quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ao menos.

Por Vinícius Noronha.

Ainda no início, eu te dizia pra não se apegar muito porque as coisas são efêmeras e, como tudo na vida, um dia acabam. Lembra disso? Se sim, provavelmente se lembra também da minha convicção, do meu olhar quase robótico de tão arregalado, das mãos inquietas, tomadas por um suor gelado e pela ânsia de vislumbrar rumos inéditos, explicitamente fáceis.

Pensei muito, tintim por tintim. Cheguei à conclusão que o melhor era não praguejar e começar, de cara, recrutando só o que era certeza. Acabei jurando que essa era a minha metodologia, que as coisas dariam certo assim, e que se não dessem valeu a tentativa. Acho que era porque eu te amava tanto que não via que a gente tinha se apaixonado (até então, pra mim, era você que tinha se apaixonado por mim). Não é tão difícil construir essa arapuca quanto se possa imaginar: simplesmente coloca-se o sentimento projetado nas impossibilidades que o passado brindou com despedidas amargas, sumiços e soluços. E não era um piloto automático, como muita gente imagina. Era, simplesmente, disciplina e coerência.

De qualquer jeito, seguimos. As mãos dadas diziam isso, os beijos também, e o sexo idem. Ao menos pra mim. Ao menos, pelo que me recordo. Acho que brigamos muito pouco, né? Tão pouco que não entendi direito quando você me acusou de rispidez, displicência, e outras bofetadas. Caralho, eu sempre estava ali pra te ouvir, pra te dar o lenço, fazer o prato pra você, sem reclamações, sem rosto virado e ainda com direito a sobremesa. Ás vezes achava que perdia tempo com você, sabia? Ah, deixa pra lá.

A gente se declarou muito pouco, né? De minha parte, não me importava. Juro! Tanto que nunca cobrava nada de você, muito pelo contrário, te deixava sempre lembretes no cotidiano de que, se quisesse provar que me amava, tinha que ser ali, no dia-a-dia, no banal da troca de canal, da conversa trivial e do cozinha-sala-quarto. Funcionou. Ao menos pra mim. Ao menos na hora.

Eu te endureci pra vida? Que bobagem. Passeatas me acusam disso, mas quer saber? Eu acho que você é a que está sofrendo menos com isso tudo, e sinto que é porque eu te amava mais do que você a mim. Pra você parece que tá tudo ok, que era pra ser assim, como se os passos estivessem previamente marcados em direção à saída. Não posso crer que você não percebeu nada do que eu te profecei todo esse tempo. Idiota! Idiota!

Tá bom, eu confesso que isso tudo me derruba pro inferno. Por mais que o que eu te falasse fosse, justamente, pra que você ficasse assim quando o inevitável acontecesse. Pra que você fosse forte e seguisse em frente. Pra que você... Pra...

Eu queria ficar assim, eu queria ser você, eu queria ser o que eu dizia que era.

Será que você responderia se eu tivesse dito "Por que você não vem comigo e gente começa algo que nunca vamos entender?"

Ah, foda-se.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pernice Brothers!!! Uowww!!

Texto maravilhoso, Vini. Aliás, como sempre.
:)

Unknown disse...

Carácoles!!

*Nostalgias, nostalgias...*

**... Mas ficou pra lá!*

Bjos, Viiiiini :)

Anônimo disse...

oh Vinícius... as vezes o Sérgio me falava de ti, sobre teus textos... e eu achando que ele era exagerado! cada dia este blog me prova o contrário...

Parabéns Mr Fodão!