Por Adriana Hernandes.
Saio do trabalho tarde da noite, madrugada já (esses serões ainda me matam) cansado, exausto, pensando somente num banho quente e em me atirar na cama.
Chego ao portão do meu prédio e começo a bater as mãos nos bolsos em busca da minha chave, e o que encontro? Nada.
Bato, rebato e nada dela aparecer. Vasculho a minha pasta como quem procura um tesouro e só encontro os papéis do trabalho, o meu ouro de tolo. Dou uma volta ao redor de mim mesmo, “talvez ela tenha caído” imagino. Mas no meio da minha ciranda lembro que deixei a bendita na mesa da repartição.
Tomado por raiva e impaciência, começo a bater na porta torcendo para que alguém ouça meus apelos. O barulho que ecoa pelo saguão me detém no mesmo instante. Assim como a porta, os moradores que desfrutam do sono dos justos não têm culpa do meu revés.
Penso em ir para a casa de algum amigo, sair à procura de um hotel, me entranhar em algum bar e esperar amanhecer. Mas carrego a expectativa de que alguém do edifício apareça e me abra à porta.
Não quero perder a oportunidade de entrar, já perdi coisas demais por hoje. Resolvo esperar.
Diferente de mim, o tempo não precisa de descanso muito menos de portas abertas para continuar sua função. O relógio já acusa três e meia da manhã e não aparece alma alguma pra me servir de Ali Babá. Nem o porteiro que, desmemoriado como eu, só se lembra de pôr o lixo pra fora por esse horário, nem a morena do quinto andar chegando da estudantina, nem o senhor que sempre assiste à última sessão do cine-teatro, ninguém.
Encosto-me na pilastra ao lado da entrada e me deixo escorregar até o chão. Estaciono lá, sentado, a ver navios, a ver a porta, a não ver ninguém.
Minha esperança recai inteira sobre o feirante do sétimo andar. Seu ofício o obriga a madrugar todos os dias. Mas até ele deve ter tirado sua folga hoje, ou esquecido de dar corda no despertador, traidor.
Permaneço sentado ao lado da entrada, agora pensando em outras portas que teimam em continuar fechadas. Mas a noite é passageira, mais cedo ou mais tarde o “ninguém” dará lugar ao “alguém” e essa porta há de se abrir para mim.
Quisera eu ter a certeza de que todas as portas abrissem assim.
2 comentários:
Bem que eu gostaria, também =[
Acredito q todas elas podem ser abertas ;)
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