas: jogarei a garrafa com o papel ao mar e adeus. Quem lerá, não sei. Minha falsa esperança é fazer eu mesma ler, quem sabe em um desabafo qualquer de diário, e despertar a atenção daqueles olhos físicos para o lado de dentro, fazendo me encontrar tão sozinha, tão triste, tão criança, tão fetalmente sem formação.

Escrevo, como um pedido de socorro em letras pequenas, sobre esta urgência, sobre esta morte iminente diante do meu auto-definhamento. Nunca pareci tão inóspita como sou. Mas só agora percebo. E me calei até hoje. Pareço tão inalcançável...

Por fora, uma garota mimada e arrogante, apesar de manter uma aura tenra e infantil. Tenho gestos duros para uma garota. Não tenho muitos amigos, apenas uma família desestruturada e uma mãe que, por insistência, coloco em um altar de santa. Assim ela é minha salvaguarda, é meu consolo, minha razão de viver e a pessoa que mais amo no mundo. Talvez a única. Mais do que a mim mesma.

Não amo homens, nunca amei nem amarei. Nem sou lésbica. Apenas não confio neles, como não confio em meu pai. Apenas colegas, cumprimento todos eles com apertos de mão, mantendo distância segura de carícias e afetos. Já fui amada. Preferi a distância total e absoluta, apesar de dizer sentir saudades suas. Como os conflitos eram muitos, sem perceber, preferi a sua morte. Preferi que a sua vaga lembrança viajasse neste mar de restos imortais dentro de mim. Ele sobreviveu, está à espreita, e quer se vingar.

De forma contraditória a este lamaçal de purezas que fiz questão de entulhar, também faço questão de me manter longe das impurezas do mundo que me cerca pelo lado de fora. Sou muito criança, apesar de atingir a maioridade. Acredito em anjinhos e leio Pequeno Príncipe, mas meu livro preferido é Orgulho e Preconceito. Sou racional, quase formal, e não tenho coragem de olhar nos olhos de quem me vê. Sou dissimulada: respondo a estímulos sem me consultar. Sinto que uma estranha ensaboa meu corpo no chuveiro, sem o menor prazer em acariciar minha pele. Ando como um animal de tetas. Desconversei quando me perguntaram se era feliz.

Como tenho muito pouco do que viver corrôo, canibalisticamente, cada pedacinho das minhas mais ínfimas indagações. Aqui dentro absorvo uma atmosfera venenosa de ilusões mentais, sem sentimentos e puramente fictícias, criadas por uma lógica desordenada como o vento e construída ao longo da vida para me proteger de como ela é: meteoros de homens e mulheres em decomposição, banalidades flamejantes e estímulos irracionais como a vontade de ter um orgasmo. Assim vejo fábulas, príncipes encantados e finais felizes, ainda que trágicos, onde quem morre sou eu. Por fora, acredito poder ajudar as pessoas com minha altivez de fada madrinha, enquanto por dentro, preciso de ajuda para sair de mim.

Como naufraguei? Os medos contraditórios me guiaram até aqui: tenho medo de perder as pessoas que mais amo no mundo, mas não sei amar nem a mim mesma. Tenho medo de ficar sozinha, mas é como fiquei. Tenho medo que me enganem, e me enganei. Tenho medo do abandono, e me abandonei.

E então vieram as aparências me assombrar em meu próprio navio-fantasma: mostro ser dura, firme e forte em minha casca, mas tenho medo de me abrir aos sentimentos e de flutuar – pois afundada já estou. Tenho medo de aparentar fraqueza, e é mais do que evidente que sou.

E então, as palavras derradeiras, que me apunhalaram a mando do meu segundo maior algoz:

- N., você tem medo de ter medo.

Sim, tenho medo de ter medo. Tenho medo de ter medo de ter medo. Tenho medo de ter medo de ter medo de ter medo. E assim, como num jogo de espelhos entre o meu mar e o céu de ilusões, vivo em um mundo paralelo onde não posso crescer, perco em instantes e deixo fugir, em múltiplos fragmentos, a sombra efêmera do meu eu, sem mim.

***

Texto dedicado a um amigo.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Já era.

Por Heloísa Noronha.

Já fiz todas as perguntas, ouvi algumas respostas, continuo com algumas pendências. Já perdi ilusões, mas ganhei novas esperanças. Fiquei de mal com Deus, reneguei o céu, fui até o inferno e voltei com a fé mais inabalável do que nunca. Já fiz promessas que suei para cumprir e outras que quebrei sem dó. Já disse palavras que me arrependi, já ouvi coisas que não merecia. Já ofendi, mas já perdoei muito. Estudei, esqueci o que não me interessava e guardei com carinho aquilo que valia a pena me acompanhar pela vida afora. Descobri o amor, encarei a raiva, senti ciúmes, me roí de inveja. Tombei, sacudi, levantei. Sofri perdas irrecuperáveis, ganhei quando nem esperava mais nada. Já vi as luzes douradas de Paris, tourada em Madri, as pedras de Barcelona, a pompa do Vaticano, as ruínas de Roma, as águas de Veneza e as colunas brancas de Atenas. Já vi, nos olhos alheios, falsidade, humildade, escárnio, pureza, alegria, cansaço, decepção, vitória. Já me dei por derrotada, já venci barreiras. Dei a volta por cima, tropecei, me contentei com pouco e aceitei o que não podia mudar. Já modifiquei o que achava errado, já fiz a diferença, já me achei. Me escondi, me acovardei, dei risadas e chorei. Já me envergonhei, me intimidei. Esqueci, lembrei, fiz de conta que não era comigo. Fui loira, morena, ruiva, crespa e curta. Tentei ser esotérica, séria, revoltada de butique. Encontrei a rebeldia não no espelho, mas dentro do coração. Já fui implacável, preconceituosa, histérica e omissa. Me tornei sincera, corajosa, tolerante e irônica. Causei felicidade e dor. Filha, irmã, aluna, mulher, amante, esposa, amiga, inimiga, operária, jornalista, cigarra, formiga, rainha, atriz e personagem. Já fui e sou tantas e várias, aprendi tudo e não sei nada. Nada mais sei diante da beleza das mãozinhas e dos pezinhos que vi ontem, embaçados e inquietos, numa tela de ultra-som. Me curvo diante da garotinha que está dentro da minha barriga, de quem nem conheço o rosto ou a voz, mas por quem já sou apaixonada com toda a força de que sou capaz. Vou começar tudo de novo, porque tudo, agora, de nada adianta. Já era.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Mero detalhe.

Por Adriana Hernandes.


Como era de costume, os três se encontravam num bar para o almoço. Já no fim da refeição, em meio a pratos com restos de bifes e batatas fritas e copos vazios, a conversa marchava:

- Hoje, a caminho do trabalho, teve um acidente lá naquele cruzamento. O motorista pegou um motoboy em cheio.

- Viche, aquele cruzamento é uma droga mesmo, muito mal sinalizado. Deveria ter um guardinha permanente lá, pra ajudar.

- E você não sabe da maior. No meio da algazarra toda, os dois carros que vinham atrás não conseguiram frear e bateram também. Engavetou tudo. O do meio, um Fusca, virou uma sanfona. E foi sorte do motorista, que só ganhou uns arranhões.

- Pombas, vai tá russo passar por lá hoje, hein?

- Apareceu perícia?

- Nem me fale, vou fazer desvio. Enquanto eu tava lá olhando, chegou seguradora do primeiro carro. Mas me deu dó mesmo foi do fusquinha. Pô, todo conservado, ajeitadinho, dava até gosto.

- Ah, mas essas seguradoras de hoje em dia não garantem nada não, viu? Lembra aquele caso do meu conhecido que te falei? A empresa tá enrolando ele há mais de dois anos. Dão desculpa que, pra aquele caso, eles não podem se responsabilizar.

- Esse povo de seguro não presta! Eles são amiguinhos enquanto não precisamos dele. Mas é só acontecer alguma coisa que surgem umas mil cláusulas novas no contrato. E tome desculpa e embromação.

- É o que eu falo, seguradora é tudo máfia!! Só querem saber do nosso dinheiro!! Gente assim não tem coração, só pensam no próprio umbigo, meu chapa. Eles querem é lucrar. Esses magnatas não gostam de gente, não. É tudo máfia.

- Se valem nada ou não, eu não sei. Só sei que hoje eu não passo por lá. Mas vamos indo que já deu a hora.

- Psiu!! Ô campeão, a notinha faz o favor. Não estamos esquecendo nada, né?

Levantaram e saíram. Um assoviando, o outro palitando os dentes e o terceiro, arrumando a gravata, ainda pensando se não tinham esquecido de nada.

Lembraram de quase tudo, de maldizer as seguradoras, de ter pena do fusquinha, de palitar os dentes, de assoviar e de dar gorjeta ao garçom. Só não lembraram do motoboy pego em cheio, mas isso era um mero detalhe.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

NÃO AGUENTO MAIS METALINGUAGEM!

Por Cristiane Senn.

Ok, é legal, dá pra fazer um sem fim de análises legais e brincar com forma x função de uma maneira super tchãnãnã. Mas, porra, chega. Você vai ver um filme, ta lá o fulano discutindo o lindo processo fílmico, vai ler um livro e autor enfia no meio uma filosofia da escrita, vai ao museu e a obra discute o fato de estar no museu. Não que eu não goste disso, pelo contrário, Vertov, Brecht, Duchamp, etc. , tios muito bacanas. Mas, sim, esse ‘etc.’ significa ‘muita gente’. Você, artista contemporâneo, não acha que tá precisando de um pouco de criatividade?

O pior de tudo é que ninguém escapa. Meus primeiros textos do blog eram sobre o ato de escrever, ou mais precisamente blogar. Não tem como evitar. Acredito piamente que a metalinguagem é natural do ser humano, como as sensações, dor, raiva, ódio. Sim, um nervo metalingüístico no cérebro. Deve existir algum remédio pra acalmá-lo. E (medo) um para ativá-lo. Imagine tomar por engano este último? Um ser humano andando na rua retratando e subvertendo todas as formas de andar das pessoas que encontra, enquanto fala sobre o fenômeno da voz, mentaliza “estou pensando, estou pensando...” e espirra com a maior força e perfeição onomatopéica possíveis para que o ato possa ser ao mesmo tempo um simples espirro e um instrumento de reflexão acerca do ato em si. Próximo passo: internação, com tendências a passar o resto da vida fazendo loucas digressões sobre a própria loucura.

Pensando bem, nada de remédios, melhor deixar como está, e que continuem existindo livros sobre livros, filmes sobre filmes, fotografias sobre fotografias, esculturas sobre esculturas, macarronadas sobre macarronadas, pedra sobre pedra. Enquanto isso eu fico aqui, escrevendo sobre escrever e... ufa, achei que não ia sair nada hoje. Complicada essa coisa de escrever, hoje mesmo acordei pensando que a função das palavras é justamente [...].

Ser.

Por Vinícius Noronha.

Eu tinha 8 anos quando, pela primeira vez, me perguntei quem eu era. Até aquele dia eu era Vinícius, pois era por essa palavra que me chamavam ou diziam algo relacionado a mim. Acontece que, na mesma turma que eu, tinha um outro Vinícius. E ele não tinha nada a ver comigo: era japonês, usava óculos, gostava de matemática e o pai tinha um passat. Mesmo assim, o chamavam do mesmo jeito. Pensei que então eu não poderia ser, simplesmente, Vinícius. Tinha que ser mais coisas, ou pelo menos, ir além disso.

Pra entender quem eu era, eu tentei começar na busca por compreender quem as outras pessoas eram. Bom, minha mãe era minha mãe, meu pai era meu pai e minha irmã, minha irmã. Parecia idiotamente óbvio, mas acontece que, ao prestar atenção, vi que pra grande maioria das pessoas minha mãe não era minha mãe. Pra alguns era professora, pra outras, chefe, pra algumas cliente, pra outras tantas, a "Dona Marlei", pra mais algumas, a "Nenem"... Ela era tantas ao mesmo tempo que chegou uma hora que eu me cansei de contar. Voltei o pensamento pra mim e vi que eu também não era só "Vinícius". Ás vezes eu podia ser "aquele menino", "aluno", "meu sobrinho preferido", "o cara mais chato da sala", "o moleque que cata bem no gol".

Também desisti de contar. Percebi o quanto é inútil querer definição do que eu era, porque eu podia ser tantos ao mesmo tempo que não havia nenhuma maneira de somar. Foi quando me dei conta de que, nessa condição, eu poderia ser qualquer coisa que quisesse. Isso me animou tanto, me deixou tão cheio de expectativas, que de fato acreditei, por alguns momentos, ser praticamente um super-herói. Mais que super-herói, afinal eu podia ser super-herói, mas também muitos outros.

Com toda a pose acumulada pelas teorias formuladas, acordei no dia seguinte resolvido a explorar todas essas possibilidades infinitas. Minha pompa era tanta que me esqueci, no meio disso tudo, que se eu podia ser tudo, todo mundo também podia. Só fui me dar conta disso quando cheguei ao colégio e observei, de longe, os outros meninos que se despediam de suas mães para ir pra aula, e depois seguiam em turma acompanhados, cada um se chamando de um apelido completamente diferente de seus nomes originais. Essa infinitude não era particular, e sim uma condição humana. Essa revelação me deixou transtornado, assustado, e confesso que um pouco triste também. Queria tanto ser esse ser único e mágico que pode ser algo hoje e outro alguém completamente diferente 5 segundos depois... Fui pra casa um tanto perdido e descontente.

E então, a última grande descoberta sobre quem eu era me veio dar um murro violento na cara, que eu tive que aguentar firme e assimilar pra toda a minha vida. Meu pai foi ter uma conversa com os anjos, e eu perdi a minha principal referência pra qualquer ponto de interrogação. Eu não percebi na hora, mas com ele, foi-se uma parte do meu mundo. Foi-se um pouco da crença de que as coisas sempre estariam bem, e foi-se, naquele momento, o sentido de entender quem eu era, que deu lugar a perguntas sobre o porquê das coisas acontecerem do jeito que acontecem, se somos predestinados a determinados desvios. Se tudo é uma grande armadilha do destino, ou se, simplesmente, os fatos ocorrem e estamos suscetíveis, a todo instante, a nos encontrar em condições as quais nem imaginaríamos que fossemos deparar.

Os dias correram, semanas até, e de repente a pergunta sobre quem eu era retornou. Naquele momento, sentia necessidade de me entender pra saber como me portar diante de qualquer situação, pro caso do rodamoinho do acaso passar de novo pelo meu caminho, transformando tudo que me rodeava em devaneios inesperados. Mas quando novamente me peguei intrigado com esta questão, imediatamente me lembrei do meu pai, e vi que agora ele não era mais chamado. Não era mais pai, Seu Antônio, doutor, Toninho, e tantas outras identificações que ele tinha, que a vida permitiu que ele tivesse, e que parecia roubar dele após sua partida. Era tão reconhecido pelas palavras, conceitos, discursos, e hoje seus vastos nomes se perdiam na poeira do tempo pra fatalmente sumirem no mais completo esquecimento.

Tive raiva. Chorei. Bati o pé. Teimei que a vida era uma merda, que nada prestava, que não importava ser zilhares de coisas importantes se tudo um dia acabasse daquela maneira injusta. Não podia aceitar que o curso da existência tivesse aquela mecânica que me parecia tão tirana. Decidi que não queria ser mais nada. Queria ser ninguém, um ninguém sem nome, sem função, sem importância. Ao menos, me livrava da decepção de saber que, no fim, todos os "eus" acumulados de nada adiantariam pra que eu tivesse me tornado alguém. Era o que eu achava, e com essa convicção, ignorei todas aquela avalanche de possibilidades de tempos atrás.

Então minha mãe, ao ver que eu não respondia quando ela chamava meu nome, veio ver o que estava acontecendo comigo. Contei tudo isso pra ela. Bom, acho que não dessa maneira que estou contando agora, mas deixei ela saber, de alguma maneira, o que estava acontecendo. Ela me disse que não importava que meu pai não estivesse presente, ele nunca deixaria de ser o que sempre foi em nossas lembranças e recordações, porque essa semente ninguém consegue tirar do coração da gente. Pediu pra que eu não me preocupasse, porque meu pai nunca deixaria de ser meu pai, assim como o Antônio, o grande amor da vida dela, foi, é e sempre será o Antônio. E em todo mundo que teve o privilégio desse convívio, e cuja presença dele foi, de alguma forma, significante, ele permaneceria o que sempre foi. Eternamente.

Eu não sei bem dizer o que senti depois de ouvir tudo aquilo. Fiquei confuso, porém sereno. Aquilo era desesperador e reconfortante ao mesmo tempo. Fluia, simples assim. Meu pai já não era nada, todas aquelas possibilidades tão citadas e impressionáveis se esvaneceram no decorrer da vida, mas continuavam dentro quem teve a chance de receber seu valor. Ao fim disso tudo, depois dessa experiência e de todo o tempo que passou, a minha conclusão é de que não somos nada, e ao mesmo tempo, somos infinitos. Com tantos recursos pra ser o que bem entendermos, terminamos os nossos dias como se fossemos um sonho passageiro, uma lembrança vaga, um lapso. Talvez seja melhor assim, podemos nos livrar da responsabilidade de ser Deus. Hoje, ainda cheio de incertezas, encontro abrigo na convicção de me manter eterno, independente das definições ou do nome subsequente, nos corações e mentes daqueles que verdadeiramente amo e prezo. Por enquanto, esse infinitude tão sagrada e tão cheia de limites me é suficiente.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Gnose.

Por Sergio Faria.

Ultimamente tem acontecido uma coisa estranha: toda vez que vou dormir e deito de barriga pra cima, fico tendo flashs de cenas que aconteceram comigo no passado, visões de rostos de pessoas que não conheço (ou não me lembro de tê-las conhecido ou visto) de lugares por onde já passei ou já vivi... E são coisas muito antigas (tem até brincadeiras da infância), situações insignificantes que eu nunca lembraria se quisesse. É como se essa posição acionasse um mecanismo liberando parte do que existe em meu subconsciente, ou me fizesse entrar numa espécie de regressão dessa existência. Às vezes isso ocorre também quando tô deitado de lado mas aconteceu poucas vezes porque quase nunca deito nessa posição (não consigo dormir nela). Isso tudo acontece quando eu tô semi-acordado, ou seja, tenho plena consciência de que não é um sonho. É o papo da viagem astral. Já aconteceu também de eu sentir um choque crescente, uma força estranha tomando conta do meu corpo. Relaxo e deixo a coisa rolar pra ver até onde vai dar mas quando fica forte eu fico cabreiro e me mexo que é pra tudo aquilo acabar. Não sei explicar o que é isso. Mas quando aconteceu de eu estar ouvindo vozes, risadas e uma bagunça danada no meio da madrugada onde eu sabia que o silêncio imperava, não me apavorei: fiquei atento ao diálogo, tentando entender qual era o babado do pessoal mas não conseguia sacar o que falavam. E quando eu estava começando a curtir e viajar naquilo, meio sem querer eu respirava fundo e acabava “acordando”. Aí todo aquele barulho acabava e voltava o silêncio absoluto.

Vocês devem estar se perguntando: se aquelas vozes não vinham da casa daquele vizinho folgado que resolveu extender a festa até altas horas, então de onde vinham? Da quinta dimensão. Há doze anos fiz parte de um movimento chamado Gnose. No movimento gnóstico aprendi muita coisa interessante assistindo conferências sobre misticismo, cristianismo, espiritismo, ocultismo, psicologia, budismo, ciências exotéricas... Frequentei durante três anos e cheguei a dar palestras mas a falta de tempo e a preguiça não me deixaram continuar. Foi lá que aprendi que toda vez que dormimos, nós vamos “passear” na quinta dimensão que é a morada das almas (das almas que não foram pro inferno ou pra outros lugares) É sério. Então aquelas vozes eram de algumas almas? Provavelmente. Digo isso porque por lá aparecem também algumas entidades ou mestres, do bem e do mal. (qualquer dia desses falo mais sobre isso). Nunca comprovei isso pessoalmente porque pra isso eu teria que estar sonhando mas consciente de estar num sonho. E conseguir isso é muito difícil. Parece loucura mas não é. Os instrutores sempre falavam durante as palestras pra não acreditar em nada que fosse falado ali mas sim pro pessoal ir comprovar com experiências próprias. Eu tive algumas bem malucas mas a mais engraçada vou contar agora. Na época, eles falavam que na quinta dimensão, que é regida por doze leis, não existia a lei da gravidade, do tempo ou espaço físico como aqui na terceira dimensão. Que se eu pulasse iria flutuar, que se eu quisesse ir na padaria ou no Japão era só imaginar que estaria lá, que se eu puxasse o meu dedo ele iria esticar! É claro que pra fazer isso a gente precisa saber quando é um sonho e nele precisa lembrar dessas informações. Mas é tão difícil você estar no sonho e saber que é sonho. Imagina então lembrar desse papo todo.

Pois bem. Passei algum tempo tentando sonhar e no sonho lembrar de fazer isso. Como nunca conseguia, desencanei e nem pensei mais no assunto. Até que há uns dois anos atrás, num sonho, me lembrei de fazer aquela experiência. Foi do nada. Lembrei do lance do dedo e estiquei pra ver o que acontecia. Eu imaginava que o dedo esticaria como um elástico mole, sem eu precisar fazer força. Mas não foi isso que aconteceu. Tive que fazer força e pra minha surpresa o danado do dedo veio pra frente mesmo, só que como uma borracha grossa. Muito louco! Não fiquei impressionado quando acordei porque sempre acreditei. Mas a experiência foi bem legal. Por essas e outras não fico grilado ou com medo quando ouço as vozes na madruga (nunca mais ouvi). Só queria num dia desses estar num sonho (sabendo que é sonho) e me encontrar com uma galera esperta. Trocar umas idéias com Renato Russo (de novo!? papo pra um outro post), com o Cazuza, com o Tom Jobim, com o Cartola, com o Raul ou com o Julio Barroso; tirar um som e me divertir com a patota dos Mamomas; pedir uns toques pros tios Betinho, Darcy Ribeiro, Carlos Drummond de Andrade; perguntar pro Kurt Cobain se foi ele mesmo quem estourou os seus miolos; tomar um uisque com o Vinicius de Morais; dar um rolê numa caranga com o Senna e assistir ao show daquela super banda com o John Bonhan na bateria, o Sid Vicious no baixo, o John Lennon fazendo um pianinho, o George Harrison na guitarra base e segunda voz, o Hendrix solando e a Janis Joplin e o Freddy Mercury dividindo os vocais com uma palhinha do Jim Morrison. O show de rock dos séculos!! Mas o que eu queria mesmo era comer a Marilyn Monroe.