quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Para os broncos.

De Adriana Hernandes.

Desde que o mundo é mundo a mulher é reverenciada em prosa e poesia por aí de uma forma muito bela, virtuosa etc. O que é justo, aliás, já que realmente somos seres iluminados, superiores e muito modestos também. Mas tudo o que é demais enjoa e, sinceramente, já está na hora de darmos o devido valor a uma espécie que já começa a entrar em extinção e continua sendo tão mal interpretada pelo universo (feminino, diga-se de passagem). OS BRONCOS!

Sim, os broncos. Indivíduos que falam com a boca cheia, usam meias furadas no dedão e acham que a louça da pia é magicamente limpa por alguma espécie leprechaum que aparece á meia-noite.

Vamos dar importância á esses homens!!

Façamos odes á essas criaturas que nunca reparam no que estamos vestindo. Pode ser uma calça Jeans e uma regata branca ou uma fantasia de Carmem Miranda, pra eles não há diferença.

Recitemos versos aos guerreiros Vikings que, munidos de infinita bravura e um chinelo Havaianas, arrasam aqueles demônios que insistem em aparecer em casa nos dias de calor. E com toda a modéstia do mundo ainda dizem: “Mas era só uma baratinha, meu bem”.

Escrevamos sonetos para esses verdadeiros titãs que conseguem abrir potes de palmitos e trocar o resistor do chuveiro com tamanha maestria.

Festejemos com eles mais uma vitória conquistada com sangue, suor e lágrimas no Street Figther ou Mortal Kombat.

Valorizemos seus esforços em aprender a bailar Valsa para tentar nos conduzir em nossas festas de debutantes. Mesmo sabendo que seus movimentos corporais se limitam à dancinha do Robô.

Admiremos a façanha de conseguirem decorar a escalação de times como Veranópolis e Asa de Arapiraca, e não lembrarem o dia do nosso aniversário.

Exaltemos a petulância deles em nos levar aos restaurantes mais polidos, e pedirem, na maior cara de pau, um copo de cerveja preta e uma picanha tão mal passada que ainda se ouve o mugido da vaca a cada garfada.

Apreciemos vossa teimosia em sempre dizer que pátina e drenagem linfática são pura frescura. (Isso, claro, depois de descobrirem o que são pátina e drenagem linfática).

Precisamos enaltecer esses ogros de gestos tão delicados quanto uma betoneira.

Os broncos também amam, gente. Embaixo daqueles peitos cabeludos também bate um coração. E por saber que no fundo, bem lá no fundo, no fundo meeesmo, são dotados de certa doçura, eles terão eternamente o meu carinho e minha admiração!

(Mas se eles pararem de deixar a toalha molhada em cima da cama, acabarem com os campeonatos de arroto e nunca mais coçarem o ouvido com a chave do carro, a gente agradece muito).

3 comentários:

Grilo disse...

Meu pai é um bronco doce e engraçado! Um dia conto os causos aqui de casa em homenagem a ele.

Muito legal o texto, bem original!

Adriana disse...

Eu deveria ter posto uma foto do meu pai pra ilustrar o texto, Grilo, hahahaha. 98% do que está escrito eu devo à ele.
Os outros 2% são pros meus irmãos, hahaha.

Anônimo disse...

eita porra (como diria meu ex-patrão Edison). não é todo dia que identifico com uma descrição assim...