quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Et Coetera.


De Cristiane Senn.


É que títulos em latim sempre deixam o texto mais bonito. Dá impressão de que se é um profundo conhecedor da língua e suas origens. E eu, como sempre, valorizo muito mais a forma do que o conteúdo - vício grave, que não me agrada, e para o qual não existe nenhum grupo de apoio.

É que meu sonho é um dia desses conseguir abstrair os conceitos de forma e/ou conteúdo. Acho a forma muito mais bacana, quando, sob o sol, evapora conteúdo, mas continua sendo forma acima de tudo. E isso não se resume às artes plásticas. Aliás, eu nem sei falar de artes plásticas. Elas provocam sensações, e não sei discorrer sobre sensações. Sou pragmática - vício grave, que não me agrada, e para o qual não existe nenhum grupo de apoio.

É que eu acho que as coisas em geral são muito mais simples do que se pensa. Um bolo de fubá é sempre um bolo de fubá. Mas se ele tiver a forma que o identifica como sendo um bolo de fubá, o conteúdo será apreciado com, pelo menos, mais seriedade. E ainda, se ele subverter a forma tradicional de bolo (e isso tiver algum tipo de propósito), será inclusive tratado com mais respeito. Mas isto foi apenas uma idéia que me ocorreu momentaneamente. No minuto seguinte farei uma parágrafo defendendo a antítese.

É que, pensando bem, as coisas são bem mais complicadas do que a gente costuma acreditar que elas são. Para um chef de cuisine, profundo conhecedor da língua e suas origens - no sentido gastronômico da coisa -, a forma do bolo e o conteúdo do bolo precisam estar em pleno equilíbrio, porque a gastronomia é a arte das sensações visuais e gustativas e sociais e sexuais e intestinais e 'et coetera' e tal. Isso não explica absolutamente nada, mas achei uma frase boa o suficiente para se sobrepor à minha crise criativa.

É que, quando me preocupo com o conteúdo, meu texto assemelha-se ao de uma criança de sete anos. Adoro textos de crianças de sete anos e tenho certeza de que você também, embora nunca paremos para pensar sobre. Mas quando se tem mais de 20, não se pode escrever como uma criança de sete, a não ser que se adote a forma do texto infantil com algum propósito, assim, cheio de conteúdo.

Enfim, 392 palavras depois (acabei de descobrir um recurso de contagem no word), não consigo encontrar um sentido pra nada disso. Mas não me abalo pois, mesmo que o achasse, concordo com Leminski quando diz que "o sentido é a entidade mais misteriosa do universo".

É que quando você não consegue terminar um texto, citação é a salvação.

2 comentários:

Vini Noronha disse...

haha, nunca mais vou comer bolo de fubá sem questionar filosficamente o papel do mesmo em minha vida. cri = humor + indagações existenciais, adorei.

Grilo disse...

Vou olhar o bolo de fubá da minha mãe com muito mais atenção (principalmente quando ele não ficar cru por dentro). No mais, [2] com o Vini!
Parabéns, Cri, bem legal!!