terça-feira, 9 de setembro de 2008

Você.

Por Vinicius Noronha.

Você, que agora é lembrança enrijecida. Você aterrissou, sem cerimônias nem prévios desembaraços, na minha rotina de data e hora marcada ao cartão de ponto. Você não notou meu queixo no chão, e nem se deu conta da minha presença, até que eu fiz chover desajeitos e tramei mil anedotas pra te domar minimamente. Então você me viu, sorriu após cinco palavras, e me mostrou Pasárgada, Éden, e algum lugar de infância pé-de-barro.

Você, que morou meses no meu olhar perdido. Você demonstrava a coragem que eu queria desenhar à canivete em mim. Era difícil crer no seu desatino, em te supor acometida em segredo dos desvarios que a vida ousa pregar em quem tem armadura de alfazemas.

Você, que era o combustível das noites mal-dormidas, do almoço mal-feito, e do sonho em stand-by. Você era a atriz principal de cada prece que eu fazia. Você escutava os meus devaneios, e eu nem tinha idéia de que aquela atenção não era fajuta. Você derramou uma lágrima quando as nossas solidões serviram de contrapeso para o outro. Lágrima, esta, que nunca mais vai secar.

Você, que recitava melodias na forma de me observar. Você era a minha circunstância de prosseguir. Você era a minha sofreguidão instaurada, da qual não queria me desfazer, não queria me desfazer, não queria me desfazer.

Você, que me fez acreditar em tantos lugares-comuns songomongos. Você era a minha jura unicamente manifestada em quartos trancados com persianas fechadas. Você era a minha insensatez anunciada, a minha rúbrica de novos pesares. Você clamava por um antídoto contra a ausência, e eu tentava te mostrar, a grosseiros modos, que eu tinha a resolução da equação.

Você, que era o meu vulto onipresente. Você me fez tomar litros de veneno, coincidiu o meu estratagema com o cadafalso, embriagou o que me restava de equilíbrio. Você com seus tons maiores e menores, sua constante queda de braço, sua maneira ríspida de converter dedos em pétalas, transfigurou a platonice ao estado de alerta metafísico.

Você, que era o meu melhor quem sabe. Você é, e para sempre será, o meu mais doloroso quase.

Um comentário:

Unknown disse...

Como sempre, a cada vez q eu venho aqui, tenho uma surpresa encantadora. :D

Como sempre: Parabéns!

Bjo, Vini!!!