Por Adriana Hernandes.
Ainda lembro da sua primeira carta. Você começava se desculpando pelos erros e a falta de tino com as palavras. Mas todos aqueles anseios sobrepostos no papel da minha cor favorita eram tão maiores, qualquer “L” ou “S” fora do lugar não faria diferença alguma. Que minha antiga professora não me ouça, mas sabe que eu até achava um certo charme?
Ainda lembro dos nossos planos espalhafatosos para fugas arrojadas. Era tudo muito fácil. Pegaríamos uma bicicleta e iríamos pra praia. Alugaríamos um conversível e escaparíamos pro Uruguai. Construiríamos um foguete e partiríamos rumo à Lua! “Lua não, é muito perto. Vamos pra Saturno, é bem mais legal”. Eu me perguntava o que faríamos no Uruguai ou em Saturno, mas com o destino traçado, o resto era detalhe.
Lembro das batalhas para impormos nossas preferências, tudo extremamente importante. Que começasse a luta:
2º round: Queimada vs. Futebol. Você nem me dava chance, já ia respondendo: “Queimada não é esporte”. Eu não desistia e retrucava: “A gente joga assim mesmo”. Mas perdia com sua tréplica: “Já viu jogo de queimada na TV? Conhece algum time? Me diz o nome de um jogador? Viu, só? Queimada é brincadeira, não esporte”. Eu ficava sem ter o que dizer, franzia a testa, cerrava os olhos, juntava os lábios, mas dava o braço a torcer, então era ponto pra você. Engraçado que nós nunca tentamos o 3° round, era bem melhor quando os dois saiam vitoriosos.
Mas eu também lembro das tuas tentativas frustradas de me encaminhar pelos trilhos nebulosos da Química. Você aparecia com todos os elementos necessários, do metal mais vil ao gás mais nobre. Não adiantou de nada, da minha parte nunca houve reação.
3 comentários:
Lindo, lindo, lindo!
Excelente o texto. Fantástico
"_______" (ctrl+c ctrl+v no seu comentário no meu post aqui).
Lindo demais mesmo. Qualquer comentário não fará jus...
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