quarta-feira, 3 de setembro de 2008

NÃO AGUENTO MAIS METALINGUAGEM!

Por Cristiane Senn.

Ok, é legal, dá pra fazer um sem fim de análises legais e brincar com forma x função de uma maneira super tchãnãnã. Mas, porra, chega. Você vai ver um filme, ta lá o fulano discutindo o lindo processo fílmico, vai ler um livro e autor enfia no meio uma filosofia da escrita, vai ao museu e a obra discute o fato de estar no museu. Não que eu não goste disso, pelo contrário, Vertov, Brecht, Duchamp, etc. , tios muito bacanas. Mas, sim, esse ‘etc.’ significa ‘muita gente’. Você, artista contemporâneo, não acha que tá precisando de um pouco de criatividade?

O pior de tudo é que ninguém escapa. Meus primeiros textos do blog eram sobre o ato de escrever, ou mais precisamente blogar. Não tem como evitar. Acredito piamente que a metalinguagem é natural do ser humano, como as sensações, dor, raiva, ódio. Sim, um nervo metalingüístico no cérebro. Deve existir algum remédio pra acalmá-lo. E (medo) um para ativá-lo. Imagine tomar por engano este último? Um ser humano andando na rua retratando e subvertendo todas as formas de andar das pessoas que encontra, enquanto fala sobre o fenômeno da voz, mentaliza “estou pensando, estou pensando...” e espirra com a maior força e perfeição onomatopéica possíveis para que o ato possa ser ao mesmo tempo um simples espirro e um instrumento de reflexão acerca do ato em si. Próximo passo: internação, com tendências a passar o resto da vida fazendo loucas digressões sobre a própria loucura.

Pensando bem, nada de remédios, melhor deixar como está, e que continuem existindo livros sobre livros, filmes sobre filmes, fotografias sobre fotografias, esculturas sobre esculturas, macarronadas sobre macarronadas, pedra sobre pedra. Enquanto isso eu fico aqui, escrevendo sobre escrever e... ufa, achei que não ia sair nada hoje. Complicada essa coisa de escrever, hoje mesmo acordei pensando que a função das palavras é justamente [...].

2 comentários:

Grilo disse...

Gosto muito deste assunto e de como você aborda! Tive amigos que gostavam mais das análises que faziam sobre determinado filme do que do filme em si.

Falando em metalinguagem, acho que este texto (e sua reflexão nele) dá um belo roteiro de filme ou, mais modestamente, um bom tema para criar contos ou um romance com o personagem central sendo este cara metalingüístico. A pessoa que racionaliza todos os seus atos para se tornar ela mesma uma obra de arte. Já pensou em algo assim?

Adriana disse...

[2] no comentário do Grilo.
Cri, seu texto é simplesmente SENSACIONAL.